Computação e energia

Data: 27/07/2011

Emilio Godoy, do IPS

O uso de tecnologia no planejamento energético não apenas pode contribuir para desenvolver fontes renováveis como também indicar a passagem para uma economia verde. O Sistema de Planejamento de Alternativas Energéticas de Longo Prazo (Leap) é uma ferramenta informática muito empregada para analisar a política energética e avaliar a mitigação da mudança climática, desenvolvida pela não governamental Stockholm Environment Institute (SEI).

“É uma ferramenta sofisticada, e ao mesmo tempo amigável e funcional. Por exemplo, um governo tem uma pergunta específica, como a pegada climática de um gerador, e recebe respostas rápidas a uma série de questões, com a localização, a capacidade, as opções de recursos a usar”, explicou ao Terramérica o responsável pelo desenvolvimento do Leap, Charles Heaps, diretor do escritório norte-americano do SEI. Distribuído gratuitamente a governos, academias e organizações não governamentais do mundo em desenvolvimento, o Leap tem centenas de usuários, incluindo consultorias e geradoras elétricas, em mais de 150 países.

A ferramenta está se convertendo, de fato, em padrão para países que adotam um planejamento integrado dos recursos energéticos e de seu impacto na liberação de gases que levam ao aquecimento global. Mais de 85 nações a escolheram para elaborar suas comunicações nacionais perante o Convênio Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática. O Software de Análises de Projetos de Energia Limpa, RETScreen, foi criado em 1996 pela Natural Resources Canada – um órgão do governo canadense – e pode ser usado para avaliar a geração de energia, economia, custos, redução de emissões, viabilidade financeira e risco para vários tipos de tecnologias renováveis e de eficiência.

O RETScreen “pode ser usado para eliminar as barreiras associadas frequentemente com projetos de energia limpa”, disse ao Terramérica o engenheiro de projeto Kevin Bourque. “O programa permite, por si mesmo, uma análise rápida da viabilidade desses projetos, devido às ferramentas dos tomadores de decisão para avaliar opções múltiplas e focarem-se nas mais viáveis”, acrescentou. O informe de 2009, “México: Estudo sobre a Redução de Emissões de Carbono”, patrocinado pelo Banco Mundial, se baseou no Leap, bem como o relatório “Consumo de Energia e Emissões de Gases-Estufa no Chile 2007-2030 e Opções de Mitigação”, elaborado em 2009 pelo Programa de Gestão e Economia Ambiental, da estatal Universidade do Chile.

O Ministério de Recursos Naturais e Ambientais de Honduras recorreu ao Leap para construir a prospectiva energética até 2030. O RETScreen contém bases de dados de produtos, projetos, hidrologia e clima, e acumula mais de 300 mil usuários em 222 países e territórios, com mil novos a cada semana. É utilizado em 300 universidades, entre elas 19 latino-americanas, e está disponível em 36 idiomas. Em 2010, o México somava 2.661 usuários, convertendo-se no décimo país entre os mais populares em termos de uso.

Um exemplo é o de quatro estudantes da Humboldt State University, nos Estados Unidos, que empregaram o programa para analisar a viabilidade de construir uma minicentral hidrelétrica em uma comunidade próxima da cidade de San Cristóbal de las Casas, no Estado mexicano de Chiapas. Para o planejamento de longo prazo, a estatal Comissão Federal de Eletricidade emprega o modelo Markal (do inglês market allocation, alocação de mercado), uma ferramenta de análise desenvolvida pela Agência Internacional de energia.

Contudo, no México está quase tudo por fazer nessa área: 93% da energia gerada se baseia no consumo de combustíveis fósseis e o restante provém do vento, da luz solar, do vapor, da água e de exploração nuclear. Este país lança na atmosfera 709 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um dos gases que provocam o aquecimento do planeta, segundo o Ministério do Meio Ambiente. A maioria das emanações tem origem na geração e no consumo de energia.

Estes instrumentos podem servir de suporte para a economia verde, atividades de criação de riqueza que servem ao bem-estar humano sem prejudicar o meio ambiente, que no México, segundo a organização ecologista Greenpeace, poderia gerar 500 mil empregos. “Os modelos podem ajudar a construir a credibilidade de estratégias alternativas para a energia. O ponto parece ser a economia da mudança climática, quanto custam as opções e como podem ser financiadas”, disse Heaps.

O Leap, por exemplo, serve para medir o consumo e a produção de energia, bem como a extração de recursos em todos os setores econômicos. O RETScrenn International desenvolve um programa de administração energética com a Aliança para a Energia Renovável e a Eficiência Energética e o Centro de Pesquisa Langley da Nasa (agência espacial norte-americana).

Por sua vez, o SEI prepara um modelo sobre a energia global e o clima em cerca de 15 regiões no mundo, cujo objetivo é explorar as implicações de avançar para uma economia verde e as medidas possíveis de mitigação, que apresentará na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), prevista para junho de 2012 no Brasil.

(IPS/Envolverde)




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