A biosfera que criamos: de 1700 a 2000

Data: 11/08/2010
“Então, como ocorreu a transformação da biosfera em antropogênica” – perguntou um astuto membro da audiência durante uma apresentação de meu trabalho com Navin Ramankutty, em 2007, ao final de uma apresentação que fiz demonstrando que a população humana havia refeito a maior parte da biosfera e a transformado num bioma antropocêntrico, ou num antropoma (Ellis e Ramankutty, 2008).

Boa questão! Eu ainda não tinha uma resposta verdadeira – o nosso trabalho só usava dados do ano 2000. Agora, o nosso grupo completou a sua primeira análise história das mudanças globais de biomas em antromas antes e depois da Revolução Industrial, de 1700 a 2000, e os resultados acabam de ser publicados na Ecologia Global e Biogeografia (Ellis ET AL. 2010). O trabalho foi mais duro do que esperávamos, requerendo uma nova instrumentação da classificação original do sistema de antromas e uma nova reconstrução histórica das áreas irrigadas e de produção de arroz. Mas definitivamente valeu a pena!

No princípio, descobrimos que, já em 1700, um pouco mais da metade da biosfera havia sido transformada pelos humanos, ainda que em baixo nível relativo, criando antropomas seminaturais em cerca de 50% da área sem cobertura de gelo da terra e ateromas usados em cerca de 6%, deixando 49% da terra em estado natural. Antromas mais ocupados incluíam as urbanizações densa, vilarejos, áreas cultivadas, áreas de pastoreio e outras.

Talvez mais importante do que isso, em nossos estudos, pudemos comprovar que o século XX foi o período em que a maior parte da biosfera foi transformada pela população humana e pelos usos das terras – marcando o fim da biosfera e a consolidação de uma biosfera administrada pelo ser humano: um indicador a mais de que havíamos entrado no antropoceno. Outra descoberta foi a descoberta global de novos ecossistemas (Hobbs et al. 2006) – os ecossistemas que nós criamos como subprodutos de nosso uso extensivo da terra. Nossa análise demonstra que 37% dos ecossistemas terrestres são agora remanescentes, ou em fase de recuperação, ou utilizados de maneira mais leve, novos ecossistemas que surgiram de terras já utilizadas- formando mosaicos de ecossistemas usados ou semi-naturais que agora vemos cobrir uma boa parte do planeta. Terras com ecossistemas naturais são apenas 22% da superfície terrestre, e a maior parte deles são compostos de tundras e desertos, áreas que têm pouco interesse para os humanos.

Então, fizemos que de toda forma a biosfera se transformasse em antropocêntrica? Em resumo, os humanos transformaram as coisas gradualmente antes da Revolução Industrial, com as mudanças se acelerando no século XX tanto com a expansão das pastagens e áreas de cultivo como pela incorporação de áreas que haviam sido usadas apenas de maneira pouco intensa no passado.

Mas essa não é a constatação final. Historiadores globais do uso da terra e das populações, como os que usamos em nossas análises, basearam-se em dados muito limitados e modelos toscos, que continuam a ser aprimorados. Novas bases de dados globais continuam sendo desenvolvias e indicam que o uso humano da terra foi muito mais extenso em épocas muito anteriores e que a transformação da biosfera pelo ser humano ocorreu muito antes do século XX – talvez haja cerca de 3.000 anos (Kaplan et. all). Então, talvez essa seja uma história muito mais antiga.

Nota do tradutor Luiz Prado – Desfeito o mito dos biomas “naturais”, maiores informações (em inglês) e mapas elaborados pelo grupo de trabalho que elaborou essa pesquisa podem ser encontrados no seguinte link

Fonte: Ecotope




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