NECESSIDADE DE NOVAS ALTERNATIVAS PARA MELHORIA DO SOLO

Data: 30/12/2010

NECESSIDADE DE NOVAS ALTERNATIVAS PARA MELHORIA DO SOLO


Rui Daher
De São Paulo


Aproveito a última coluna do ano para corrigir um esquecimento. Quem me ajuda nisso é o leitor João Leonel, engenheiro agrônomo por Viçosa, que ao ler minhas três ideias na área agrícola para a presidente eleita Dilma Rousseff, tema da semana passada, indicou um quarto item:

"A agricultura empresarial praticada hoje no Brasil tem a marca da insustentabilidade, na medida em que sua exigência em insumos agroquímicos é desproporcional ao aumento de produtividade (...) o Brasil tornou-se o maior consumidor de agrotóxicos do mundo! E temos brasileiros ilustres que se orgulham disso!".

Embora o assunto tenha sido recorrente nesses dois anos de coluna, concordo ser ele de tal importância que deveria estar entre as sugestões dadas à presidente eleita.

É certo que o clima tropical e subtropical favorece infestações de pragas e doenças nas culturas brasileiras. Mas também é certo que os EUA, cujo consumo de agrotóxicos acabamos de superar, produz o triplo do que o Brasil, se considerarmos a produção de cana-de-açúcar como equivalente em grãos. A área plantada? Cinco vezes maior.

João Leonel, que trabalha na Fundação ITESP (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), critica nosso "modelo tecnológico" e gostaria que a Embrapa fosse mais incisiva na tarefa de tornar sustentável o modelo.

Não lhe tiro a razão, mas lembro que tanto a empresa governamental como outras instituições públicas e privadas têm apresentado inúmeros trabalhos de pesquisa com novas tecnologias, de alta eficácia e baixo custo, que poderiam diminuir a dependência da produção agrícola dos fertilizantes e defensivos químicos.

Então, onde devemos procurar o motivo de persistirmos em um "modelo tecnológico insustentável"?

"Na Economia, estúpidos", poderíamos responder, frente ao espelho, parafraseando o especialista em marketing político, James Carville, que disse a Bill Clinton, em 1992, o que fazer para impedir a reeleição de Bush pai.

Até 1960, o Brasil vivia num apagão agrícola, e o modelo tecnológico só foi tomar ares modernos, a partir do início da década de 1970, quando o governo lançou vários Planos de incentivos.

Uso de fertilizantes e corretivos de solos; construção de novos complexos industriais; financiamento rural; pesquisa com as Embrapa e EMATER; e desenvolvimento, com os Prodecer (Cerrados) e Proálcool.

Isso despertou nos empreendedores nacionais, que atuavam na área de insumos agrícolas, o interesse em investir na nova etapa do processo de industrialização. Mesma disposição que surgiu em empresas agroquímicas multinacionais, até então tímidas diante de uma agricultura também tímida.

Em meio século, o aquilo deu nisso: um dos maiores produtores agropecuários do planeta.

Pra quê, então, mexer?

Porque passou do ponto, presidente eleita Dilma.

Hoje, a aceleração do crescimento não pode mais ser um fim em si. Os fatores condicionantes são outros e a senhora os conhece.

É importante saber que há produtos de extração natural, com altos teores de matéria orgânica, capazes de melhorar o condicionamento dos solos, ajudarem na absorção dos nutrientes pelas plantas e reduzir as dosagens de adubação química. Há controladores de pragas e doenças, desenvolvidos a partir de conceitos biotecnológicos, adequados à preservação ambiental, inclusive, sem eliminar os predadores naturais das infestações.

A sociedade e, especificamente, os agricultores estão cada vez mais receptivos a esses manejos e tecnologias. Contam para isso com, pelo menos, três décadas de comprovações científicas sobre os malefícios da massificação química e com a rinha competitiva no agronegócio globalizado.

É preciso, pois, incentivar as pesquisa, produção e comercialização desses novos desenvolvimentos. As empresas envolvidas nessa cadeia são pequenas e médias e, além de enfrentarem a concorrência de complexos gigantescos, carecem de recursos para atender as exigências dos órgãos fiscalizadores e montar aparelhos comerciais capazes de divulgar seus produtos.

Está em suas mãos lançar os fundamentos do modelo tecnológico que deverá vigorar nos próximos 50 anos. Boa sorte.


Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

Fale com Rui Daher: rui_daher@terra.com.br



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