Novo mapa da ciência

Data: 10/06/2011

Professor Odenildo Sena


As coisas funcionavam assim. As fundações que atuam no setor de saúde no estado do Amazonas assumiam exclusivamente o compromisso com o atendimento e a assistência, cada uma em sua área de atuação. Mas alguém há de perguntar: esse, então, não é o papel dessas instituições? Elas não foram criadas para esse fim? A priori devemos aceitar que sim.



A Fundação Cecon, por exemplo, tem por propósito atender e dar assistência a pacientes portadores de câncer. Já a Fundação Adriano Jorge tem por objetivo maior voltar-se para os pacientes nos vários campos da ortopedia. Da mesma forma, poderíamos nos referir às demais instituições. Afinal, a atuação e o comportamento recorrentes, com o tempo, acabam se cristalizando como algo cultural, o que, de certa forma, limita a possibilidade de se vislumbrar o horizonte sob outras perspectivas. Se as coisas funcionavam assim, portanto, não se deveu apenas à natureza do papel das fundações de saúde, mas às condições que as limitavam.



Claro deve ficar que, para a população que recorre aos serviços dessas instituições, é imperceptível a ausência de um componente da mais alta relevância que as tornaria mais completas. Afinal, para os usuários importa o produto não o processo. Importa ser atendido com dignidade e respeito e ter sua saúde de pronto restabelecida, o que, convenhamos, não é pouca coisa. Quem, por exemplo, recorre à Fundação de Medicina Tropical com suspeita de ter contraído leishmaniose ou tuberculose quer seja diagnosticada a enfermidade e dada a prescrição para seu tratamento.



A situação não é diferente em outra área qualquer. Quando se compra um sofisticado celular, bem de consumo suficientemente popularizado entre os brasileiros, ninguém se importa em saber o tempo decorrido e os milhões de dólares investidos em capital intelectual e pesquisa básica e aplicada necessários para que o produto chegue àquele estágio de perfeição e valor. É natural que assim seja, mas não é natural que se deixe de fazer um esforço de difusão para que cidadãos e cidadãs sejam esclarecidos de que os feitos da ciência não estão distantes do seu cotidiano e de que os "milagres" da tecnologia - em todas as áreas do conhecimento - carecem de gente bem preparada para que tudo isso aconteça.



O componente a que me refiro acima é o da pesquisa, que dá completude ao papel das fundações de saúde. Elas passam, também, a ser produtoras de conhecimentos, o que gera um círculo virtuoso em que uma ação é sempre posta a serviço da outra. É neste sentido, pois, que, se antes essas instituições se limitavam à prestação de serviços e atendimento, hoje o paradigma é outro. E isso se deveu especialmente à presença, hoje indispensável, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, instalada em 2003. Querem fatos? Poucos sabem que a Fundação Hemoam avança em pesquisas com células-tronco. Poucos sabem que a Fundação de Medicina Tropical está testando uma droga oral que pode revolucionar o tratamento de leishmaniose. Boas pautas para a turma que se dedica ao jornalismo científico.



Odenildo Sena é presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti). O artigo acima é de responsabilidade do autor. Opiniões devem ser enviadas para odenildosena@uol.com.br.


Jornal da Ciência - Diário do Amazonas


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