A contribuição de estratégias didáticas para a sustentabilidade

Data: 14/12/2010

A contribuição de estratégias didáticas para a sustentabilidade




Por Gerson Catanozi, Karina G. do Amaral e Renan Bortoletto Pereira*




O Desenvolvimento Sustentável notabiliza-se por pressupor um modelo de desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades. No entanto,muito embora na prática este modelo seja ainda um ideal, não é uma tarefa simples construir uma ética ambiental entre populações assediadas pela fome e a miséria, bem como sob toda sorte de risco social, sobretudo em uma sociedade cristalizada em valores como o consumismo, imediatismo, competitividade e individualismo.

Nesse contexto, a educação – formal ou informal – pode constituir um dos mecanismos mais pacíficos e democráticos na evolução da sociedade. Nas últimas décadas, esforços nesse sentido têm se tornado cada vez mais frequentes mediante práticas pedagógicas alinhadas a novas bases e valores.

Os Quatro pilares da educação, disseminados pela UNESCO – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser; os Sete saberes necessários à educação do futuro enunciados por Edgar Morin– as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão, os princípios do conhecimento pertinente, ensinar a condição humana, ensinar a identidade terrena, enfrentar as incertezas, ensinar a compreensão e a ética do gênero humano; a Agenda 21 – propondo a promoção do ensino, da conscientização e do treinamento; e a Ecopedagogia, cujo propósito é discutir os paradigmas da Terra como comunidade global, são exemplos da necessidade de se compreender com profundidade e visão abrangente e sistêmica a complexidade do conhecimento, do ser humano e da biosfera. De fato, em essência, todo processo da Educação deve ser também Ambiental, fortalecedor de práticas e reflexões indutoras de um pensamento crítico e atuante, contribuindo com a formação de sujeitos capazes de agirem e reagirem consubstanciados em uma nova ética planetária ante aos desafios que se lhes apresentam.

As Instituições de Ensino Superior – IES – reservam para si importantes funções relativas ao ensino, pesquisa e extensão. No intuito de buscar permanentemente o aprimoramento na gestão de suas atribuições econômica, social e ecológica, imbuída de princípios de responsabilidade expressos em suas práticas pedagógicas e científicas, deve conciliar o entendimento da importância da comunidade circunvizinha à consolidação de valores referentes à integração, cooperação, parceria e conservação. Por essas razões, o objetivo deste artigo é relatar uma experiência didática com alunos de graduação em Ciências Biológicas na multiplicação desses valores e de conhecimento científico-tecnológico com vistas à aplicabilidade prática por comunidades carentes.

No que tange ao ensino, alunos são regularmente submetidos a processos avaliatórios – provas, seminários, relatórios de pesquisa, dentre outros, que, por vezes, podem recair em práticas pedagógicas descontextualizadas e fundamentalmente conteudistas e convencionais. Uma estratégia didática alternativa é a proposição de pesquisa acerca de conhecimentos científicos e tecnológicos a fim de se elaborar procedimentos e instrumentais aplicáveis à vida cotidiana de comunidades próximas à IES, viabilizando a geração de renda e a proteção de recursos naturais. Essa prática de ensino pode suscitar meios interessantes e contextualizados de aprendizagem e de avaliação revestidos de cidadania e solidariedade.

Na verdade, as atividades práticas propostas consistem de verdadeiras oficinas como ferramenta de reconstrução – transferência e adaptação– do conhecimento científico-tecnológico tangível e acadêmico em artifício educacional com fins sustentáveis: aquecimento solar da água, horta orgânica e artesanato, utilizando apenas materiais recicláveis descartados. A aplicação de técnicas mediadas por alunos supervisionados por professores amplia os horizontes pedagógicos, contribui com a economia de recursos naturais e possibilita a redução do descarte de resíduos sólidos (plásticos, papéis etc), facultando o incremento de renda familiar por parte de membros da comunidade participante. Por sua vez, ao envolver os discentes em ações de caráter ambiental, a Universidade consolida o papel como catalisadora da promoção socioeconômica em bases mais sustentáveis.

As oficinas podem transcorrer sob diferentes formatos: (I) espaços abertos, como a Universidade Responsável, em que a IES disponibiliza a infraestrutura física e os recursos humanos e materiais, possibilitando a aproximação entre as comunidades acadêmica e circunvizinha; e (II) ações em campo, nas quais grupos orientados de alunos atuam em espaços oferecidos e pertencentes à própria comunidade local (escolas, associações de bairro e outros) em processo significativo de interação e multiplicação. O convívio estabelece um canal de circulação de demandas e vivências, permitindo ao aluno ensinar e aprender e à comunidade, inserir-se em um processo de reflexão sobre seus problemas e de transformação de suas realidades.

Experiências dessa natureza mostram-se profícuas, aplicáveis e de ganho recíproco. Com poucos investimentos materiais, as oficinas representam ambientes de aprendizagem mútua altamente expressiva, contribuindo para a construção de uma sociedade mais sustentável, fundamentada em proteção ambiental, aprimoramento econômico e justiça social.

*Gerson Catanozi é professor dos Cursos de Ciências Biológicas e Gestão Ambiental da Universidade Ibirapuera. Karina G. do Amaral e Renan Bortoletto Pereira são graduandos do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Ibirapuera.



(Envolverde


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