Rio+20: o novo ou o velho jeito de fazer negócios

Data: 12/08/2011

Amália Safatle (*)

Datas servem para, ao menos, provocar balanços e avaliações. Os vinte anos a contar da Rio-92 – a realizar-se em junho de 2012 – não fogem à regra, pois darão a oportunidade de avaliar o que, de fato, se construiu a partir daquela aspiração que reuniu líderes mundiais em busca de uma nova agenda de desenvolvimento e que resultou na Agenda 21, convenções (do Clima e da Biodiversidade) e declarações de princípios.

O que andou de lá pra cá? As mudanças em formas de produzir e consumir foram efetivas?

“Uma avaliação honesta sugere que, embora avanços tenham sido feitos e as inovações tenham ocorrido, temos fracassado com frequência em consolidar novas estruturas de macro-política que representem verdadeiramente uma mudança nos negócios”, afirma Leisa Perch, especialista em políticas públicas e coordenadora da área de Desenvolvimento Rural e Sustentável do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por meio de artigo recente, intitulado “O que se quer com a economia verde?”.

Contra fatos, não há argumentos: segundo o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma), os danos ambientais foram estimados em US$ 6,6 trilhões somente em 2008, enquanto a Agência Internacional de Energia indica que as emissões de gás carbônico em 2010 foram as maiores já registradas.

Diante disso, é de se perguntar se o que muita gente chama de sustentabilidade não passa de uma maneira de sustentar o business as usual (o mesmo jeito de fazer negócios de sempre), mas com uma boa camada de tinta verde por fora, de forma a aumentar sua aceitação.

Apropriar-se do que vem provocar mudanças, reempacotá-lo conforme a conveniência e usá-lo não para mudar, para fortalecer o status quo, é a maneira de o sistema dominante perpetuar-se no comando da situação. Ou seja, de sustentar seu status quo.

“No próximo ano, a Conferência Rio +20 não pode ser business as usual”, diz Leisa. (O encontro terá dois eixos temáticos: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e o arcabouço institucional para o desenvolvimento sustentável.)

Assim como Leisa, tem muita gente preocupada com o risco de a chamada economia verde não se prestar aos objetivos para os quais foi pensada: não só mais limpa e de baixo carbono, mas inclusiva socialmente e emancipadora das classes desfavorecidas.

Para se ter ideia de que como mudanças efetivas dependem sobretudo de mudanças de valores, basta pegar um exemplo: o do efeito ricochete. Em poucas palavras, é o fenômeno pelo qual o dinheiro poupado com o uso de uma tecnologia mais eficiente acaba sendo usado em outra oportunidade de consumo – fazendo com que as emissões de carbono não caiam, como de fato não caíram.

Assim, uma família que economizou dinheiro trocando lâmpadas incandescentes pelas econômicas usa essa poupança para comprar produtos que não podia comprar antes, mantendo o nível de emissões de carbono. Exemplos como este aplicam-se a tudo.

Como mostra reportagem na edição de agosto da Revista Página22 (fgv.br/ces/pagina22), o efeito ricochete indica que não basta buscar a eficiência, ela tem de vir acompanhada de um debate sobre o consumo. Somente a eficiência energética e o avanço tecnológico não resolverá o problema climático nem tornará a economia de fato verde.

Como o capitalismo fará para ser verde – uma vez que sua força motriz é o crescimento contínuo em um mundo de recursos finitos – é uma grande incógnita. Ou se reforma profundamente essa lógica, ou essa lógica quebrará todos nós.

Esse é um debate que deve ser encarado corajosamente antes, durante e depois da Rio+20.

(*)Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

(Terra Magazine)




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