Ecologicamente falando do quê_

Data: 09/09/2011

Gabriel F. de A. Dedini


Revolução, ad, evoluçãoaptação ou até mesmo algum outro enquadramento diagnosticado como sendo adequado e oportuno, faz do movimento ecológico uma bandeira empunhada por milhares, e não digo de jovens - já que militantes de outros tempos e de outras causas sociais mais antigas também abraçam o verde de hoje.



O verde que saiu do meio rural, hoje frequenta universidades, transita pela política, é tema de palestras, de eventos, gera empregos, publicidade, impressiona a namorada, molda novos estilos de vida - sim! Ele já caminha tranquilo pela metrópole mais cinza, vai do cinema ao supermercado, sempre com sua bicicleta ou, algumas vezes, usando até mesmo seu carro importado.



Agora o verde, antes apenas uma cor, virou causa, há quem diga que já desbancou Freud nos assuntos de bares e botecos universitários das grandes cidades. O movimento institucionalizou-se ficando assim, mais organizado. Surgiram os ícones, a bibliografia, firmaram-se novas parcerias, e tudo vem sendo replicado em escala, analogicamente como a máquina que passa pela linha de produção onde um indivíduo aperta o parafuso, outro instala o motor, importa-se uma peça para ajustar a lataria, outra vem por indicação da casa e tudo vai ganhando corpo - lindo assim, como uma Quimera.



O contexto no discurso do movimento ecológico vem sendo sempre relativo por parte de quem fala e sempre distorcido por parte de quem ouve e depois fala, deixando a máquina (que já é toda "diferentona") um tanto quanto descompassada. Mas não tem porquê se preocupar com tal descompasso, pois o modismo vem com todo aval dos mais despreparados comandantes para então aparar a rebarba que surge no caminhar.



E, se no percurso o acaso fizer a máquina sair do trilho, a rota é recalculada e criam-se novas estradas para que se possa prosseguir adiante dizendo que é necessário ganhar novos rumos. Faz-me lembrar as histórias das cruzadas e guerras santas, que no fundo eram apenas estratégias. Claro que é importante conseguir adesão de colaboradores da causa, desde que não seja tratorando a essência do movimento, não se pode vender a alma pela necessidade de se avançar na batalha.



Gabriel F. de A. Dedini é engenheiro Agrônomo e mestrando em Agroecologia e Desenvolvimento Rural na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).


Jornal da Ciência


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