A retomada das usinas termonucleares no mundo

Data: 09/09/2010

A retomada das usinas termonucleares no mundo



Por Adriano Pires, Colunista de Plurale (*)


Em um momento em que as discussões a respeito de uma possível mudança climática em curso crescem em todo o mundo, as exigências sobre a menor emissão de gases causadores de efeito estufa pelo setor de energia colocam as usinas termonucleares (UTNs) de volta como uma opção importante.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirma em seu relatório anual de 2009 que o interesse pela energia nuclear continua a aumentar no mundo. De acordo com a agência, apenas em 2009, foram iniciadas as construções de 12 reatores, o maior número desde 1987. Ao todo, 55 reatores se encontravam em fase de construção em 2009, o maior número desde 1992.
Segundo a AIEA, em julho de 2010, há um total de 439 reatores em operação para a geração de energia elétrica, distribuídos em 30 países, somando uma potência total de 373 GW; aproximadamente 8% do parque instalado mundial. Dentre os países com os maiores parques geradores, destacam-se os Estados Unidos, com 104 reatores e potência de 100,4 GW, a França, com 58 reatores e potência de 63,1 GW, e o Japão, com 54 reatores e potência de 46,8 GW.
A retomada dos investimentos em UTNs está sendo impulsionada principalmente por países emergentes, notadamente China, Rússia, Índia e Coreia do Sul. Em 2010, dos 61 reatores em construção, que contarão com uma potência total de 59,1 GW, 44 estão localizados na China, na Índia, na Rússia e na Coreia do Sul, que somarão juntos uma potência total de 41,8 GW, ou 70% do total mundial. Em 2010, dos oito novos reatores que iniciaram construção, seis estão em China e Rússia.
Com relação ao Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) concedeu à Eletrobras Eletronuclear a licença de construção para a UTN Angra III, caracterizando a retomada do programa brasileiro de energia nuclear. De acordo com a Eletrobras, a UTN Angra III demandará investimentos de R$ 9 bilhões e terá potência de 1.405 MW, o que a permitirá gerar cerca de 10,9 TWh por ano, o equivalente ao consumo residencial do estado do Rio de Janeiro em 2008. A Eletrobras Eletronuclear estima que a UTN Angra III inicie operação comercial em dezembro de 2015, quando, junto com as UTNs Angra I e II, elevará a potência total da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto para 3.412 MW.
Apesar dos impactos causados pela crise financeira, que provocou atrasos na construção de novas usinas termonucleares no mundo, a AIEA afirma que os investimentos continuarão a se expandir, especificamente, dado o bom desempenho operacional das UTNs e de seus padrões de segurança. Existem também as preocupações com uma possível mudança climática, já que as emissões de carbono da geração nuclear são menores do que das tecnologias a combustível fóssil, com a segurança do suprimento energético, com os preços voláteis e elevados dos combustíveis fósseis e com o crescimento da demanda de energia. Todos estes aspectos contribuem para a recente retomada dos investimentos em usinas termonucleares no mundo.


(*) Adriano Pires é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Energia. É diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), consultor e especialista renomado em energia. Ex-Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).




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