Água - Quando a natureza (e a vida) será prioridade?

Data: 06/08/2010
É indiscutível a necessidade de racionalizarmos o uso da água doce. Qualquer criança alfabetizada sabe da necessidade de não desperdiçar esse recurso natural tão importante para a manutenção da vida. O mesmo não acontece quando o assunto é a necessidade de conservar toda a natureza, de manter as nossas florestas em pé.

Mas, será que existe uma forma de preservarmos a água do nosso Planeta sem conservarmos a natureza? Não, não há! Assim como o nosso corpo morre se nosso coração parar de bater, a água desaparece se não conservarmos a natureza. Não há como dissociá-las.

É da natureza que vem a nossa vida. É dela que vem não apenas a água que bebemos e o ar que respiramos, mas também o nosso alimento, a matéria prima que usamos para fabricar as nossas roupas, os móveis da nossa casa, os remédios que tomamos. No entanto, frequentemente esquecemos desta relação.

Cada dia que passa perdemos um pouco mais de nossas paisagens naturais e retiramos delas muito mais recursos do que a Terra tem capacidade para recompor naturalmente. Vemos o solo ser tratado como fonte inesgotável, as matas como empecilhos ao desenvolvimento, e as paisagens oceânicas como se não tivessem valor, uma vez que estão submersas.

Por mais que a necessidade de conservar o meio ambiente venha ganhando cada vez mais espaço e importância, as decisões ainda são adiadas. O assunto não é prioridade. O discurso é um, a pratica é outra. A sensação que fica é a do engodo. Medidas de proteção são anunciadas e não são implementadas, como um “sossega leão” aos defensores da conservação da natureza. Um exemplo claro disso é o adiamento de uma meta global de redução nas emissões de gases do efeito estufa, durante a 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP 15), que aconteceu em dezembro, na Dinamarca.

Decisões como a da COP 15 são difíceis, pois exigem consenso de todos os países envolvidos e os interesses de cada um são diferentes. São colocados na balança as potenciais perdas e ganhos de cada um, com determinada medida. Esquece-se, porém, que o lucro até pode ser individualizado, mas o prejuízo mais cedo ou mais tarde, é sempre coletivo.

Um estudo da Economia do Clima, divulgado no final do ano passado, mostra o quanto temos a perder. Os dados mostram que no Brasil perderemos R$ 3,6 trilhões até 2050, caso nada seja feito para reverter os impactos da mudança climática no país. As regiões mais vulneráveis são a Amazônia e a Nordeste, mas todos os estados sofrerão perdas na agricultura. A previsão é que também haja uma redução 31,5% a 29,3% no sistema de geração de energia hidrelétrica. Esses prejuízos coletivos seriam provocados pelo clima mais quente e seco e pela redução do fornecimento de água.

Nenhum governo adia decisões econômicas. Para salvar o mundo, e também o nosso país da crise financeira, as decisões são rápidas, gastam-se milhões e reduzem-se impostos. Para salvar o nosso patrimônio natural, as decisões são lentas, embora já esteja comprovado que conservar nosso patrimônio natural é muito mais barato do que recuperá-lo e que a real crise mundial é ambiental, não econômica.
Autora



Malu Nunes – engenheira florestal, mestre em Conservação da Natureza e diretora executiva da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

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