Poli cria primeiro fundo de universidade

Data: 20/06/2011
A Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) criou o primeiro fundo brasileiro para administrar doações de ex-alunos e empresas para a faculdade, o chamado endowment, muito comum nos Estados Unidos, no Canadá e na Inglaterra, onde dispõem de patrimônios bilionários.



Em funcionamento desde abril, o fundo foi ideia dos alunos da Poli e pode puxar a fila de outros semelhantes no País.



De acordo com o professor José Roberto Cardoso, diretor da Politécnica, o objetivo da escola é, dentro dez anos, duplicar seu orçamento anual atual - de R$ 20 milhões - com ajuda do fundo. Para tanto, o diretor estima que o fundo precisaria atingir um patrimônio de R$ 800 milhões no período. A meta de patrimônio para este ano, segundo Felipe Sotto-Maior, da Endowments do Brasil, empresa que estruturou o fundo, é de R$ 25 milhões.



Cardoso conta que outras unidades da USP manifestaram interesse em criar fundos semelhantes, citando especificamente as faculdades de Medicina e de Odontologia. Na Odonto, segundo o professor, o dinheiro do fundo seria usado para revitalizar um prédio antigo que a escola tem no centro de São Paulo. A Endowments do Brasil também já foi procurada por uma associação de ex-alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com planos para estabelecer um fundo semelhante, diz Sotto-Maior. A reportagem procurou as instituições citadas, mas não conseguiu confirmar os planos.



Entre os doadores iniciais do fundo da Poli está Cláudio Bruni, diretor presidente da incorporadora BR Properties, que fez uma doação como pessoa física de valor não divulgado. Há planos para que a BR Properties também doe de forma institucional. Hugo Rosa, da Método Engenharia, também negocia uma doação. Um dos mais ilustres politécnicos, o controlador e presidente do maior banco privado do País, Roberto Setubal, é citado pelo professor Cardoso como um doador cobiçado. Ele conta que o presidente do Itaú acaba de presentear a faculdade com o plano executivo de um novo edifício.



A CNL Construtora também fará uma doação institucional para o fundo. Renato Ishikawa, diretor presidente da empresa, diz que o valor ainda não foi definido, mas o dinheiro será investido em 2012. Ele se formou em engenharia civil na Mackenzie, rival histórica da Politécnica. "Não importa minha origem, eu comprei a ideia do endowment", diz. Ishikawa ficou sabendo do projeto pelo enteado, aluno da faculdade.



Nas principais universidades mundiais, lista que inclui Harvard, Yale e Oxford, quase metade do orçamento costuma vir dos endowments. O maior deles é o fundo de Harvard, com ativos que atingiam US$ 27,5 bilhões em valor de mercado em dezembro.



Além do mercado americano, universidades canadenses também têm fundos importantes. Na Inglaterra, tradicional na área, o patrimônio dos dez maiores fundos tem pouco mais da metade do tamanho do endowment de Harvard.



Os endowments são, como os fundos de pensão, importantes veículos de poupança de longo prazo. Para as universidades brasileiras, chegam como alternativa à burocracia que normalmente envolve doações.



O fundo brasileiro surge antes de lei que trate especificamente do assunto. Para Felipe Sotto-Maior, que também é advogado, o fundo da Poli servirá para pressionar por mudança nessa situação. Para mostrar que o Brasil não está tão atrasado no assunto, ele cita o caso da França, país com sistema jurídico semelhante ao brasileiro, onde a primeira lei a tratar dos endowments surgiu apenas em 2008.



Quem ficará responsável por aplicar as doações no mercado financeiro serão quatro gestoras de recursos, com nomes ainda não divulgados. O fundo deverá investir de 50% a 60% do seu patrimônio em renda variável.



Segundo o professor Cardoso, o destino prioritário dos recursos levantados pelo fundo será a graduação. "Queremos oferecer infraestrutura para criar ambientes de inovação", diz, citando o site Buscapé, que surgiu na Poli, como exemplo de algo que poderia se beneficiar caso o fundo já existisse.



O primeiro projeto que deve receber ajuda do fundo é o Curso Colaborativo Poli e Harvard, da professora Mônica Porto. Ela explica que a iniciativa reúne cerca de 30 alunos, com metade vinda da Politécnica e metade de Harvard, que fazem visitas de campo relacionadas a temas ambientais. A próxima edição do projeto será realizada nos Estados Unidos, o que aumentou muito seus custos. É aí que entra o endowment, que se ofereceu como parceiro na captação de recursos. Porto diz que o projeto custará cerca de R$ 200 mil.



O plano é fazer com que o curso Poli-Harvard se transforme na principal bandeira do fundo. "Nossa estratégia é investir primeiro em projetos de impacto mais imediato na vida dos alunos. O objetivo é ganhar visibilidade", diz Sotto-Maior.

(Valor Econômico)






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