Emissão de gases-estufa deve subir no País, mesmo com população em queda

Data: 29/07/2011

A emissão de gases-estufa do País, contudo, corre o risco de aumentar. A razão disso é a mudança no perfil dos brasileiros e de seus hábitos. A tendência é que o crescimento da população continue a ocorrer nos centros urbanos - e pessoas que vivem em cidades têm hábitos de consumo que provocam mais emissão de gases-estufa do que as populações rurais. A mudança do perfil etário, com os brasileiros envelhecendo e tendo menos filhos, complica o quadro. "Um adulto emite muito mais do que uma criança", afirma o pesquisador Ricardo Ojima, coordenador pela Unicamp do Núcleo de Pesquisas de Redes na área de mudanças climáticas e urbanização. Ou seja, a população brasileira tende a envelhecer, consumir mais e produzir menos. Essa combinação significa risco de emitir mais gases-estufa.



Entre 1950 e 1980, cerca de 60% do aumento de emissões no mundo vieram de países que contribuíram com apenas 12% do crescimento populacional, disse Ojima, durante palestra em São Paulo. "Países da África, por exemplo, têm população grande, mas consomem muito menos que os desenvolvidos", disse. "Isso muda, se entrarem no mercado, claro."



O setor de seguros tem observado de perto o que dizem os estudiosos em mudança climática. Apenas um furacão, o Karl, da temporada de 2010 no Atlântico Norte, provocou prejuízos de US$ 5,6 bilhões. A estação de furacões poderá ser acima da média em 2011. O Centro Nacional de Furacões, no Atlântico Norte, prevê entre 12 e 18 tempestades fortes e 6 a 10 furacões, metade deles considerados de grande porte.

A estação de tornados nos EUA, em 2011, provocou 523 mortes, a mais grave da história. As perdas estimadas, em abril, somam US$ 10 bilhões e as de maio, entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões.



O terremoto e o tsunami no Japão, embora sejam fenômenos naturais que não têm a ver com a mudança do clima, causaram mais de 20 mil mortes e desaparecimentos, e perdas econômicas que superam US$ 350 bilhões. "É o desastre natural mais caro do mundo", observou John Arpel, presidente da Allianz Risk Transfer Holanda, um especialista na área de gerenciamento de riscos.



Com a mudança do clima, o setor sofistica a sua atuação. Arpel conta que investidores na Alemanha, na França e na Itália já procuram seguros para falta de vento nas turbinas eólicas e pouco sol para as placas fotovoltaicas que produzem energia solar.

O pesquisador brasileiro alertou para a urgência de políticas públicas no país que facilitem a adaptação às novas condições impostas pela mudança do clima. Fazendo uma brincadeira com a plateia, Ojima pediu que todos cruzassem os braços. Depois, pediu aos que colocam o direito sobre o esquerdo, que trocassem a ordem, sugerindo o mesmo aos outros.



"Fica um pouco desconfortável, mas é possível", continuou. "Adaptação à mudança do clima é isso", prosseguiu. "Temos que nos antecipar aos fenômenos, procurar mecanismos de adaptação que sejam pró-ativos e não apenas emergenciais", recomendou. "Sustentabilidade é uma utopia. Trata-se de uma busca constante que devemos ter."

(Valor Econômico)





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