Capturando os impactos humanos no oceano para a conservação da vida marinha

Data: 15/10/2010

Capturando os impactos humanos no oceano para a conservação da vida marinha


O oceanógrafo e fotógrafo, Guy Marcovaldi, ganhou o Grande Prêmio de Fotografia do SeaWeb’s Marine Photobank e também foi o segundo colocado na terceira edição anual do concurso de fotografia sobre conservação da Project AWARE Foundation. Marcovaldi, especialista em mergulho, é diretor do Projeto TAMAR-ICMBio, ou TAMAR, entidade responsável pelo Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas. Ele trabalha para o projeto desde seu início há trinta anos.

Por meio de um intérprete, a SeaWeb falou com Marcovaldi sobre o que o inspirou a se tornar um fotógrafo de conservação.

SeaWeb: Primeiramente, parabéns por ganhar o grande prêmio no concurso. Como você se envolveu com a questão da conservação das tartarugas marinhas e com a fotografia?

Guy Marcovaldi: Quando o projeto [TAMAR"> começou, trinta anos atrás, tínhamos muitas fotos de tartarugas marinhas fêmeas sendo mortas por pescadores e foi por esta razão que começamos a abordar o problema. Então selecionamos a questão das áreas dos ninhos de tartaruga e atualmente lidamos bastante com a questão da captura incidental. Na minha opinião, essa circunstância [da captura incidental"> foi uma das mais fortes, no sentido ruim da expressão, que eu já testemunhei.

SW: Que estória a foto vencedora do concurso nos conta?

GM: Fui informado na estação principal do projeto TAMAR de que havia essa rede próxima a foz do rio e de que havia muitas tartarugas aprisionadas nela. Quando os pescadores que eram os donos da rede perceberam quantas tartarugas tinham sido capturadas, eles simplesmente abandonaram a rede lá.

Quanto cheguei ao local, a rede estava sendo trazida para fora da água, com muitas tartarugas presas nela. Com a ajuda de pescadores locais, os mesmos que nos haviam informado sobre a rede, consegui puxar a rede para perto da praia e com isso pude observar melhor e então fazer a foto. Infelizmente, todas as tartarugas estavam mortas.

SW: Que mensagem você gostaria que as pessoas que vissem a foto guardassem?

GM: Na nossa linha costeira, no Brasil e ao redor do mundo, um dos maiores inimigos das tartarugas na atualidade são as redes de pesca. Elas são as maiores responsáveis pela captura incidental de tartarugas marinhas que chegam a costa para se alimentar e formar seus ninhos.

SW: Quando você tirou a foto, você já sabia que tinha em mãos uma imagem poderosa?

GM: Eu mergulho e faço fotos subaquáticas quase todos os dias e jamais, em toda a minha carreira profissional, tinha visto tantas tartarugas mortas ao mesmo tempo. Eu sabia que se tratava de uma imagem chocante, mas foi além das minhas expectativas, porque essa foto foi escolhida para a capa de uma das revistas do projeto TAMAR e agora ganhou esse prêmio.

SW: Você também foi o segundo colocado em um concurso por sua foto de um albatroz capturado em um espinhel. Qual a mensagem por trás da foto e por que, na sua opinião, ela é uma imagem poderosa?

GM: Os espinhéis são uma grande fonte de captura e mortalidade de tartarugas marinhas e de albatrozes. Passo a passo, o TAMAR está tentando encontrar soluções para minimizar o problema como programas de observação a bordo, substituição dos anzóis em “J”por anzóis circulares e também através de campanhas educacionais. Através desta foto em particular, um membro da tripulação do barco me mostrou este albatroz que havia sido capturado. Eu, honestamente, prefiro fotografias bonitas onde os animais estão vivos e, preferencialmente, conectados as pessoas, mas eu também compreendo que, como fotógrafos, precisamos mostrar alguns fatos tristes que fazem parte da realidade. Esta é uma cena comum, que acontece todos os dias na pesca com espinhel, e eu tive a oportunidade de chamar a atenção para isso e de trazer consciência às pessoas envolvidas no problema e também ao público em geral para ajudar a encontrar soluções.

SW: Há muitos fotógrafos de conservação no Brasil ou você é um dos poucos que fazem esse trabalho por aí? Você encontra barreiras em seu trabalho?

GM: Há muitos fotógrafos subaquáticos no Brasil, entre eles Martha Granville, Enrico Marcovaldi (meu irmão), Zaira Matheus, Carlos Secchin, entre outros, e sempre houve cooperação entre nós. No meu caso, o maior obstáculo é a condição climática. Tudo que preciso é de água clara e vento fraco, mas estas coisas dependem da natureza e não temos como controlar.

SW: Como você se envolveu com a fotografia, especificamente no contexto marinho e da fauna selvagem?

GM: Eu estudei oceanografia na universidade. O ambiente marinho sempre fez parte dos meus interesses e eu sempre desejei trabalhar com a conservação marinha, desde que eu era um garoto. Eu sonhava em ser como Jacques Cousteau!


SW: Como você acha que a fotografia marinha e da fauna contribui com a conservação?

GM: Essas fotos permitem que pessoas que provavelmente não teriam acesso ao ambiente marinho possam ver os problemas e se conscientizar sobre a questão da conservação marinha. Este tipo de fotografia é uma forma de aproximar as pessoas dos problemas do oceano.

SW: Que conselho você daria para outros fotógrafos marinhos e de fauna que também desejam que suas fotos tenham uma forte mensagem sobre conservação?

GM: Como fotógrafo marinho, você tem que fazer disto parte de sua vida. Você terá que trabalhar em locais que são difíceis de fotografar. Você terá que estar preparado para tirar fotos todos os dias e trazer consigo seu equipamento, a fim de se possibilitar oportunidades para tirar a melhor fotografia possível.

Para conhecer este ganhador, assim como os demais vencedores do Ocean in Focus, visite o Marine Photobank. Clique http://www.marinephotobank.com/resources/OceaninFocusPhotoContestAnnouncement2010.php

SeaWeb



*Tradução: Global Garbage / Miriam Santini mi.santini@terra.com.br

(Global Garbage)



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