Geoengenharia volta a ser proposta para lidar com clima

Data: 02/09/2011
Imagine utilizar um balão de hélio para ajudar a mitigar as mudanças climáticas. Isso pode até parecer uma ideia digna de Júlio Verne e de filmes de ficção científica, mas é exatamente o que querem fazer estudiosos britânicos, com o objetivo de refletir parte dos raios solares que aquecem a Terra. Porém, o excêntrico projeto, que já tem a oposição de alguns grupos ambientalistas, ainda deverá ser muito discutido e testado antes de chegar ao mundo real.

A ideia dos pesquisadores do Reino Unido é criar um mecanismo de geoengenharia – processo de intervenção humana no clima planejada por meio de tecnologia – que bombeie partículas químicas refletoras até a estratosfera, fazendo com que estas impeçam os raios solares de chegarem até a Terra e aquecerem a atmosfera.

Anteriormente, os cientistas haviam considerado outros meios de enviar os fragmentos até a estratosfera como chaminés altas, aviões e até mísseis, mas concluíram que um balão seria uma alternativa mais simples e barata.

O projeto funciona como uma espécie de vulcão artificial, já que as partículas são bombeadas do solo até o balão estratosférico por uma mangueira. Além de a estrutura ser similar à de um vulcão, os fragmentos enviados à estratosfera também cumprem um papel semelhante às partículas que são expelidas de um vulcão, já que conseguem bloquear parte dos raios solares que chegam à Terra.

Todas as estruturas terão que ter medidas gigantescas a fim de desempenharem suas funções. “O peso total desse balão será de algumas centenas de toneladas. Esse é o peso de muitos ônibus de dois andares. Então imagine quão grande é o balão de hélio necessário para manter muitos ônibus de dois andares – será um grande balão”, explicou Hugh Hunt, professor de engenharia de Oxford, em uma entrevista no início do ano.

“Estamos falando de um balão que possivelmente terá 100-200 metros de diâmetro. É mais ou menos do mesmo tamanho do estádio de Wembley. A mangueira seria como uma mangueira de jardim, com 20 quilômetros de comprimento, e bombearemos partículas pelo tubo. Uma coisa boa dessa tecnologia é que podemos colocar uma válvula, com a qual podemos controlar ou ajustar o ritmo com que injetamos essas partículas”, acrescentou Hunt.

Antes de aplicar o experimento, ele será testado em uma escala menor a uma altura de um quilômetro para ver se a dispersão de partículas realmente funciona. “Testaremos apenas com água pura, em uma quantidade suficiente para testar a experiência. Muito mais pesquisa é necessária”, declarou Matthew Watson, ex-conselheiro científico do Reino Unido para emergências e professor da Universidade de Bristol.

Essa não é a primeira proposta de geoengenharia considerada para reduzir as mudanças climáticas. Em junho, o jornal The Guardian teve acesso a documentos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) que revelavam outras opções para lidar com o aquecimento global.

“Há dois tipos de geoengenharia, um é o tipo da gestão de radiação solar, e outro é a remoção de carbono – retirar o carbono da atmosfera e armazená-lo em algum lugar, talvez no subsolo”, esclareceu Mike Childs, diretor de ciência, política e pesquisa da Fundação Amigos da Terra Reino Unido.

Entre as propostas avaliadas estavam: depositar grandes quantidades de ferro nos oceanos para o crescimento de algas que absorvam o CO2; realizar a bioengenharia de culturas agrícolas para que tenham uma cor que reflita os raios solares; suprimir a formação de nuvens que agem acentuando o efeito estufa; enviar espelhos gigantes para a órbita da Terra para que estes reflitam a luz solar; criar árvores artificiais que absorvam mais CO2 que as naturais; capturar e armazenar CO2 no subsolo; e bombear partículas refletoras para a estratosfera.

Críticas e oposição

Apesar do projeto do ‘vulcão artificial’ ainda estar em fase de testes, a ideia já ganhou alguns opositores, principalmente entre grupos ambientais. As entidades alegam que a alternativa pode ser prejudicial, já que não se sabe que efeitos terá.

“O problema é que não sabemos realmente o que poderia acontecer e os sistemas meteorológicos são incrivelmente complexos. Não entendemos o suficiente sobre as mudanças no clima para saber qual impacto isso teria em outras partes do mundo”, atentou Childs.

Além disso, o diretor da ONG Amigos da Terra Reino Unido lembrou que essa alternativa pode até bloquear o efeito do aquecimento global, mas não acaba com os outros problemas causados pela liberação excessiva de carbono na atmosfera. “Mesmo se isso pudesse funcionar, não seria como uma varinha de condão. Isso não resolveria os problemas do carbono que levam à acidificação dos nossos mares”.

“Isso é um grande desperdício de tempo e dinheiro e mostra que o governo do Reino Unido desconsidera os processos da ONU. Esse é o primeiro passo para preparar o equipamento para injetar partículas na estratosfera. O governo não tem outra proposta e essa não deveria ser autorizada a ir em frente”, contrapôs Pat Mooney, presidente do Grupo ETC no Canadá.

Mas os ambientalistas não negam que a tecnologia seja uma importante arma contra as mudanças climáticas, nem descartam que ela possa ser utilizada para desenvolver novos meios de mitigar o aquecimento global. “Nós nos metemos em um buraco, e o buraco está ficando maior… mas a tecnologia tem se aperfeiçoado, então temos outras opções a considerar, seja por árvores artificiais ou outros meios”, afirmou Childs.

“Nada deveria nos desviar da principal prioridade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs). Mas se tais reduções forem poucas e tardias, certamente haverá pressão para considerar um ‘plano B’ – procurar meios de neutralizar os efeitos climáticos das emissões de gases do efeito estufa com a geoengenharia”, justificou Sir Martin Rees, ex-presidente da Sociedade Real na Universidade de Cambridge.

No entanto, eles deixam claro que não apóiam a atual opção, preferindo alternativas que capturem e armazenem o carbono. “Estamos em uma situação agora na qual temos que considerar seriamente a opção da remoção de carbono, mas não apoiamos a gestão da radiação solar”, enfatizou Childs.

“Vamos ter que considerar novas tecnologias que possam absorver CO2 do ar. Mas o que não precisamos fazer é investir em esquemas irresponsáveis para refletir a luz do sol para o espaço, quando não temos nenhuma ideia de qual impacto isso possa ter nos sistemas meteorológicos em todo o mundo”, concluiu ele.

(Instituto CarbonoBrasil)




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