São Paulo comemora 25 anos da fluoretação da água e especialista fala sobre mitos e verdades do flúor

Data: 08/12/2010
No Congresso Internacional de Odontologia do Centenário, promovido pela APCD - Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, entre 29 de janeiro a 1o de fevereiro, os professores-doutores da Unicamp, Jaime Aparecido Cury e Livia Maria Andaló Tenuta, esclarecem dúvidas sobre flúor


Em 31 de outubro, a cidade de São Paulo completou 25 anos de abastecimento público de água fluoretada. A data será lembrada pela Secretaria de Estado da Saúde em um evento marcado para 07 de dezembro, na sede da APCD, que contará com a participação do professor-doutor Jaime Aparecido Cury, da Faculdade de Odontologia da Unicamp. No encontro, ele vai adiantar trechos do curso “Flúor: mitos e realidade de seu uso coletivo, pessoal, profissional e das suas combinações”, que dará em 30 de janeiro, no Congresso Internacional de Odontologia do Centenário, no Expo Center Norte, que abrirá as comemorações dos 100 anos da APCD.
O curso pretende esclarecer dúvidas sobre o uso do flúor, considerado a estratégia de maior sucesso usada em saúde publica no controle da cárie dentária. Abaixo, relacionamos algumas questões ligadas ao flúor, que geram perguntas entre profissionais e leigos.

• O que é o flúor?
O flúor é um mineral natural encontrado largamente na natureza, o qual tem sido usado mundialmente na prevenção de cárie dentária.

• Como o flúor atua no controle da cárie?
A cárie é provocada por dois fatores: a organização de bactérias bucais na superfície dos dentes (formando a chamada placa bacteriana ou biofilme dental) e a exposição frequente à açúcares da dieta. O açúcar consumido é transformado em ácidos pelo biofilme dental, provocando a dissolução dos minerais dos dentes por um processo chamado de desmineralização. A desmineralização ocorrida é parcialmente reparada pela saliva por um processo inverso, conhecido por remineralização. Se o flúor estiver presente na boca ele reduz a desmineralização e ativa a remineralização dos dentes reduzindo o efeito final do processo de desenvolvimento de cárie.

• Quais são os meios de aplicação de flúor?
Existem meios coletivos, individuais, profissionais e suas combinações. A fluoretação das águas de abastecimento público é um importante meio de uso coletivo do flúor no Brasil. A Lei Federal nº 6.050, de 24/05/1974, determina que toda cidade com estação de tratamento de água deve agregar flúor na sua água. Os meios individuais incluem dentifrícios e soluções para bochecho diário. Há produtos com alta concentração de flúor para a aplicação profissional e materiais restauradores liberadores de flúor.

Dependendo do caso, o cirurgião-dentista pode recomendar o uso combinado dos meios de flúor para pessoas que têm dificuldade para controlar o processo de cárie (gente com alta exposição a carboidratos fermentáveis (principalmente sacarose), que usam aparelho ortodôntico, têm pouca saliva devido ao uso de medicamentos etc). Um exemplo de uso combinado é fazer a escovação com dentifrício fluoretado e bochecho com solução fluoretada. Do mesmo modo, a aplicação de flúor pelo cirurgião-dentista é recomendada para pacientes que não fazem auto-uso de flúor, quer seja por questão de comportamento ou deficiência física ou mental.


• Qual a concentração de flúor na água fluoretada? Existe alguma forma de se calcular essa concentração referente à quantidade da população de determinado local?

A concentração de flúor a ser adicionada na água é feita segundo cálculo matemático que considera a temperatura média anual da localidade. Se as pessoas bebem mais água porque está mais calor, a concentração do flúor na água deve ser menor. No Brasil, por ser um país tropical, a concentração “ótima” de flúor na água da maioria das cidades é de 0,7 ppm (mg/L).

• Pode-se aumentar ou diminuir a concentração de flúor na água de acordo com o índice de cárie na população?

Não. Em locais com alta prevalência de cárie, uma maior concentração de flúor não é indicada porque irá aumentar a fluorose dentária - único efeito colateral da ingestão da água fluoretada, a qual ocorre durante a formação dos dentes. A fluorose é percebida pelo aparecimento de linhas brancas transversais no esmalte dos dentes. Já uma menor concentração reduz o efeito anticárie do flúor.

• A pessoa que vive em uma cidade com água fluoretada mas bebe água mineral não se beneficia com a fluoretação?

Mesmo quem não consome água de abastecimento público fluoretada é beneficiada, porque geralmente cozinha com essa água. Assim, refeições com arroz e feijão cozidos com água fluoretada são responsáveis por 50% da quantidade de flúor ingerido por dia.

• Crianças menores de dois anos podem usar dentifrícios fluoretados?


A presença de flúor em creme dental é considerada essencial para controlar a cárie, portanto, a criança que não usa dentifrício fluoretado estará sendo privada do benefício anticárie do flúor. Para diminuir o risco de fluorose, deve ser usada uma pequena quantidade (equivalente a um grão de arroz cozido) de dentifrício de concentração convencional (1000-1100 ppm de flúor) e a escovação deve ser supervisionada pelos responsáveis pelas crianças até que elas possam cuidar de si próprias; um processo educativo como qualquer outro.



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