Sobre a Ciência para o Brasil

Data: 22/03/2011

Sérgio F. Novaes

Em primeiro lugar gostaria de cumprimentar o professor Alaor Chaves por sua análise madura e sensata sobre o presente estágio de desenvolvimento da ciência brasileira.



Diversos aspectos compartilham a responsabilidade de não termos atingido até o momento um nível de inovação tecnológica compatível com um país que se encontra entre as sete maiores economias do planeta. Do pequeno investimento da iniciativa privada em P&D, passando pela formação de "engenheiros pouco científicos e cientistas excessivamente acadêmicos" e incluindo nosso atraso significativo em instrumentação científica.



No entanto, o professor Chaves peca na análise do que chama de colaborações científicas internacionais, adotando uma postura equivocada. É importante evitar generalizações que pouco contribuam para uma atitude construtiva na direção de pavimentar nossa trajetória para um Brasil que venha a se orgulhar de seu papel no cenário internacional em Ciência e Tecnologia. A questão central que deve ser analisada quando se discute o investimento humano e financeiro em colaborações científicas internacionais deve estar baseada nos aspectos científicos e o reflexo de longo prazo para o País. Sob o ponto de vista científico devemos nos perguntar se o objeto de investigação é relevante para ampliar nossa compreensão da Natureza e se a colaboração representa o estado-da-arte da pesquisa na área. Mais do que isso, devemos levar em conta quais as consequências de longo prazo que a participação brasileira poderá trazer, quer seja na capacitação de profissionais acadêmicos, na transferência de expertise tecnológica ou na adoção de novos processos e criação de novos produtos, bem como sua contribuição para nosso desenvolvimento sócio-econômico. Isso sem esquecer a importância per se da inserção do Brasil nos grandes fóruns internacionais de Ciência e Tecnologia. Esses aspectos não são abordados pelo professor Chaves em nenhum dos projetos mencionados.



Acima de tudo deve-se evitar uma análise passional com generalizações e afirmativas sem qualquer sustentação na realidade. Ao afirmar que "mas por enquanto só pagaremos 10% desse valor" o professor Chaves mostra desconhecer as bases nas quais vem sendo discutido a possível participação brasileira como Membro Associado (Associate Member) ao CERN. Não há absolutamente nada que possa sustentar tal afirmativa, que obviamente pressupõe o aumento futuro da contribuição brasileira. Mais do que isso, ao levantar a hipótese de que "com o tempo, pode ser que venhamos também a nos tornar o maior financiador do CERN" faz uma inferência fantasiosa, sem nenhum embasamento na realidade presente ou futura. Dentre os Estados Membros (Member State) do CERN, todos europeus, encontram-se algumas das maiores economias do mundo (Alemanha, França, Itália, Espanha, etc.) que tem suas contribuições proporcionais ao PNB. Apenas como referência, vale lembrar que a contribuição da Alemanha ao CERN em 2010 foi de CHF 225.766.950,00. O status de Membro Associado, que vem sendo pleiteado pelo Brasil, pressupõe pagamento anual também proporcional ao nosso PNB, no entanto, atingindo tão somente 10% do que caberia a um Estado Membro, conforme as negociações em curso. Não há a menor perspectiva que esse percentual venha a ser alterado no futuro, ou que o Brasil venha a manifestar interesse de se tornar um Estado Membro. Estimativas preliminares indicam que a contribuição brasileira para 2011 seria de aproximadamente CHF 14 milhões.



Conforme o "Joint Statement of Intent", assinado em setembro p.p., a condição de Membro Associado tornará os brasileiros elegíveis para a obtenção de bolsas de estudos e para assumir posições temporárias no CERN. O estatuto prevê também que empresas brasileiras passem a ter acesso às licitações do laboratório, podendo assumir contratos nas mais diferentes áreas de bens e serviços (magnetos supercondutores, criogenia, ultra-vácuo, controles industriais, engenharia civil, infraestrutura e serviços, aquisição de dados, computação e redes, etc.), até o limite de nossa contribuição financeira para o orçamento do CERN. Finalmente, como Membro Associado o Brasil poderá indicar representantes para o Conselho e outros órgãos decisórios do CERN.



Obviamente o governo brasileiro tem todo o direito de optar ou não pela associação do Brasil ao CERN. A nós da comunidade científica cabe apenas apresentar parâmetros robustos para a avaliação da conjuntura e prover argumentos não falaciosos que sirvam para embasar qualquer que seja a posição que venha a ser tomada.



(*) Sérgio F. Novaes, membro da Colaboração CMS e do Grupo de Trabalho encarregado de discutir as condições de associação do Brasil ao CERN





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