Água e saneamento não são atendidos
Entre os dias 20 e 22 deste mês, a Organização das Nações Unidas deverá responder na Cúpula Mundial sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio às acusações de estar marginalizando as exigências nas metas sobre acesso a água e saneamento. A água não recebeu a atenção que requer no projeto de documento final a ser adotado na reunião da ONU, disse à IPS o diretor-executivo do Instituto Internacional da Água de Estocolmo, Anders Berntell.
Anders também destacou que o bom manejo dos recursos hídricos e o fornecimento de água potável e saneamento são requisitos fundamentais para cumprir os diferentes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), entre eles reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem indigência e fome até 2015.
Sem água, nunca poderemos combater a fome. Sem banheiros nas escolas, as meninas continuarão abandonando os estudos antes de completar sua educação. E sem um saneamento adequado, as doenças continuarão se espalhando, o que aumentará a mortalidade infantil e a má saúde materna, explicou. Nos hospitais há muitas camas ocupadas por pessoas que sofrem de doenças originadas na má qualidade da água, acrescentou Anders.
Portanto, a água deveria ser reconhecida como um dos temas mais importantes a serem abordados na Cúpula, reconhecendo que é necessário urgentemente aumentar o financiamento em todos os planos de nossa sociedade, disse Anders, cujo instituto será sede da Semana Mundial da Água, de 5 a 11 deste mês, em Estocolmo. Espera-se que deste encontro que este ano completa seu vigésimo aniversário participem mais de 2.500 especialistas, profissionais, políticos e empresários, que debaterão sobre a crise hídrica mundial.
Esta crise é maior do que a causada pelo HIV/aids, pela malária, por tsunamis e terremotos, e por todas as guerras juntas em um ano, alertou Aaron Wolf, diretor do programa sobre Manejo e Transformação de Conflitos Hídricos na Oregon State University. O alívio da pobreza é uma estratégia explícita para enfrentar as inseguranças do mundo, afirmou Aaron em entrevista coletiva na ONU. Nesse sentido, a água foi uma preocupação explícita em matéria de segurança.
Segundo a ONU, cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo carecem de acesso a água potável, enquanto 2,5 bilhões não contam com saneamento adequado. Serena OSullivan, da organização End Water Poverty, com sede em Londres, disse à IPS que a comunidade internacional precisa fazer mais e melhor para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Isso inclui investir em saneamento, como parte de um enfoque exaustivo para combater pobreza, fome e doenças.
O saneamento, em particular, é absolutamente desatendido pela comunidade internacional e pelo processo dos ODM. A cúpula da ONU proporciona uma oportunidade única de agir, e a End Water Poverty estará lá para garantir que nossas mensagens sejam ouvidas, afirmou Serena. Trabalhamos com outras redes mundiais para elaborar um informe político Breaking Barriers (Rompendo Barreiras) que chama para um novo enfoque na abordagem dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, acrescentou Serena. Se queremos erradicar a pobreza, simplesmente não podemos ignorar a pobreza da água e do saneamento, destacou.
As evidências falam por si mesmas. Os países mais pobres perdem 5% de seu produto interno bruto por culpa da crise, enquanto a população perde tempo coletando água ou sofrendo de doenças como diarreia, o que a impede de trabalhar e estudar. Isto também sobrecarrega os frágeis sistemas de saúde.
Na África subsaariana, metade de todos os leitos hospitalares está ocupada por pessoas que adoecem pela má qualidade da água e do saneamento. O acesso a água limpa e a um saneamento adequado é um requisito para tirar as pessoas da pobreza, disse em março a vice-secretária geral da ONU, Asha-Rose Migiro, no Diálogo Interativo de Alto Nível sobre a Água. Também destacou que sete em cada dez pessoas sem saneamento apropriado vivem em áreas rurais.
Contudo, a quantidade de habitantes de áreas urbanas que carecem dessas instalações aumenta junto com as populações das cidades. Apesar de 1,3 bilhão de pessoas ter conseguido acesso a um melhor saneamento desde 1990, é provável que no mundo falte atender 1 bilhão de pessoas para cumprir o Objetivo sobre saneamento, disse Asha-Rose.
Esses Objetivos, definidos pela Assembleia Geral da ONU, incluem reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem pobreza e fome, com relação a 1990, garantir educação primária universal, promover a igualdade de gênero e reduzir a mortalidade infantil e a materna, combater a aids, a malária e outras enfermidades, assegurar a sustentabilidade ambiental, e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. Tudo isto até 2015.
Seu cumprimento encontrou obstáculos devido a vários fatores, como as crises financeira e alimentar, o impacto da mudança climática e a redução da assistência ao desenvolvimento por parte dos doadores do Ocidente. Espera-se que a próxima Cúpula avalie os êxitos e fracassos no caminho para essas metas e também busque meios para acelerar seu progresso nos próximos cinco anos.
A Assembleia Geral da ONU adotou, no mês passado, uma resolução reconhecendo o direito humano básico à água. Este é um sinal positivo que vai na direção correta, afirmou Anders. Porém, destacou que não é legalmente vinculante para os 192 Estados que compõem a ONU e que, no final das contas, o que importa é se os que tomam as decisões em todos os níveis da sociedade estão dispostos a considerar isto uma prioridade. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)
< voltar