Vazamento de óleo chega em 60 horas a praias do Rio

Data: 18/07/2011
As praias da turística Região dos Lagos do Estado do Rio seriam atingidas em 60 horas pelo óleo cru derramado ao mar no rompimento do casco de um navio-plataforma em operação a 60 km do litoral, no campo de Marlim Sul, bacia petrolífera de Campos.

Com base no software empregado pela Guarda Costeira dos Estados Unidos no combate ao desastre do Golfo do México em 2010, a simulação inédita, do Centro de Simulação Aquaviária (CSA) do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante, emprega as características de vento, corrente marinha, ondas e condições climáticas preponderantes a maior parte do ano na região costeira fluminense.

A simulação mostra que, se vazarem 300 milhões de litros de óleo da embarcação (quase a capacidade máxima das plataformas modelo FPSO que operam na bacia), a mancha, impulsionada pela corrente sentido nordeste/sudoeste e por ventos de 15 nós (típicos da costa brasileira no Sudeste), seguirá diretamente para Armação dos Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo, as cidades mais bonitas daquele trecho do litoral do Estado do Rio.

Em situação de tempestade, o óleo pode chegar ainda mais rápido caso fracasse a contenção, explica Diego Tavares, coordenador do CSA e oficial da Marinha Mercante. Neste caso, o vento soprará a uma velocidade maior -15 nós representa cerca de 27,5 km/h.

A simulação foi realizada em função do vazamento gigante após a explosão de uma plataforma operada no Golfo do México pela petroleira BP, em 20 de abril do ano passado, a 240 km da orla americana.

Foi o maior desastre já registrado na indústria petrolífera. Onze trabalhadores morreram e os prejuízos ambientais, físicos, empresariais e securitários até hoje ainda não foram totalmente avaliados. O óleo vazou no mar por 87 dias.

A BP registrou em 2010 prejuízo contábil de US$ 3,7 bilhões, o primeiro desde 1992. Um ano antes, seu lucro fora de US$ 16,6 bilhões. Só em indenizações, a petroleira pagou, até agora, pelo menos US$ 368 milhões pelos prejuízos causados.

Uma tampa de cimento fechou permanentemente o poço da BP cinco meses depois que explosão afundou a sonda perfuradora.

O vazamento foi contido em meados de julho do ano passado depois que uma tampa temporária foi colocada com sucesso sobre o poço. Lama e cimento foram colocados sobre o poço mais tarde, permitindo a retirada da tampa temporária.

Simulador. O CSA tem um dos mais modernos sistemas de simulação do mundo. Seus clientes são a Petrobrás, as grandes petroleiras privadas, os terminais portuários e a mineradora Vale, entre outros. Só para a Vale o centro fez 40 simulações no terminal de Itaqui (MA), que consideraram variáveis climáticas (correntes, vento e topografia) para indicar, por exemplo, o rumo da mancha em caso de vazamentos.

Recentemente, o CSA deu parecer contrário ao uso do porto de Suape, em Pernambuco, como escoadouro da produção de gás liquefeito pela Petrobrás. A justificativa para o veto é a de que o porto não oferece segurança para a atracação apropriada ao transporte da carga.

Como opção, a estatal apresentou um segundo plano, transferindo o terminal pernambucano para a Baía de Todos os Santos (Bahia). O projeto ainda está em análise pelo CSA.

A função do CSA é certificar procedimentos de segurança em instalações portuárias e qualificar tripulações de todos os tipos de embarcação, até mesmo plataformas.

O desastre no golfo do México fez a indústria do petróleo rever planos de segurança e emergência. O Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) mandou especialistas ao local do acidente para verificar as providências tomadas.

Direção da mancha. Na Bacia de Campos operam cerca de 90 plataformas, divididas quase que meio a meio entre a Petrobrás e as companhias internacionais.

O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, disse que seriam revistos os procedimentos preventivos, analisados os equipamentos disponíveis e reforçados os mecanismos de acompanhamento dos trabalhos de exploração.

A simulação não visou mostrar uma possível vulnerabilidade da indústria petrolífera em conter um grande vazamento na Bacia de Campos.

Ela apenas indica a direção da mancha que se formaria.

Como evitar. Para estudar formas de evitar o desastre e, se ele vier a acontecer, combater a propagação do óleo, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com a Marinha, o governo do Estado do Rio de Janeiro e a Petrobrás, entre outros, criou cinco grupos de trabalho em maio de 2010.

A incumbência das equipes seria definir estratégias de prevenção, mapear os riscos em plataformas, elaborar um plano nacional de contingência e regulamentar o uso de novas tecnologias no combate a vazamentos. Suas conclusões ainda não foram divulgadas.

O Estado de S. Paulo


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