Papel da biodiversidade nas mudanças do clima

Data: 24/09/2010
Visando cobrir mais de 42% da superfície do país até 2050 com a chamada “Grande Muralha Verde”, a China já plantou 500 mil km2 de florestas artificiais, com eucalypto, álamo e lárix, na intenção de combater as mudanças climáticas e o avanço do deserto de Gobi.

O país anunciou este ano que já cumpriu a meta para 2010 de alcançar uma cobertura florestal de 20%. O projeto iniciou em 1978 e tornou esta tarefa, um tanto controversa entre ecologistas, um dever de cada cidadão, sendo que o chinês tem que plantar ao menos três mudas destas espécies exóticas ao ano, segundo reportagem da IPS.

O governo chinês alega que desta forma é possível absorver o dobro da quantidade de dióxido de carbono do que com a utilização de espécies nativas. O ganhador do Prêmio Nobel Al Gore disse que a iniciativa é o “maior programa de plantio de árvores que o mundo já viu”.

Outro motivo para o plantio seria o combate à desertificação, que segundo um relatório de 2006 para a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, já havia tomado 27% da sua superfície do país, em comparação com 18% em 1994.

Porém, qual seria a real efetividade ecológica deste plantio em massa de espécies exóticas?

O professor do Instituto de Botânica da Academia de Ciências Chinesa Jiang Gaoming disse que em alguns locais a ‘Grande Muralha Verde’ acelerou a degradação ecológica e que o muro não lida com as raízes do problema de desertificação na região, o desenvolvimento insustentável e a super-população.

Em um artigo publicado na revista científica PLoS ONE de maio, pesquisadores da Universidade de Oklahoma e da Universidade de Fudan, em Xangai, concluíram que o reflorestamento e o aflorestamento (criação de novas florestas) na realidade não contribuem para a absorção de carbono.

Os estoques de carbono em todo o ecossistema deveriam ser levadas em conta, não apenas as árvores, alegam os cientistas. Como exemplo eles citam a perda de até 80% na capacidade dos solos de degradar o metano, cerca de 21 vezes mais potente que o CO2 em relação ao aquecimento global, em plantações quando comparadas com florestas naturais.

A introdução de exóticas é considerada a segunda causa de extinção de espécies no mundo, só perdendo para a destruição de hábitats pelas atividades humanas.

Tanto animais como vegetais, a entrada de espécies vindas de outras regiões em qualquer ecossistema pode ter impactos desastrosos sobre a dinâmica ecológica, suprimindo ou deslocando espécies nativas essenciais para as coevolução dos diversos organismos.

Isso tem efeitos sobre o funcionamento dos ecossistemas que afetarão de uma forma ou de outra os recursos naturais que servem de base para a vida humana.

Um exemplo claro e na maioria das vezes não levado em conta por grande parte da população é a polinização. Quando se fala em Serviços Ambientais, o que vem na mente é freqüentemente a água ou o oxigênio proveniente das florestas, sendo que outros fatores essenciais ficam esquecidos.

Para se ter uma idéia do tamanho do prejuízo, as perdas econômicas decorrentes do processo de redução de espécies alcançam uma cifra anual entre U$ 2 e US$ 4,5 trilhões, segundo pesquisadores do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Discussões internacionais

Na quarta-feira, em Nova Iorque, as Nações Unidas realizaram uma Assembléia Geral especial sobre biodiversidade e o secretário geral da ONU Ban Ki-moon enfatizou a necessidade de criação de um pacote de resgate similar ao introduzido após a crise financeira global para acabar com a perda de biodiversidade ao redor do globo.

“Estamos falindo nossa economia natural”, alertou Ban completando que a perda da biodiversidade pode levar ao fracasso da agricultura, queda nos lucros, aceleração da pobreza e declínio econômico.

Segundo a ONU, entre as diversas metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que o mundo não cumprirá em 2010 está justamente o declínio da biodiversidade. Atualmente 17 mil espécies animais e vegetais estão em risco de extinção, além do crescente número de indivíduos ameaçados.

Em outubro, Nagoya no Japão será a sede da Conferência da Biodiversidade (COP-10) neste Ano Internacional da Biodiversidade, onde deverá ser aprovado um novo plano estratégico para 2011-2020.

Esta semana foi divulgado um documento com a posição de diversas entidades da sociedade civil brasileira sobre o Plano Estratégico da CDB, que será entregue ao governo para servir de base às negociações no Japão.


(Instituto CarbonoBrasil)



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