DF: Alto consumo e retirada irregular de água estão esgotando a capacidade de abastecimento

Data: 28/10/2008

DF: Alto consumo e retirada irregular de água estão esgotando a capacidade de abastecimento


O roubo e desvio de água na capital entram nas contas de prejuízo da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Todo mês 700 mil metros cúbicos desaparecem do sistema de abastecimento. O que daria para o consumo de uma cidade inteira como Santa Maria, que tem 100 mil habitantes.

Isso agrava o problema que hoje preocupa a Caesb: como garantir o fornecimento de água para a população que vem crescendo em larga escala. A retirada de água para consumo humano, como ocorre no Rio Descoberto e no Ribeirão Pipiripau, já chega perto dos limites aceitáveis, sobretudo na época da seca. “Com isso, a Caesb já fez estudos de viabilidade para buscar água na barragem de Corumbá IV, que fica em Goiás”, conta o professor de engenharia ambiental e especialista no assunto pela Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Kóibe. “Talvez seja uma opção para um futuro não muito distante, mas é uma opção cara. Fazer com que a água viaje traz custos adicionais que são repassados à população”, complementa.

Os 2,5 milhões de habitantes do DF consomem 14 milhões de metros cúbicos de água todo mês. É muito. Corresponde a um gasto médio de 190 litros por pessoa todos os dias. “Isso porque há gente gastando pouco. No Plano Piloto e no Lago Sul o número passa de 500 litros”, relata Kóibe.

O consumo exagerado nas áreas nobres é explicado pelo desperdício, mas também passa pelo crime. Na banca de revistas da 112 Norte, por exemplo, uma torneira fica o dia inteiro conectada à mangueira de um lava a jato que funciona na comercial. A situação é uma festa de irregularidades. Os carros são lavados em estacionamento irregular, construído com brita na área verde da quadra. Os três homens que lavam os carros não têm autorização da administração regional para realizar o serviço e a energia elétrica que move a bomba, assim como a água, é ilegal: vêm da banca.

“O fornecimento de água a terceiros é proibido por decreto. Só quem pode fornecer a água é a concessionária pública, no caso a Caesb”, informa o superintendente de comercialização da companhia, Emerson de Oliveira. “Quando essa situação é flagrada pela nossa fiscalização, o fornecimento para quem vende pode até ser cortado. Além disso é aplicada uma multa pesada, que começa em R$ 640 e pode chegar a R$ 5 mil, R$ 8 mil. Depende do volume e do tempo que durou a irregularidade”, completa.

O responsável pela banca, Flávio Rodrigues de Oliveira, confessou que comete a irregularidade há quase um ano. “Eles pediram e eu deixei. Cobro R$ 60 por semana.” A conta de água aumentou desde então, de R$ 60, em média, para R$ 240. “A pessoa que vem medir o consumo para a Caesb já me disse que pode dar multa, mas nunca apareceu fiscal”, conta. Os lavadores agradecem. Um dos ajudantes disse ao Correio que são lavados de oito a dez carros por dia, a preços que variam entre R$ 7 e R$ 14. “Mas nós compramos a água dele. Diferente de quem enche os baldes de graça”, desculpa-se.

Combater irregularidades como a dos lava a jato irregulares, presentes sobretudo no Setor Sudoeste, é um esforço do Estado para mudar a cultura da sociedade. Cultura que permite distorções ainda maiores, como a flagrada pelo Correio, na última quinta-feira, no Clube de Golfe. Duas potentes bombas tiram até 1,2 milhão de litros d’água por dia do Lago Paranoá para os gramados do clube. A prática, segundo reconheceu o presidente da entidade, Féres Jáber, ocorre há 40 anos sem licenciamento ambiental. Apenas após a publicação da reportagem o clube foi à sede do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) solicitar a regularização. Independentemente disso, a água seguia sendo puxada na sexta-feira. O Ibram prometeu fiscalizar a situação nos próximos dias e lacrar as bombas.

Outros ladrões de água, no entanto, nem buscam a legalização. São donos de caminhões-pipa que enchem tanques de até 20 mil litros em rios e córregos do DF. Reportagens publicadas desde o ano passado mostram que a prática é intensa em locais movimentados, como a Avenida Elmo Serejo, em Taguatinga, o Córrego Vicente Pires, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e no Córrego Bananal, há poucos metros do Lago Paranoá, às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA).



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