Produção científica cresce em países emergentes

Data: 18/11/2010

Produção científica cresce em países emergentes


Entre 2002 e 2008, a contribuição dos países em desenvolvimento para periódicos internacionais e revistas especializadas cresceu de maneira significante, mas o número de aplicações patenteadas segue extremamente baixo.

Esta é uma das conclusões do “UNESCO Science Report 2010: Current Status of Science around the World” divulgado nesta semana e que destaca justamente a participação dos países mais pobres na produção científica.

O relatório contabilizou as publicações presentes no Thomson Reuters” Science Citation Index entre 2002 e 2008, período que registrou um crescimento de 35% na produção científica mundial.

Segundo a UNESCO, boa parte dessa expansão se deve ao desenvolvimento de países como Brasil, China e Índia, que publicaram mais de 165 mil trabalhos.

As nações mais pobres também registraram um grande crescimento, 80%, mas mesmo assim respondem por apenas 0,4% das publicações mundiais.

O relatório, que possui um capítulo destinado ao Brasil, nos coloca em 13º na lista dos maiores produtores de ciência do mundo.

A classificação leva em conta o número de artigos científicos publicados por cada país, sendo que o Brasil chegou, em 2008, a 26.482. Mais de 90% deles provenientes das universidades públicas. Na contagem mundial, a participação brasileira no total de estudos foi de 0,8% em 1992 para 2,7% em 2008.

Entre 2000 e 2008, o gasto do governo brasileiro com pesquisa e desenvolvimento subiu 28%, passando de R$ 25,5 bilhões para R$ 32,8 bilhões. De acordo com o relatório, o Brasil precisaria investir um adicional de R$ 3,3 bilhões - quase três orçamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - para alcançar a média de financiamento público em pesquisa e desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No total, a contribuição da América Latina subiu de pouco mais de 3% para 5%.

Já a contribuição dos países africanos abaixo do Saara aumentou 84%, mas representam 0,6% do total mundial. África do Sul e Nigéria são os que mais contribuem.

“O aumento da produtividade científica em países periféricos está muito clara, mas é mais um reflexo do crescimento de nações como o Brasil, China e México do que da democratização do conhecimento”, afirma Mohamed Hassan, diretor da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).

Também foi registrado o aumento no número de pesquisadores e na quantidade de recursos investidos em ciência em todas as regiões do planeta.

Distantes da Realidade

Outro fator analisado pela UNESCO foram os índices de registros de patentes.

Os países em desenvolvimento contribuíram com menos de 5% das patentes mundiais, sendo que as nações mais pobres registraram apenas uma patente em 2006.

“A maior parte da África, Ásia e América Latina não apresentam relevância alguma no que diz respeito a novas patentes”, salienta o relatório.

Em 2009, os empresários brasileiros registraram apenas 103 patentes no escritório norte-americano de propriedade industrial (USPTO), número inferior ao de cinco anos atrás, quando o empresariado brasileiro registrou 106 patentes.

O Brasil está muito à frente dos seus vizinhos latino-americanos nesse indicador, mas ainda está longe de rivalizar a Índia, que em 2009 registrou 679 patentes.

Uma das causas apontadas para o baixo número de patentes seria o custo envolvido para conseguir a propriedade intelectual sobre uma nova tecnologia ou produto. “Eu não acredito que uma universidade no continente africano, por exemplo, possui orçamento para pagar as taxas necessárias para fazer os registros de patentes para seus pesquisadores”, explicou Anastassios Pouris, diretor do Instituto de Inovação tecnológica da Univerisidade de Pretória.
Outro fator mencionado pelo relatório é a baixa interação entre a academia e as indústrias e entre os setores públicos e privados.

No caso do Brasil, a legislação é ainda ultrapassada e dificulta parcerias entre empresas e universidades. Financiamentos públicos também são bastante complicados de serem conseguidos, pois a burocracia é um obstáculo quase intransponível.

Finalmente, a falta de mobilização da sociedade para a defesa de causas sociais, como as ambientais, também ajuda a contribuir para que os gastos públicos em ciência não sejam aplicados em questões mais práticas e úteis para todos.

(Instituto Carbono Brasil)



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