Simpósio internacional questiona ações da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Data: 11/11/2011



Os aterros sanitários defendidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) são uma medida ultrapassada segundo alguns pesquisadores e especialistas participantes do 4º Simpósio Internacional de Tecnologias e Tratamento de Resíduos - Ecos de Veneza, que começou nesta quarta (9) e vai até o dia 11 de novembro, na Casa da Ciência, Rio de Janeiro. Organizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ), o evento apresenta técnicas modernas e promove o debate sobre o gerenciamento de resíduos sólidos.



Entre os temas discutidos figuram biocombustíveis, créditos de carbono de aterros sanitários, aproveitamento energético do lixo, saneamento energético, aproveitamento da biomassa e as inconsistências da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Este último assunto foi apresentado pelo professor Sérgio Guerreiro, da UFRJ. Para ele, a PNRS "foi elaborada por pessoas sem a devida experiência em práticas modernas". "Os debates têm se limitado ao marketing de preferências particulares e interesses políticos onde os enfoques científico e tecnológico não têm prioridade", declarou.



Lançada como "salvação", de acordo com o especialista, a Política deveria pôr no topo de prioridades a redução e a reciclagem, seguidas, nesta ordem, da compostagem anaeróbica, da compostagem aeróbica e da incineração com geração de energia, antes de finalmente recorrer à criação de aterros modernos com captura e uso do metano (CH4) e de aterros modernos com captura e queima de metano, últimas opções antes do lixão a céu aberto. "A PNRS aponta os aterros como a melhor solução, mas somos os únicos no mundo a pensar assim", assegura Guerreiro, que comparou ações no Brasil com o gerenciamento de resíduos na União Europeia e nos Estados Unidos.



Lixões e logística reversa - O também palestrante Claudio Mahler, da Coppe/UFRJ, acrescenta que os aterros quando fechados causam uma série de problemas por muito tempo. "Às vezes mais de cem anos", precisa, lembrando o caso do Shopping Center Norte, em São Paulo, construído em cima de um lixão e onde foi detectado um vazamento de gás metano. "Fazer aterro, por melhor que seja, não é solução, é empurrar o problema para frente", opina.



Mahler também acredita que o desafio determinado pela Lei de Resíduos Sólidos de eliminar os lixões até 2014 "não vai ocorrer mesmo". "Acho que temos que fazer programas mais realistas, estabelecer metas e trabalhar para que sejam cumpridas. Fazer a lei não resolve o problema, a Política Nacional de Resíduos Sólidos é só um passo, teremos lixões em 2014, 2015 e em 2016", ressalta.



Além disso, o professor da Coppe acha difícil que se cumpra a logística reversa, "no sentido de montar um sistema de produção em que o que é resíduo para um é produto para outro". "Se o Governo não começar a incentivar a iniciativa privada a fazer a reciclagem efetiva dos produtos, a gente vai acabar fazendo a separação e destinando os resíduos para os aterros", alerta, lembrando que os catadores não conseguem vender tudo para reciclagem e que parte acaba voltando para o aterro. "Na Alemanha, por exemplo, a indústria automobilística recicla o carro inteiro. Lá eles são obrigados. Poderia haver legislações mais rigorosas em relação à responsabilidade do produtor", sugere.



Jornal da Ciência




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