Saneamento seco e ecológico em Malauí

Data: 10/08/2010

Saneamento seco e ecológico em Malauí


Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 12 mil crianças morrem por ano em Malauí por causas vinculadas à diarreia. Esta mata mais do que a malária e a aids juntas, mas os recursos destinados ao seu combate são muito inferiores. Nas áreas densamente povoadas dos arredores de Lilongwe são necessários, com urgência, banheiros limpos e água potável, contudo, a lotação é tamanha que praticamente não há espaço para construir essas instalações.

Mgona é um desses assentamentos irregulares. Estima-se que 36 mil pessoas lotem um espaço diminuto perto de uma ferrovia abandonada. Ali as pessoas ganham a vida vendendo verduras, administrando pequenos comércios, cobrando dos outros moradores para verem filmes de Hollywood, da Nigéria ou China, que adquirem de contrabando. Poucos em Mgona podem pagar casas feitas de blocos de cimento ou adobe. Quase não há acesso a banheiros adequados. Ou pelo menos assim era antes de a organização não governamental internacional WaterAid e a local Training Support for Partners começar a capacitar membros da comunidade para construírem banheiros ecológicos chamados Skyloos.

Estes banheiros consistem em duas fossas feitas de tijolo, com uma parede de concreto e uma coberta metálica na parte posterior. Os dejetos caem por um buraco direto para as fossas, e sobre eles se joga regularmente as cinzas da lenha usada para cozinhar. Essas cinzas elevam a alcalinidade, e junto com as altas temperaturas geradas pela luz do Sol sobre a cobertura de metal, elimina os agentes patogênicos, ficando sem mau-cheiro, atraindo menos as moscas.

Quando uma fossa enche, os usuários usam a outra. Às vezes se decompõem em um fertilizante rico e seguro, que depois é retirado e usado como adubo orgânico para os cultivos. Em seguida, a fossa vazia fica pronta para ser reutilizada. Toda a estrutura é coroada por uma parede de tijolos para proteger a privacidade do usuário. A empresa local Falesi Jeffrey destacou que os banheiros exigem pouco espaço. “Podemos extrair o adubo após seis meses, quando os dejetos estarão misturados com as cinzas e o solo, e prontos para serem usados”, explicou.

Segundo a WaterAid, 80% dos países africanos estão atrasados no cumprimento da meta de saneamento fixada pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Entretanto, programas simples e rentáveis que fornecem saneamento e higiene podem reduzir não apenas os casos de diarreia, como também outras causas de mortes infantis, como desnutrição e pneumonia.

Martin Meke, encarregado de programa da WaterAid no Malauí, disse que, ao potencializar as comunidades para que construam seus próprios banheiros, a população pode manter o projeto, melhorando sua qualidade de vida. Manter estes banheiros não custa nada. Implica apenas que os membros da comunidade apliquem as cinzas e retirem o fertilizante quando estiver pronto. “Estas pessoas podem ser donas dos programas de água e saneamento, e também podem treinar outros membros de sua comunidade”, afirmou Martin.

Esther Sakala, uma das muitas pessoas que construíram seus próprios banheiros, lembra claramente da dor que sentiu quando morreu seu neto de quatro meses devido a uma diarreia. “Corri com o bebê para o hospital, mas todos os esforços foram em vão. Morreu dois dias depois de contrair diarreia. Peço urgência ao governo para investir mais recursos nestes banheiros modernos, para que possamos reduzir as mortes”, afirmou.

A Junta da Água de Lilongwe, empresa paraestatal encarregada da água e do saneamento na capital, parece ter ouvido as queixas e os planos de lançar um projeto quatrienal a respeito, com apoio financeiro da União Europeia, que complementará o trabalho já assumido por organizações não governamentais nesta área. O encarregado de relações públicas da Junta, Trevor Phoya, disse à IPS que com esses fundos serão construídos em Mgona cerca de 500 tanques, que no longo prazo ajudarão a população a obter água potável. Envolverde/IPS



(IPS/Envolverde)




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