Perdas no sistema de distribuição desperdiçam metade da água tratada de Natal

Data: 09/12/2008

Perdas no sistema de distribuição desperdiçam metade da água tratada de Natal


Essencial à vida e fundamental para a manutenção da biodiversidade, a água é hoje o centro de debates entre ambientalistas, governistas e organizações internacionais. Antes considerada um recurso renovável, já se sabe que a água será motivo de conflitos internacionais no século 21.

O Brasil é o país mais rico em água no mundo, com 13,7% dos recursos hídricos, mas não tem preservado essa riqueza. Em média 40% da água tratada é perdida no percurso desde a fonte até as residências. Em Natal, o índice de perdas chega a 50%, segundo dados da própria Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). O problema é causado principalmente pela desafagem da atual rede de distribuição.

A perda da água desde a produção (quando retirada das fontes) até o consumo é calculada pela diferença entre a macro-medição (água produzida) e a micro-medição (água consumida). Ou seja, a empresa distribui determinado volume de água, mas a medida do consumo é menor. Em Natal, segundo o diretor técnico da Caern, Isaías Costa Filho, o volume de água produzida é de 2.100 litros por segundo. Desse total, as perdas variam de 45% a 50%.

O engenheiro sanitarista Manoel Lucas Filho, com doutorado em engenharia de recursos hídricos e também diretor do Centro de Tecnologia da UFRN, explica que há uma proporção de perdas inevitável no transporte da água. Mesmo assim o limite ideal é que elas não ultrapassem 20%. E ele alerta que os dados atuais podem estar subestimados, já que as informações vêm das próprias empresas responsáveis pela distribuição.

As perdas são classificadas em físicas e administrativas (ou não-físicas). As primeiras ocorrem quando há vazamentos na rede de distribuição, adutoras ou ramais prediais, ou ainda durante operações de manutenção e limpeza, como lavagem de filtros ou reservatórios. Quando o vazamento é oculto, o desperdício é maior. Por exemplo, se uma tubulação se rompe embaixo de uma camada de asfalto, pode levar meses até que o vazamento seja percebido.

O principal motivo para as perdas físicas da água tratada é a desafagem da atual rede de distribuição. Segundo o diretor técnico da Caern, Isaías Costa Filho, 50% da rede em Natal existe há mais de 35 anos. O material usado na rede antiga é o cimento amianto, que já passou do prazo de garantia. ”O amianto é o nosso grande vilão, responsável por 90% dos vazamentos”, revela Isaías.

Outros fatores podem levar aos vazamentos na rede, como pressão em excesso, quando não há controle eficaz da distribuição de acordo com a demanda. Se numa região, por exemplo, a oferta é maior que a demanda, a pressão da água acumulada pode danificar as tubulações, provocando vazamentos. O engenheiro sanitarista Manoel Lucas explica que no Rio Grande do Norte há um descontrole da operação para controlar oferta e demanda, porque falta tecnologia e conhecimento da rede. ”A nossa operação é muito arcaica. Esse processo de desconhecimento da rede veio caminhando e nunca mudou. Isso leva à má distribuição do produto e ao desperdício”, disse ele.




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