Seguro de risco contra mudança climática
Por Peter Richards, da IPS
Financiar estratégias de adaptação e criar um fundo comum de riscos são as opções dos países do Caribe, que poderiam perder ao ano 9% de seu produto interno bruto devido à mudança climática, afirmaram especialistas. Os seguros de risco já são considerados ferramentas fundamentais em qualquer contexto completo para adaptar-se de forma efetiva à mudança climática, disse à IPS Milo Pearson, presidente da Facilidade Caribenha de Seguros contra Riscos de Catástrofes (CCRIF).
Conforme os impactos regionais da mudança climática no futuro ficarem mais claros com estimativas de aumento dos eventos extremos como seca e furacões , um seguro climático será fundamental para enfrentar os riscos associados com essas mudanças, afirmou. A CCRIF, com sede nas Ilhas Caimã, é administrada por 16 nações da região. Trata-se do primeiro e único fundo do mundo a oferecer cobertura diante de furacões e terremotos. Um modelo semelhante está sendo discutido pelos Estados insulares do Pacífico, disse Milo.
Um novo estudo da CCRIF, intitulado A economia da adaptação à mudança climática no Caribe, centra-se na situação de oito países da região: Anguila, Antigua e Barbuda, Barbados, Bermuda, Dominica, Ilhas Caimã, Jamaica e Santa Lúcia. O trabalho calcula que as perdas da região por tempestades e inundações já atingem 6% do PIB em alguns países, e que, no pior cenário, podem chegar a 9% apenas considerando os danos causados pelos ventos. Isto equivale ao impacto de uma recessão econômica grave, uma que nunca termina, diz o estudo.
As previsões de perdas pela mudança climática variam significativamente entre os países estudados, e vão desde 1% do PIB em Antigua e Barbuda, até 6% na Jamaica. As diferenças entre os países têm origem em vários fatores, como sua topografia, a exposição a perigos em costas, sua importância econômica de setores particularmente vulneráveis e também sua localização geográfica.
O estudo conclui que, entre os riscos considerados, os ventos de furacões representam 90% dos potenciais riscos na região, enquanto a elevação do nível do mar pelas tempestades ameaça em particular as nações mais baixas, segundo o estudo. A CCRIF indica que tais conclusões, divulgadas no final de agosto, partem de uma base sólida e dados que os países poderiam usar para criar suas estratégias de adaptação e administração de desastres.
Milo disse que a informação também pode ajudar as delegações da região a prepararem sua postura na 16ª Conferência das Partes (COP 16) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC), que acontecerá em Cancún, no México, entre 29 de novembro e 10 de dezembro. Espera-se que os Estados caribenhos e outras nações insulares peçam nesse encontro ajuda internacional para financiar seus planos de mitigação e adaptação.
Na situação econômica atual do Caribe, os governos enfrentam sérias dificuldades e têm pouco espaço fiscal para o financiamento da adaptação climática, disse Milo à IPS. Diante desses limitados recursos, os países deverão ser especialmente proativos em nível regional e internacional para conseguirem fundos, acrescentou.
O secretário-geral da Comunidade do Caribe (Caricom), Edwin Carrington, disse que o estudo da CCRIF é de imenso valor para os políticos caribenhos e o setor empresarial em seus esforços para desenvolver e implementar sólidas estratégias e planos de adaptação. Disse, ainda, que, como alertou inequivocamente o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) da Organização das Nações Unidas, o fenômeno já afeta o Caribe: as temperaturas aumentaram cerca de um grau no último século e os mares cresceram entre dois e três milímetros por ano desde 1980.
Os países do Caricom necessitam de estratégias de adaptação duradouras que possam ajudar a garantir o sustento de nossos cidadãos e dar proteção diante de um clima sempre variável, destacou Edwin no mês passado. Na conferência sobre mudança climática realizada em dezembro passado, em Copenhague, as nações ricas prometeram US$ 30 bilhões em financiamento de início rápido para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar o fenômeno.
Entretanto, as investigações do Projeto Catalisador da Fundação ClimateWorks e da Fundação Europeia sobre o Clima indicam que são necessários entre US$ 21 bilhões e US$ 54 bilhões para apoiar a mitigação, adaptação e menor degradação de florestas no Sul em desenvolvimento nos próximos três anos. Além disso, serão necessários entre US$ 100 bilhões e US$ 190 bilhões em investimentos do setor privado a cada ano.
Sempre disse que este financiamento de curto prazo é a chave de ouro para Cancún, afirmou a secretária-geral da CMNUCC, Christiana Figueres, em entrevista coletiva no começo deste mês para lançar o site FastStartFinance.org, que acompanha de perto os compromissos de financiamento contra a mudança climática por parte de nações industrializadas. É particularmente urgente e importante ter clareza sobre a fonte, o destino e o desembolso de dinheiro de curto prazo, acrescentou.
O estudo da CCRIF, disse Milo à IPS, pode ajudar os países em desenvolvimento não só a compreenderem os riscos que enfrentam e como se adaptar, mas também a defenderem a necessidade de financiamento na reunião de Cancún. Envolverde/IPS
* Este artigo é parte de uma série apoiada pela Rede de Conhecimento sobre Clima e Desenvolvimento http://www.cdkn.org.
(IPS/Envolverde)
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