Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília: Um sonho que padece a espera por se tornar realidade

Data: 13/04/2011
Cássio Costa Laranjeiras*


Passados 50 anos da inauguração da Capital Federal, quando um sonho se tornou realidade, continuamos alimentando junto à comunidade acadêmica e a sociedade em geral, o sonho de implantação do Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília.



Entristece-nos reconhecer que uma cidade, nascida como fruto de um ideário modernista e, portanto, de vanguarda, venha se desenvolvendo na retaguarda das grandes ideias e projetos de um Brasil do presente e do futuro.



Inaugurada em 21 de abril de 1962, dois anos depois da Capital Federal, a Universidade de Brasília (UnB) já previa em seu Plano Diretor Original a existência de um espaço dedicado à cultura, que pudesse abrigar de maneira integrada à cidade, diferentes elementos das artes, das ciências, da técnica, proporcionando ao cidadão uma formação e vivência essencialmente humanísticas. É essa perspectiva de unidade e integração, mediada por um ideário científico cultural, que a implantação do Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília pode contribuir para resgatar.



O recente crescimento econômico brasileiro vem colocando significativas demandas para a formação de mão de obra e recursos humanos, sobretudo na área de ciência e tecnologia, com vistas à inserção do Brasil no contexto de competitividade internacional. Nosso sistema educacional não tem conseguido atender a contento essas demandas, o que sinaliza claramente a sua fragilidade e a necessidade de investimentos bem direcionados no setor, além da implantação de instituições voltadas à difusão do conhecimento científico e tecnológico, incentivando o espírito de investigação e despertando vocações em nossas crianças e adolescentes.



Todos os países que vêm protagonizando o atual desenvolvimento econômico internacional têm demonstrado clareza absoluta quanto a esta questão e tal entendimento tem se refletido em ações concretas, razão pela qual vamos encontrar nas grandes capitais do mundo Museus de Ciência bem equipados desempenhando um papel social estratégico de grande relevância, catalisando processos educativos, culturais, científicos e tecnológicos de suas populações.



Infelizmente, outros interesses parecem predominar na Capital Federal. Ações visando essa implantação ocorreram em diferentes momentos na história da cidade, ganhando ênfase em meados dos anos de 1990. Em 1997, um convênio firmado entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a UnB formalizou um grupo de trabalho com a responsabilidade de elaborar uma proposta de implantação na cidade de um Museu de Ciência e Tecnologia. Os avanços foram significativos ao ponto de se criar formalmente a Associação Museu de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal como estratégia de apoio ao referido projeto. Dificuldades de variada ordem, sobretudo políticas e econômicas, se impuseram a uma efetiva implantação da proposta então elaborada que, apesar de significativos esforços posteriores, sobretudo da comunidade acadêmica, somente foi retomada em 2003 a partir de sinalização clara do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) quanto à valorização da difusão e popularização da ciência e tecnologia.



Em 2004, a criação no âmbito do MCT da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, que tem entre suas responsabilidades a coordenação das ações no campo da difusão e popularização da ciência e tecnologia em âmbito nacional, deu novo impulso à ideia de implantação de um Museu de Ciências na Capital Federal. Em fevereiro de 2006, o MCT e a UnB firmaram um Protocolo de Intenções e um Convênio de Cooperação Técnica, visando, além da implantação do Museu, o desenvolvimento de ações conjuntas no campo da difusão e popularização da Ciência e Tecnologia no Distrito Federal. Na ocasião, foi constituída uma Comissão Executiva de Implantação composta por representantes das duas instituições.



Como ponto de partida, a Comissão Executiva elaborou um Termo de Referência contendo as bases conceituais para orientar os projetos museológico, museográfico e arquitetônico, bem como o processo de implantação do Museu. Esse documento inicial reflete os múltiplos diálogos e aprendizados, decorrentes do longo processo de discussão de implantação do Museu até então, e oferece uma pluralidade de opções relacionadas a um marco conceitual bem definido.



Com o objetivo de ampliar o diálogo sobre a implantação do Museu, a Comissão Executiva coordenou (2005/2006), com o apoio da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências (ABCMC), a realização de Seminários Nacionais e Internacionais com a participação da comunidade acadêmica, instituições afins e a sociedade em geral. Como fruto desse processo foi possível consolidar um projeto detalhado que tem sido apresentado em diferentes estâncias acadêmicas e políticas visando a sua efetiva implantação.



Como parte das obras que vinham sendo implementadas na Capital Federal visando a comemoração dos seus 50 anos em 2010, a construção de um novo terminal rodoferroviário interestadual motivou a Comissão Executiva a elaborar uma proposta alternativa e sugerir a ocupação do antigo prédio (Estação Rodoferroviária de Brasília) na forma de uma Estação do Conhecimento. Entendia-se que essa era uma boa chance para a reconstrução da imagem e da alma de Brasília, tão aviltadas nesses últimos tempos. O espaço poderia abrigar bem, a partir de uma boa reforma, os objetivos definidos para o Museu de Ciência e Tecnologia. Nesta proposta, a Estação do Conhecimento teria o papel de agregar valor à formação educacional e cultural dos brasilienses de todos os segmentos da sociedade, compartilhando com a Secretaria de Educação local a tarefa de complementação da jornada escolar da escola pública por meio de programas educativos dinâmicos e inovadores. Não se trata, portanto, de um espaço para o mero acúmulo de objetos, o que uma perspectiva equivocada do trabalho dos museus normalmente engendra.



Mas o desenrolar dos acontecimentos tem sido outro... Brasília "comemorou" os seus 50 anos em 2010 em meio a grandes frustrações, respirando ainda a atmosfera dos escândalos que, aliás, não se constituem em novidade para o Brasil e para os brasileiros.



Embora as ações no campo da difusão e popularização da ciência e Tecnologia no Distrito Federal venham se ampliando consideravelmente, fruto de iniciativas localizadas e do apoio do MCT, a implantação do Museu como "locus" integrador e disseminador dessas ações continua como um sonho em meio a tantos pesadelos de natureza política e institucional.



A ideia de que um equipamento cultural desse porte, com a importância socioeducativa que o caracteriza, deve ser uma responsabilidade compartilhada por diferentes atores institucionais, que certamente incluem a Universidade e o Governo do Distrito Federal, com apoio do Governo Federal, parece ser algo ainda fora das preocupações e prioridades efetivas da classe dirigente e política locais. É quando Brasília embota a sua vanguarda original e se recolhe na retaguarda da sua inoperância.



Brasília não merece isto! A transformação dessa realidade continua alimentando nossas esperanças e nossas ações.



*Físico, professor no Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Comissão Executiva de implantação do Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília.





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