Austrália deve adotar taxa de carbono a partir de 2012

Data: 25/02/2011

Austrália deve adotar taxa de carbono a partir de 2012


Governo australiano anuncia imposto sobre as emissões de gases do efeito estufa como forma de combater as mudanças climáticas, porém oposição e grupos industriais vão brigar para que o projeto não seja aprovado

A Austrália é um dos países onde mais se discute medidas para controlar as emissões de gases do efeito estufa, porém nunca conseguiu ir muito além dos debates.Desde 2009, projetos climáticos são barrados pelo Congresso e sempre acabam perdendo força e sendo engavetados.

Uma das principais causas disso é porque a Austrália é o maior exportador mundial de carvão, portanto existe um lobby muito forte atuando de forma contrária a qualquer medida que altere padrões de geração de energia e de produção.

Agora, diante dos eventos climáticos extremos que afetaram a vida de milhões de australianos, o governo pretende contar com o apoio popular para tentar novamente aprovar uma legislação para as emissões.

A primeira-ministra Julia Gillard anunciou nesta quinta-feira (24) que irá propor uma lei que forçará os grandes emissores do país a pagar por cada tonelada de dióxido de carbono liberado já a partir de 1 de julho de 2012.

“Eu não acredito que a Austrália precise liderar o mundo contra as mudanças climáticas, mas eu creio que não podemos ficar para trás. Estou determinada a fixar um preço no carbono porque a história nos ensina que os países que prosperam são os que se adaptam às transformações”, afirmou Gillard.

A decisão surpreende porque na semana passada ao fim de uma reunião do comitê multipartidário de mudanças climáticas foi divulgado um comunicado que dizia: “o comitê percebeu que o acordo para a decisão final da taxa do carbono só pode ser adotado quando todos os elementos da política entrarem em consenso, e deve ser estabelecido nos próximos meses”.

Muitos apostavam que somente após maio, quando o conselheiro de mudanças climáticas do governo, Ross Garnaut, entregasse seu último relatório é que seriam anunciadas medidas para reduzir emissões do país.

Ainda não foram divulgados os detalhes de como funcionará a taxa, apenas que ela será uma medida de transição antes da criação de um mercado de carbono na Austrália e que deverá durar entre três a cinco anos.

Outra certeza é que o imposto não será cobrado da pecuária, um dos setores com mais emissões em virtude da liberação do metano pelos animais, por causa da dificuldade em realizar medições.

Repercussões

Imediatamente após o anúncio, o líder da oposição, Tony Abbott, afirmou que se trata de uma traição histórica e que não permitirá a aprovação do projeto.

“Não podemos permitir que uma medida deste tipo aumente ainda mais o preço da energia e prejudique a competitividade internacional de nossas indústrias. Não há nada mais falso do que fazer uma promessa ao povo australiano antes das eleições e depois quebrá-la no dia seguinte”, declarou Abbott, fazendo menção ao fato que nas últimas eleições Gillard disse que não gostava da idéia de uma taxa para o carbono e sim de um mercado.

Já o Conselho Empresarial da Austrália (Business Council of Australia - BCA), que reúne as 100 maiores companhias do país, afirmou que precisa conhecer mais detalhes antes de se pronunciar. “Enquanto não sabermos quem deverá pagar e quanto será pago, não teremos uma posição sólida sobre a taxa de carbono”, disse Maria Tarrant, chefe executiva do BCA.

Para a Câmara de Comércio e Indústria da Austrália o erro da decisão está no fato do país agir sozinho. “Nós teremos uma taxa que não existe nos nossos competidores, o que prejudicará as indústrias. As três maiores economias do planeta, Estados Unidos, Japão e China, não possuem isso e não parece que terão algo parecido tão cedo. É um equívoco a Austrália adotar ações antes desses países”, afirmou Greg Evans, porta-voz da Câmara.

Grupos ambientalistas aprovaram o anúncio e defendem a medida dizendo que se nada for feito os prejuízos para a economia serão muito maiores.

“Os australianos são a favor de ações climáticas e estão realmente frustrados com essas brigas no Congresso. É compreensível que as entidades empresariais estejam alegando que a taxa provocará uma crise, porém vale ressaltar que a ciência vem consistentemente afirmando que se continuarmos com o atual nível de emissões sofreremos as consequências mais severas das mudanças climáticas”, explicou Tony Mohr, diretor do Programa de Mudanças Climáticas da Fundação de Conservação Australiana.

Com o atual ritmo, a Austrália deve chegar em 2020 com 24% a mais de emissões do que em 2000. O governo pretende, ao colocar um preço para o carbono, alcançar a meta de reduzir em 5% as emissões nos próximos 10 anos com relação aos níveis de 2000.

(Agência Brasil)



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