País tem dificuldade em desenvolver pesquisa científica que leve a mudanças sociais efetivas
Não se pode negar que o Brasil tem crescido muito em produção de conhecimento. Cada vez mais pesquisas nacionais aparecem em publicações internacionais, e a área de saúde se destaca como um campo frutífero à produção científica. Mas esse crescimento em produção teórica e em pesquisas de qualidade ainda não conseguiu ser transformado em mudanças que estimulem o desenvolvimento econômico e social do país. É esta a avaliação do ex-vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz e atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, apresentada durante o plenário intitulado The Challenge: Healthcare Systems Sustainability in the 21th Century, ocorrido nesta segunda-feira (27/6), no Rio de Janeiro.
O evento faz parte da Conferência HTAi 2011, iniciativa da Health Techonology Assessment International (HTAi) juntamente com o Ministério da Saúde, a Fiocruz e outros centros, cujo objetivo este ano é discutir como a avaliação de tecnologias em saúde (ATS) qualificada pelo Ministério da Saúde como um processo de investigação das consequências clínicas, econômicas e sociais da utilização das tecnologias em saúde pode contribuir para criação de sistemas de saúde que respeitem princípios da sustentabilidade. Da mesa redonda deste primeiro dia da conferência, participaram também Andy Haines (London School of Hygiene & Tropical Medicine), Alice Granados (Genzyme/Espanha), José Carvalho de Noronha (Fiocruz) e Adriana Velazquez (OMS), com coordenação de Reinaldo Guimarães (ex-secretário do Ministério da Saúde).
Os palestrantes se dedicaram a destrinchar o atual cenário dos sistemas de saúde, seja no âmbito nacional ou internacional. Em relação ao Brasil, Carlos Gadelha afirmou que o país vive hoje um contexto social muito dinâmico, com queda nos índices de pobreza e grande crescimento da classe média, sendo que 53% da população têm acesso ao sistema primário de saúde pelo SUS. Diante disso, os desafios para montagem de um sistema de saúde que atenda a esta porcentagem crescente aumentam. O grande problema é que haveria um descompasso entre tal demanda em atendimento em saúde e a nossa capacidade de produção e inovação, necessária para garantir um serviço abrangente e de qualidade.
Na visão de Gadelha, o Brasil tem dado passos importantes em relação ao aumento de sua capacidade de produção e inovação em tecnologias e pesquisas em saúde, porém este conhecimento não termina por gerar riqueza social, ou seja, não há uma tradução deste conhecimento em estratégias e diretrizes para serem aplicadas na prática médica. Esta realidade, segundo o secretário, fica clara analisando alguns dados: não só a participação do país na criação de patentes em saúde a nível mundial é quase irrisória, como grande parte das tecnologias e inovações usadas em nosso sistema de saúde são importadas, criando grande dependência externa.
Para resolver este problema, seria necessário encontrar maneiras de articular a dinâmica do desenvolvimento econômico e de inovação com o desenvolvimento social. Uma alternativa, sugeriu Gadelha, é a interação entre sistemas públicos e privados, organizada de forma mais abrangente do que um mero meio para alavancar renda para pesquisa em saúde. Mais do que uma fonte de obtenção de recursos, tal parceria deve pautar a agenda de inovações, permitindo que o setor privado invista onde o Estado não pode alcançar.
As apresentações dos representantes internacionais deixaram claro que o Brasil não é o único país que precisa ultrapassar muitos desafios para conseguir estabelecer um sistema de saúde mais seguro e acessível a toda a população. Andy Haynes e Adriana Velazquez mostraram em gráficos e números que a situação da saúde principalmente em países menos desenvolvidos ainda é precária, com grandes questões envolvendo doenças virais como malária e a Aids, além de altos níveis de mortalidade materna e infantil. Em 2005, exemplificou Velazquez, enquanto foram registrados 650 mortes maternas em países de baixa renda, apenas nove casos semelhantes ocorreram em países com melhores condições. Ambos os especialistas concordam que a solução para este descompasso estaria na melhoria do sistema primário de saúde. Segundo eles, se houver investimento em tecnologias e inovações que permitam diagnósticos precoces e atendimentos mais velozes, certamente muitas vidas serão salvas. Alicia Granados lembrou, por sua vez, da importância fundamental de se ter uma visão holística dos sistemas de saúde, entendendo-os em suas dimensões científica, política e social, de maneira que sejam estimuladas a parceria e a solidariedade entre todos estes componentes.
José Carvalho de Noronha lembrou da questão do envelhecimento da população, uma tendência mundial. O aumento da longevidade não necessariamente se reflete na queda da morbidade, sendo as doenças crônicas hoje uma questão preocupante, que pressiona a administração de mais recursos num planeta de fontes esgotáveis. Para o profissional, seria preciso, então, traçar um caminho em que sejam atendidas às necessidades do presente, sem comprometimento com a habilidade de atendê-las no futuro.
(Agência Fiocruz de Notícias)
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O evento faz parte da Conferência HTAi 2011, iniciativa da Health Techonology Assessment International (HTAi) juntamente com o Ministério da Saúde, a Fiocruz e outros centros, cujo objetivo este ano é discutir como a avaliação de tecnologias em saúde (ATS) qualificada pelo Ministério da Saúde como um processo de investigação das consequências clínicas, econômicas e sociais da utilização das tecnologias em saúde pode contribuir para criação de sistemas de saúde que respeitem princípios da sustentabilidade. Da mesa redonda deste primeiro dia da conferência, participaram também Andy Haines (London School of Hygiene & Tropical Medicine), Alice Granados (Genzyme/Espanha), José Carvalho de Noronha (Fiocruz) e Adriana Velazquez (OMS), com coordenação de Reinaldo Guimarães (ex-secretário do Ministério da Saúde).
Os palestrantes se dedicaram a destrinchar o atual cenário dos sistemas de saúde, seja no âmbito nacional ou internacional. Em relação ao Brasil, Carlos Gadelha afirmou que o país vive hoje um contexto social muito dinâmico, com queda nos índices de pobreza e grande crescimento da classe média, sendo que 53% da população têm acesso ao sistema primário de saúde pelo SUS. Diante disso, os desafios para montagem de um sistema de saúde que atenda a esta porcentagem crescente aumentam. O grande problema é que haveria um descompasso entre tal demanda em atendimento em saúde e a nossa capacidade de produção e inovação, necessária para garantir um serviço abrangente e de qualidade.
Na visão de Gadelha, o Brasil tem dado passos importantes em relação ao aumento de sua capacidade de produção e inovação em tecnologias e pesquisas em saúde, porém este conhecimento não termina por gerar riqueza social, ou seja, não há uma tradução deste conhecimento em estratégias e diretrizes para serem aplicadas na prática médica. Esta realidade, segundo o secretário, fica clara analisando alguns dados: não só a participação do país na criação de patentes em saúde a nível mundial é quase irrisória, como grande parte das tecnologias e inovações usadas em nosso sistema de saúde são importadas, criando grande dependência externa.
Para resolver este problema, seria necessário encontrar maneiras de articular a dinâmica do desenvolvimento econômico e de inovação com o desenvolvimento social. Uma alternativa, sugeriu Gadelha, é a interação entre sistemas públicos e privados, organizada de forma mais abrangente do que um mero meio para alavancar renda para pesquisa em saúde. Mais do que uma fonte de obtenção de recursos, tal parceria deve pautar a agenda de inovações, permitindo que o setor privado invista onde o Estado não pode alcançar.
As apresentações dos representantes internacionais deixaram claro que o Brasil não é o único país que precisa ultrapassar muitos desafios para conseguir estabelecer um sistema de saúde mais seguro e acessível a toda a população. Andy Haynes e Adriana Velazquez mostraram em gráficos e números que a situação da saúde principalmente em países menos desenvolvidos ainda é precária, com grandes questões envolvendo doenças virais como malária e a Aids, além de altos níveis de mortalidade materna e infantil. Em 2005, exemplificou Velazquez, enquanto foram registrados 650 mortes maternas em países de baixa renda, apenas nove casos semelhantes ocorreram em países com melhores condições. Ambos os especialistas concordam que a solução para este descompasso estaria na melhoria do sistema primário de saúde. Segundo eles, se houver investimento em tecnologias e inovações que permitam diagnósticos precoces e atendimentos mais velozes, certamente muitas vidas serão salvas. Alicia Granados lembrou, por sua vez, da importância fundamental de se ter uma visão holística dos sistemas de saúde, entendendo-os em suas dimensões científica, política e social, de maneira que sejam estimuladas a parceria e a solidariedade entre todos estes componentes.
José Carvalho de Noronha lembrou da questão do envelhecimento da população, uma tendência mundial. O aumento da longevidade não necessariamente se reflete na queda da morbidade, sendo as doenças crônicas hoje uma questão preocupante, que pressiona a administração de mais recursos num planeta de fontes esgotáveis. Para o profissional, seria preciso, então, traçar um caminho em que sejam atendidas às necessidades do presente, sem comprometimento com a habilidade de atendê-las no futuro.
(Agência Fiocruz de Notícias)
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