COP-10: Ambientalistas defendem moratória para projetos de geoengenharia

Data: 22/10/2010

Em um encontro sobre as perdas de espécies animais e vegetais da COP-10 da Biodiversidade, que começou nesta semana em Nagoya, Japão, grupos de ativismo ambiental defenderam que as Nações Unidas devam impor moratória sobre projetos de "geoengenharia", como vulcões artificiais e esquemas de pulverização de nuvens com água do mar, criados para evitar o aquecimento global.

Os ambientalistas temem que esses projetos, apesar da preocupação em torno das mudanças climáticas, possam ameaçar a natureza e a humanidade, sob a justificativa de que os impactos da manipulação da natureza em grande escala não são completamente conhecidos, podendo representar um alto risco à biodiversidade.


Alguns países contam com projetos de geoengenharia, que custam bilhões de dólares, como caminhos possíveis para controlar as mudanças climáticas através da redução da quantidade de luz solar que atinge a terra ou da absorção do excesso de gases estufa, particularmente o dióxido de carbono.

"É absolutamente inapropriado que um punhado de governos de países industrializados optem pela geoengenharia sem a aprovação do resto do mundo", defende Pat Mooney, da organização de advogados ETC Group, com base no Canadá. "Eles não deveriam proceder com esses experimentos ou com seus desenvolvimentos sem o consenso da ONU."

Alguns grupos de conservação também afirmam que a geoengenharia é um dispositivo que alguns governos e empresas utilizam para deixar de tomar medidas que de fato diminuam as emissões de carbono. O painel do clima da ONU afirma que a geoengenharia será parte do seu próximo relatório em 2013.

Refletores Solares


Alguns dos projetos de geoengenharia propostos incluem:

- A fertilização dos oceanos. Grandes áreas são aspergidas com ferro e outros nutrientes para, artificialmente, estimular o crescimento de fitoplâncton, que absorve o dióxido de carbono. Esse projeto pode provocar proliferação de algas tóxicas e matar peixes e outros animais.

- Pulverizar a atmosfera com água do mar para aumentar a refletividade e a condensação de nuvens, que assim mandariam mais luz solar de volta para o espaço.

- Colocar trilhões de pequenos refletores solares no espaço para cortar a quantidade de luz que alcança a Terra.

- Vulcões artificiais. Pequenas partículas de sulfato e outros materiais são lançadas à estratosfera para refletir a luz do sol, simulando o efeito de uma erupção vulcânica.

- Captura e armazenamento de carbono. Esse projeto é apoiado por um grande número de governos, e envolve a captura de CO2 de estações de energia, refinarias e poços de gás natural, para posteriormente bombeá-lo para camadas subterrâneas.

Mooney afirma que a COP-10, da Convenção da Diversidade Biológica (CBD) da ONU, deveria expandir a moratória na fertilização dos oceanos, acertada em 2008, para todos os projetos de geoengenharia, apesar de a proposta ter encontrado resistência de alguns países, inclusive o Canadá, no início deste ano. O país afirmou, em Nagoya, que iria trabalhar junto às resoluções da CBD.

"O Canadá está preocupado simplesmente com a falta de clareza na definição das atividades que se caracterizam por 'geoengenharia'", declarou a chefe da delegação canadense em Nagoya, Cynthia Wright. "Nós partilhamos da preocupação da comunidade internacional sobre os potenciais impactos negativos e estamos dispostos a trabalhar junto à CBD para evitá-los."

Ambientalistas dizem que a geoengenharia vai contra o foco das discussões de Nagoya, que buscam novas medidas para proteger a natureza até 2020, como aumentar o número de terras e áreas marinhas protegidas, reduzir a poluição e fiscalizar a pesca.

"Nós estamos definitivamente a favor da pesquisa em geoengenharia, em todos os seus campos, mas não ainda de sua implementação. Ainda é muito perigoso. Nós não sabemos quais serão seus efeitos", declarou François Simard, do grupo de conservação IUCN. "O que precisamos fazer para combater as mudanças climáticas é conservar a natureza, e não tentar transformá-la."



O Estado de S. Paulo


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