Carbono demonstra fragilidade em meio a crise

Data: 11/08/2011
Na última sexta-feira, pela sétima sessão seguida, as permissões de emissão da União Européia (EUAs, em inglês) tiveram seus preços reduzidos, caindo 5% ao longo do dia para € 10,65. Desde o inicio de julho, as EUAs tiveram seu valor reduzido em 30%. A figura seguinte demonstra a dinâmica dos preços desde junho de 2009 e a queda acentuada iniciada em junho de 2011.

Com as Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) não poderia ser diferente e elas caíram 7% para € 7,4, sofrendo também com o peso da oferta crescente devido a emissão cada vez maior de unidades pelo Comitê Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Figura abaixo). Na pior baixa até agora, as RCEs tinham alcançado € 7,15.

Em relação à semana de 25 a 29 de julho, as RCEs para entrega em 2011 e 2012 caíram 18% no fechamento da sessão de sexta-feira (5) em meio a oferta demasiada e demanda limitada. Mais de 9,2 milhões de RCEs foram expedidas na semana passada, enquanto análises da Point Carbon demonstram que 36 milhões de créditos podem ser emitidos durante agosto.

A oferta de créditos sob a Implementação Conjunta, outro mecanismo de flexibilização sob o Protocolo de Quioto, que envolve países do leste europeu, também está crescendo mais do que o esperado com a aceleração na aprovação de projetos na Rússia.

O valor atual está perto do preço de custo das RCEs em países em desenvolvimento, esmagando as margens de lucro de desenvolvedores de projetos. As ações da Camco, uma das maiores empresas do setor, caíram quase 40% ao longo do mês passado.

“Isto é mais do que apenas um excesso de (créditos de) carbono, é uma revolta geral para as commodities. O Petróleo caiu mais de US$ 5 o barril na noite passada e todo o complexo de commodities está sob pressão” alertou o analista da OMFinancial Nigel Brunel na quinta-feira passada (04).

Como os analistas do mercado já vêm comentando há algumas semanas, o mercado de créditos de carbono é extremamente interdependente do estado geral da economia global.

Portanto, com os sinais de fragilidade do cenário fiscal em grandes economias européias, como Espanha e Itália, se somando aos temores em relação ao futuro do euro, à questão da divida pública dos Estados Unidos e ainda às quedas generalizadas nos mercados de commodities, o carbono segue o fluxo.

Foi exatamente o que aconteceu em 2008/2009, quando o mercado reagiu a crise econômica. A produção industrial caiu, menos energia foi consumida e conseqüentemente as emissões de gases do efeito estufa caíram. Assim ficou mais fácil para as indústrias e usinas de energia cumprirem suas metas sob o esquema europeu de comércio de emissões, e a demanda por compensações de emissão (como as RCEs) diminuiu.

“No geral, podemos dizer que o preço do carbono respondeu exatamente como deveria”, comentou Emme Herd do Banco Westpac ao portal australiano Climate Spectator.

Previsões

Matthew Gray, analista da IDEACarbon prevê um panorama “muito fraco” para o terceiro trimestre de 2011, especialmente pela ausência dos maiores compradores do mercado europeu, as usinas de energia, que ainda não começaram a definir suas posições para a terceira fase do mercado europeu (após 2013).

“Esperamos uma retomada em 2012, quando as usinas começarem a entrar no mercado para cobrir suas obrigações da terceira fase”, completou Gray.

Análises da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) demonstraram a maior dificuldade dos preços do carbono se recuperarem em meio a sinais positivos da economia do que outras commodities.

“Pode ser preciso mais do que uma recuperação a curto prazo nos mercados globais de equities para a reversão da tendência negativa nos preços das permissões européias” , disse a BNEF.

Isto pode ser resultado das próprias mazelas inerentes ao mercado de carbono europeu, como o excesso de permissões disponíveis ao menos até 2017 e as recentes fraudes que revelaram brechas regulatórias no esquema.

“Parece que iremos para baixo, e não devido aos fundamentos do carbono, mas sim pelos problemas da economia global, sendo que o desta vez o arsenal dos Bancos Centrais tem muito menos ferramentas para tomar ações efetivas”, lamentou Brunel da OMFinancial.

(Insitituto CarbonoBrasil)




< voltar