Momento Atual: pontos que o Brasil precisa observar

Data: 16/09/2011

André Cabral de Souza .


A economia mundial vem passando por mudanças consideráveis nos últimos anos, que contradizem vários estudos e projeções realizadas por instituições internacionais. Os fatos comprovam a fase de uma recessão global, acompanhada de crescimento da população, maior demanda por alimentos, mudanças de hábitos de consumo alimentar e maiores preocupações com o meio ambiente (pelo menos nos debates).



Em se tratando de Brasil, verifica-se a abertura de novos mercados ou inversão de posições em alguns que o País já se faz presente. Além da busca de ferramentas que proporcionem uma maior competitividade - via a exploração das vantagens competitivas¹ ( vantagens temporárias ), baseadas em inovação e liderança tecnológica, diferenciação² , experiência acumulada, gestão do conhecimento e economias de escala.



Na verdade, estamos resgatando a análise schumpeteriana, onde a inovação exerce um forte papel no processo de competição capitalista, sendo uma pré-condição para o sucesso produtivo e comercial.³



Ao mesmo tempo, convive-se com situações de sérias mudanças climáticas, as quais impactam negativamente na produção e/ou exploração de alguns produtos e na realização de atividades. Deve-se destacar, ainda, a discussão acirrada quanto à necessidade de ocupação e exploração da Amazônia Azul e a busca de fontes alternativas de energia (frente a escassez da principal commodity da matriz energética - o petróleo).



Certamente, não se pode deixar de lado a importância do fortalecimento do capital privado, que sofre com o poder econômico dos grandes grupos estrangeiros, que inibem o crescimento da participação das empresas nacionais no mercado externo - via aquisições de empresas dentro do Brasil, além das fusões internacionais - e a retomada de uma antiga ferramenta: o protecionismo.



A persistência do protecionismo dos países do primeiro mundo e os novos padrões de concorrência exigirão crescente gerenciamento das cadeias produtivas e uma rastreabilidade dos produtos. Especialistas apontam, ainda, a necessidade no atendimento dos critérios de segurança alimentar ou do alimento.



Esta estratégia das grandes economias vem provocando a oligopolização de mercados e mantendo o Brasil na posição de fornecedor de commodity (ou matéria prima), dificultando a entrada no segmento de produtos com maior valor agregado, fato que precisamos reverter. Principalmente por sermos considerados como uma nação promissora e por estarmos vivenciando a fragilidade de economias mais desenvolvidas, cujos sintomas já começamos a sentir.



Tenhamos sempre em mente, que toda a tecnologia agregada às commodities, como melhoramento genético, técnicas de extração, entre outras, não tem o seu valor reconhecido quando ofertamos nossos produtos ao mercado consumidor final. Isto acontece face à comercialização depender da cotação e das negociações mundiais, onde prevalece a vontade dos mais fortes.



Contraditoriamente, e como complicador, verifica-se que o Brasil, para o crescimento de alguns setores, os quais consideramos estratégicos, depende do fornecimento pelos grandes grupos de alguns insumos básicos4 patenteados. Podemos citar as matrizes genéticas, os defensivos, os fertilizantes e as sementes (muitos dos quais produzidos com matéria prima nacional) os quais tem a agregação de tecnologias reconhecida nos preços que são exercidos para os produtores nacionais.



Outro ponto que merece destaque, diz respeito à necessidade do País buscar novos mercados e manter-se nos que já atua. Isto exige o atendimento de padrões atuais de qualidade e a regularidade da oferta - o que enfatiza a importância da informação, do monitoramento, da adoção de formas e mecanismos limpos de produção e da busca constante de diferenciais, obtidos via CT&I.



Devemos acrescentar aos pontos levantados, a avaliação do Banco Mundial, a qual enfatiza que o desenvolvimento econômico e social faz-se com ajustes fundamentais como a adoção de medidas, dentre as quais o investimento na formação de capital humano. Especialistas brasileiros afirmam que a pesquisa aplicada feita pelas empresas no Brasil, voltada para inovação tecnológica, fragiliza-se com a falta de mão de obra qualificada, principalmente por depararmos com uma quantidade modesta de doutores por mil habitantes.5



Abrindo mais esta discussão, citaríamos que alguns trabalhos identificam que empresas multinacionais apontam que a falta de mão de obra qualificada seria a primeira razão entre as dificuldades para montarem centros tecnológicos no País, sendo seguido do alto custo para se fazer pesquisa no Brasil - fatos que precisamos minimizar.



Resumidamente, diríamos que:



- o Brasil é reconhecido como o grande celeiro do mundo e com potencial para, não só incrementar a oferta dos alimentos já explorados mas, também, fortalecer outras produções que tenham o meio aquático como local de produção;

- somos detentores das maiores reservas hídricas do planeta;

- o mar é um grande patrimônio para o País e que se encontra parcialmente explorado economicamente e com pouco conhecimento técnico e científico;

- as reservas minerais nacionais precisam ser exploradas de forma sustentável e com visão de agregação de valores;

- possuímos, além de reservas de petróleo, potencial para desenvolver e explorar fontes alternativas de energia (eólica, movimento das marés, solar, agroenergia, entre outras );

- as mudanças climáticas associadas aos desastres ecológicos, fazem com que necessitemos de previsões mais precisas em espaços de tempo mais curtos.



Pelas razões expostas, acreditamos ser estratégico para o País o fortalecimento do capital privado nacional, via melhores condições para a busca ou aplicação de ferramentas que façam diferença na competição, como C.T &I. Não se podendo deixar de lado, a importância da modernização ou atualização tecnológica dos centros de formação de recursos humanos - que são as Universidades e as Instituições de Pesquisa - de modo a não deixarmos lacunas no processo.



Referências:

1 a teoria tradicional, baseada nas vantagens comparativas (dotações de recursos e fatores naturais), é absolutamente incapaz de explicar a evolução do comércio internacional

2 Não confundamos diferenciação (que usa métodos para diferenciar produto ou serviço do concorrente) com inovação ( que é introduzir produtos ou serviços exclusivos)

3 Schumpeter já dizia em 1911 estar o capitalismo associado a um processo evolutivo, onde o impulso fundamental que iniciava e mantinha o movimento desta máquina decorria dos novos bens de consumo, métodos de produção, mercados e formas de organização industrial que a empresa capitalista cria. Estes fatores revolucionaram a estrutura econômica, destruindo a velha, criando a nova, ou seja constituindo o que Schumpeter viria a chamar de destruição criadora, que para ele era o aspecto essencial do capitalismo. É neste contexto que a concorrência passaria a ser entendida não como um estado, vinculado ao número de firmas existentes, ao tipo de produto ofertado ou à liberdade de entrada e saída do mercado, mas sim como um processo de disputa de lucros, através de novas mercadorias, tecnologias, modelos organizacionais da indústria, entre outros.

4 Devemos saber que água, treinamento, TI, mão de obra também são insumos básicos.

5 O Brasil tem menos de dois doutores por mil habitantes, contra 15 na Alemanha e 23 na Suíça,



André Cabral de Souza é economista, mestre em Desenvolvimento Agrícola pelo CPDA/UFRRJ e chefe do Departamento de Fomento, Análise e Acompanhamento Técnico 1 da Finep.


Jornal da Ciência


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