Embrapii já conta com orçamento de R$ 90 milhões para fase piloto

Data: 09/09/2011
A recém-criada Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) já conseguiu um consenso positivo entre o governo, a indústria e os institutos de pesquisa.


Com estrutura enxuta e prevista para ter uma governança predominantemente privada, a empresa já conta com orçamento de R$ 90 milhões para os 18 meses em que vai durar a fase piloto - sendo R$ 30 milhões em 2011 e R$ 60 milhões no próximo ano. Os recursos serão divididos entre os três institutos selecionados para a fase inicial: o Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai-Cimatec), que receberão este ano R$ 10 milhões cada.



Segundo o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, a Embrapii segue duas referências. A primeira é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que foi decisiva para o desenvolvimento da inovação e da produtividade da agricultura brasileira. A outra é a Fundação Fraunhofer da Alemanha que ele classifica como o modelo mais exitoso do ocidente de incentivo a inovação.



Os institutos que irão compor a rede de inovação da Embrapii vão receber recursos adicionais por meio de um contrato de gestão e serão avaliados. Um dos indicadores será a carteira de clientes que eles vão trazer. "A demanda é que vai indicar se eles estão dando resultados. Só repassaremos recursos a partir da demanda e da contrapartida privada", anuncia o ministro.



A Fundação Fraunhofer é uma organização alemã de pesquisa, que conta com 58 institutos espalhados por toda a Alemanha, cada um deles tendo seu foco em um campo diferente da ciência aplicada. Emprega mais de 12.500 pessoas, principalmente cientistas e engenheiros, e tem um orçamento anual de pesquisa de cerca de € 1,8 bilhão.



Os governos federal e estaduais entram com um terço do financiamento e os outros dois terços são adquiridos por meio de contratos de trabalho. E é este modelo tripartite que será replicado no Brasil por meio da Embrapii.



Para o presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Carlos Calmanovici, a indústria brasileira está preparada para essa contrapartida.



"Se é um bom projeto, ele agora vai custar um terço do que custaria se a empresa fosse desenvolver a inovação sozinha. E, por ter uma contrapartida financeira, este modelo estimula uma melhor seleção de projetos. Além disso, o apoio à fase de escalonamento era uma demanda da indústria, pois ainda é uma fase em que os riscos da inovação são muito altos e o investimento exigido é muito grande, o que faz com que só vão a frente os projetos que sejam muito robustos. Na medida em que o governo oferece instrumentos que reduzem o risco, as empresas poderão ousar mais", prevê Calmanovici.



Já foram realizadas duas reuniões do grupo de trabalho que formaliza o piloto para instalação da empresa. Ela deve iniciar suas atividades até o final do ano e ser formalmente constituída no modelo definitivo até o fim de 2012.



O grupo é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e da Inovação (Setec/MCTI). Segundo o secretário Ronaldo Mota, o piloto vai servir para se ajustar o modelo e ampliar o projeto sem prejuízo da qualidade.



"O Brasil vive hoje uma explosão da demanda por inovação", afirma Mota. Em 2006 foram 130 empresas beneficiadas pela Lei do Bem e, no ano passado, o número saltou para 875. Para ele, as agências federais e estaduais de fomento não darão conta desta demanda. "A ideia da Embrapii é que o contrato seja feito com o instituto de pesquisa que terá autonomia para gerir os recursos, num modelo descentralizado e capilarizado, típico do mundo da inovação, e que as agências centralizadas não têm condições de atender no timing da indústria", distingue Mota.



Ele acrescenta que apesar da autonomia, os institutos serão avaliados por indicadores de desempenho. "A ideia é que um dos avaliadores seja o próprio Fraunhofer", sinaliza.



Seguindo o modelo alemão os institutos brasileiros foram selecionados por áreas de competência. O IPT vai focar na área de bionanotecnologia e está investindo R$ 50 milhões no Centro de Bionanomanufatura. Segundo João Fernando Gomes de Oliveira, presidente do instituto, o IPT tem vários projetos e potenciais clientes. Com o reforço de financiamento vai atrair mais empresas. "O IPT é uma empresa que precisa vender projetos de pesquisa e inovação. Ao ingressarmos no sistema operacional da Embrapii vamos atuar com projetos de empresas que tenham business plan. Também teremos que demonstrar o valor do projeto com indicadores e metas. O principal indicador é quanto conseguiremos captar, o que mostra quanto a empresa está disposta a pagar pela inovação", define Oliveira.



Já o foco do Senai-Cimatec é a área de processos e automação. O instituto tem grande experiência no atendimento à indústria de processo do polo industrial da Bahia, mas a ideia é atuar nacionalmente. O instituto conta com 25 doutores e diversos laboratórios especializados. "Temos competência nesta área e no gerenciamento do ciclo de vida dos produtos. A indústria nacional já avançou no quesito qualidade e agora enxerga que a grande fronteira é a inovação", diz Leone Peter, diretor do Senai Bahia.



O INT por sua vez vai atuar na área do complexo de petróleo e gás. Segundo Domingos Manfredi Naveiro, diretor do instituto, na exploração do pré-sal há vários gargalos tecnológicos. As empresas que têm interesse em desenvolver novos produtos e materiais poderão agora ter apoio. "Algumas empresas estão com necessidade de construção de plantas piloto e a Embrapii vai permitir aportar investimentos nestas plantas", prevê.

(Valor Econômico)





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