Críticas a fundos do Banco Mundial para os ODM

Data: 15/09/2010

Críticas a fundos do Banco Mundial para os ODM


Menos de uma semana antes de começar a cúpula para avaliar os progressos com vistas ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o Banco Mundial foi o último ator internacional a comunicar seu novo pacote de ajuda para esse fim. Mas a quantia não é suficiente, afirmam especialistas. Os novos fundos servirão para superar as chamadas crises alimentar, dos combustíveis e financeira. Estas, segundo o Banco Mundial, agravam os obstáculos que as nações em desenvolvimento devem enfrentar para alcançarem as metas de desenvolvimento.

Os ODM objetivam reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem pobreza e fome, com relação a 1990; garantir a educação primária universal; promover a igualdade de gênero e reduzir a mortalidade infantil e a materna; combater a aids, a malaria e outras enfermidades; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul. Tudo isto até 2015.

Em alguns países não foram registrados avanços nos últimos anos, inclusive em alguns houve retrocessos, segundo estimativas do Banco Mundial. As crises deixaram 65 milhões de pessoas na indigência este ano. Os avanços registrados na meta um foram quase totalmente revertidos em 2008 pela alta no preço dos alimentos. A situação, detalhada em um informe que acompanha o anúncio de fundos do Banco, coincide com a apresentada por outros estudos.

O informe sobre os progressos referentes aos ODM, preparado pela ONU em 2009, concluiu que após a crise econômica desse ano havia 35 milhões a mais de indigentes e um bilhão sofriam desnutrição crônica.

Espera-se que a Cúpula Mundial sobre os ODM, que acontecerá entre segunda-feira e quarta-feira da próxima semana, sejam tomadas medidas concretas e significativas para superar os reveses e atender os avanços desiguais registrados atualmente entre nações pobres e as mais pobres.

O Banco Mundial anunciou na segunda-feira um pacote de US$ 8,3 bilhões para a agricultura, US$ 750 milhões para a educação e US$ 600 milhões para a saúde. O dinheiro será entregue pela Associação Internacional de Fomento, do sistema do Banco Mundial, que oferece empréstimos sem juros e doações aos países mais pobres.

Os fundos para saúde serão concedidos a 35 países, especialmente da área Ásia-Pacífico, Ásia meridional e Ásia subsaariana, enquanto o dinheiro para educação se concentrará principalmente nesta última região. Muitos lugares da Ásia meridional e da África subsaariana ficaram atrasados em relação aos demais países em desenvolvimento em matéria de educação e saúde.

Uma em cada sete crianças da África subsaariana morreu antes dos 5 anos em 2008, a metade dos menores que morreram no mundo, enquanto na Ásia meridional representou outro terço dos que perderam a vida esse ano, segundo um estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na semana passada.

Em matéria de educação, a África subsaariana também é das regiões mais atrasadas. Apenas 65% dos menores em idade escolar iam à escola em 2008, segundo o Unicef. Na Ásia meridional, a proporção de meninas e meninos não escolarizados foi menor esse ano, mas a quantidade total foi maior.

“Se o desejo é fazer algo sério a respeito dos ODM, é preciso trabalhar com os pequenos agricultores”, disse à IPS o assessor em política e estratégia do Departamento de Desenvolvimento Rural e Agrícola do Banco Mundial, Christopher Delgado. A África precisa que a assistência aumente para US$ 8 bilhões ao ano, afirmou John McArthur, diretor-geral da organização Millennium Promise, referindo-se às recomendações do Grupo para o Cumprimento dos ODM na África.

Assim ficou conhecido o encontro de numeroso dirigentes de organizações para o desenvolvimento, que se reuniram em 2007 para identificar ações que permitisse alcançar as metas. Os fundos “ainda são insuficientes”, disse McArthur, após o anúncio do Banco Mundial de que outorgará US$ 8,3 bilhões para todo o mundo. Os empréstimos para o setor agrícola e rural aumentarão nos próximos anos, estima Delgado.

A proporção de fundos que o Banco Mundial destina ao setor agrícola varia segundo as prioridades dos governos, pois são eles que apresentam os pedidos, explicou. Quando caíram os preços nos anos 90, os governos mudaram seus centros de interesse. Mas em 2000, as pessoas se deram conta de que o setor agrícola carecia de fundos. A situação ficou clara para as autoridades com a chamada crise alimentar de 2007/2008.

“Por isso, creio que aumentarão os empréstimos para a agricultura”, disse Delgado. Dos US$ 8,3 bilhões, 45% comprometidos segunda-feira pelo Banco Mundial serão concedidos pela Associação Internacional de fomento, ou seja, serão “quase um empréstimo”, disse.

O restante do dinheiro será entregue em partes iguais pelo Banco Internacional de Reconstrução e fomento e pela Corporação Internacional de Finanças, dentro do Plano de Ação para a Agricultura, do organismo, acrescentou. Delgado.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse na segunda-feira que são necessários US$ 100 bilhões para cumprir os ODM até 2015. Os 49 países mais pobres necessitarão de US$ 26 bilhões no ano que vem. IPS/Envolverde



(Envolverde/IPS)


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