Os EcoDistricts estão chegando

Data: 06/12/2010

Os EcoDistricts estão chegando


Orlando Lima é Colunista de Plurale (*)


Os EUA têm sido criticados nos últimos anos em função de sua postura frente a demandas ligadas à redução de emissões de gases de efeito estufa e Mudanças Climáticas, retratada na não adesão formal do país ao Protocolo de Kyoto. Por outro lado, foi dos EUA que veio um dos principais alarmes sobre os riscos da questão climática para a sociedade internacional, através do filme Uma Verdade Inconveniente, realizado por Al Gore, ex-vice presidente, que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz.

Boas notícias agora chegam dos EUA através da efervescência que ocorre em indústrias importantes como é o caso da construção civil. Na recente Conferência internacional de Green Building, realizada em Chicago, pude presenciar inúmeras ações em andamento naquele país, a nível estadual, municipal e federal, com vistas à redução dos impactos ambientais, com ênfase na questão energética e da redução das emissões de CO2. Tal fenômeno se observa em toda a cadeia produtiva da construção incluindo não apenas incorporadores, construtores e proprietários de edificações, mas também centenas de fornecedores de equipamentos e materiais de construção “verdes” presentes à Conferência.


As iniciativas de redução do impacto ambiental na construção civil, têm se desenvolvido nos últimos anos e segue crescendo nos EUA, turbinadas pelo sistema LEED de certificação (“Leadership in Energy and Environmental Design”), apesar dos efeitos da profunda crise sofrida pelo setor imobiliário, estopim da crise financeira global de 2008. Trata-se de um aspecto visível da “onda verde”, que mobiliza a economia norte-americana através de inovações tecnológicas e motivadas pela promoção da geração de novos “empregos verdes”.

Essa onda tem gerado oportunidades para o setor de construção por um lado na crescente demanda de mercado por propriedades certificadas, e por outro através de políticas públicas de construção de prédios governamentais de alta performance ambiental e incentivos fiscais ao setor privado para construção verde, produzindo resultados significativos em diversos estados.


Esse movimento começa a desdobrar-se em diferentes tendências, sendo uma das mais interessantes a emergência dos chamados EcoDistricts, que começam a se proliferar nos EUA e na Europa. Para além de uma visão romântica de vilas ecológicas, os EcoDistricts estão situados no coração de áreas densamente ocupadas com elevados índices de poluição que buscam avançar na performance ambiental do conjunto de propriedades situadas nessas áreas através da ação coordenada dos diferentes atores.


Os EcoDistricts se baseiam em visão compartilhada em torno de metas bem definidas no âmbito da área (conjunto de quarteirões) visando a redução de impactos ambientais, incluindo redução do consumo de energia, do consumo de água e sua reutilização, de geração de resíduos e reciclagem, do aprimoramento de transporte público e alternativo, da restauração de vegetação e humanização de ambientes, entre outros objetivos. Algumas dessas metas produzem inclusive benefícios financeiros para a região como, por exemplo, a obtenção de descontos nas contas de energia.


Observa-se também que regiões na liderança dos EcoDistricts, frequentemente ocorrem em áreas com mecanismos de governança público-privada como os “Business Improvement Districts” - BIDs (Áreas de Revitalização Econômica no Brasil), que atuam como facilitadores e viabilizadores da agenda ambiental na área. Na prática essas ações vão desde programas para certificação de edifícios até projetos consorciados de otimização energética e de resíduos na região, desenvolvidos em conjunto com as empresas de utilidades públicas.


Nesse contexto os BIDs têm se mostrado instrumentos eficientes como aceleradores da ação coletiva dos múltiplos atores situados em áreas de alta complexidade (centros de cidades), criando novas perspectvas de resposta para enfrentamento dos grandes desafios ambientais de nosso tempo como a questão climática.


A efervescência norte-americana vem produzindo e testando novos conceitos. Sem perdermos de vista os desafios socioambientais existentes no Brasil, precisamos estar alertas para avaliar e eventualmente avançar em agendas que nos ajudem a vencer nossos desafios, e que também nos permitam contribuir com soluções para desafios globais, que também são nossos.

(*) Orlando Lima é Colunista de Plurale, Presidente da JANUS Consultoria em Sustentabilidade e palestrante.



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