Ainda sobre o acidente no Golfo

Data: 04/08/2010

Ainda sobre o acidente no Golfo



Adriano Pires

Uma das conclusões principais sobre as causas do acidente no Golfo do México foi a negligência das autoridades americanas responsáveis pela regulação do setor de petróleo. O que transparece é que a agência reguladora americana estava capturada pelas empresas petroleiras.


Segundo investigações feitas pela Comissão de Energia e Comércio do Congresso Americano existia uma série de questões a respeito das decisões tomadas pela BP nos dias e horas antes da explosão da Deepwater Horizon. No dia 15 de abril, 5 dias antes da explosão, o engenheiro de perfuração da BP classificou o poço de Macondo como um “poço de pesadelo”. Apesar das dificuldades do poço, parece que a BP tomou múltiplas decisões por razões econômicas que aumentaram o risco de uma falha catastrófica no poço. Segundo a Comissão de Energia e Comércio do Congresso Americano, em diversas circunstâncias, estas decisões parecem ter violado as regras da indústria e foram tomadas apesar dos avisos do próprio pessoal da BP e de seus contratados. Com efeito, parece que a BP repetidamente escolheu procedimentos arriscados com o objetivo de reduzir custos e poupar tempo e adotou esforços mínimos para conter os riscos aumentados.


Na ocasião do “blow-out”, o poço de Macondo estava significativamente atrasado em relação ao planejado. Parece que isto criou pressões para que se buscassem atalhos para acelerar o término da perfuração. De modo especial, a Comissão está focalizando sua ação em cinco decisões cruciais adotadas pela BP:


1) A decisão de usar um projeto de poço dotado de poucas barreiras para o fluxo de gás;
2) A falha em usar uma quantidade suficiente de centralizadores para evitar um caminho preferencial durante o processo de cimentação;
3) A falha ao executar um registro de aderência da cimentação para avaliar a efetividade do serviço de cimentação;
4) A falha na circulação de lamas de perfuração potencialmente portadoras de gás fora do poço e;
5) A falha em proteger a cabeça do poço com uma luva de bloqueio antes de permitir que houvesse pressão sobre o selo vinda de baixo.


O aspecto comum dessas cinco decisões é que elas representam um mecanismo de compensação entre custo e segurança do poço e mostram que ocorreu ausência da agência reguladora americana responsável em evitar esse tipo de acidente.


No Brasil, a agência reguladora do petróleo e outras agências estaduais, em particular a do Rio de Janeiro, estão capturadas pelos partidos políticos e no caso da ANP, também, pela Petrobras. Para o bom funcionamento de qualquer agência reguladora é fundamental que tenha independência e que seus quadros sejam preenchidos por profissionais de reconhecida capacidade técnica pelo mercado. Caso contrário, é a sociedade que pagará a conta que virá através de acidentes, como o do golfo, ou pela prestação de péssimos serviços aos usuários, caso dos serviços das barcas e dos trens no Rio de Janeiro. De nada adianta grandes planos de contingência, nem grandes comprometimentos das empresas petroleiras, se as agências reguladoras estiverem capturadas, seja pelas empresas, seja pelos políticos.

(*) Adriano Pires é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), consultor e especialista renomado em energia. Ex-Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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