Benefícios da proteção privada

Data: 02/08/2010

Benefícios da proteção privada




Por Emilio Godoy*




As unidades de manejo ambiental privadas ocupam 34 milhões de hectares no México, mais de 17% do território, contra 25 milhões de hectares das áreas protegidas federais.

Amecameca, México, 2 de agosto (Terramérica).- O governo do México quer promover áreas privadas dedicadas ao uso sustentável da natureza, uma ferramenta criada em 1997 neste país megadiverso, mas que ainda tem muitas deficiências, segundo especialistas. Há dez anos, o engenheiro Luis Alvarado decidiu comprar um terreno em um município central do México, degradado pelo corte ilegal e pelo esquecimento. Essas terras, 25 hectares, formam hoje a unidade de manejo ambiental (UMA) Temaxcal, criada em 2002 no povoado de Amecameca, 58 quilômetros a sudeste da capital mexicana. Aqui habitam cerca de 70 espécies animais e aproximadamente 200 de vegetais.

A 2.420 metros de altitude, Temaxcal está localizada nas ladeiras do vulcão Iztachcíhuatl, de 5.286 metros de altura, e oferece diferentes paisagens e formas de contato com a natureza, educação ambiental e paineis sobre manejo de recursos naturais. Ali também são criados animais silvestres, como o veado de cauda branca (Odocoileus virginianus), que tem várias subespécies em risco de extinção, para sua posterior liberação e introdução na região. A raposa cinza, o falcão de cauda vermelha e a coruja do campo são outras espécies nativas criadas em Temaxcal.

“Começamos a trabalhar em reflorestamento. A experiência mostrou que é possível cuidar da floresta e nos beneficiarmos dela”, disse ao Terramérica o diretor do projeto, Francisco Paiz, originário da localidade e encarregado da organização não governamental Mater Natura, que desde 2004 administra Temaxcal. Crescem árvores com o pinheiro branco mexicano, o oiamel (uma espécie de abeto), o cipreste de Montezuma ou ahuehuete (Taxodium mucronatum), e o cedro.

“Com os anos, podem ser vistas as mudanças. A fauna voltou, o desmatamento foi detido e o solo recuperado”, afirmou Francisco. Para este ano, o objetivo é plantar cinco mil árvores de várias espécies, e são esperados vários exemplares do coelho dos vulcões ou teporingo (Romerolagus diazi), endêmico da região e também ameaçado. Em julho, Temaxcal recebeu mais de 250 visitantes. Segundo seus responsáveis, o modesto orçamento semanal, de US$ 267, é composto com o que é arrecadado das atividades produtivas e educativas e com as visitas.

As UMAs (Unidade para Conservação, Manejo e Aproveitamento Sustentável da Vida Silvestre) são basicamente terrenos onde os recursos naturais existentes são utilizados, de forma direta ou indireta, com um plano de manejo. Os benefícios econômicos ficam em mãos de seus proprietários. Trata-se de “um bom exemplo do que podemos fazer para dar valor econômico aos ecossistemas”, afirmou em um seminário organizado pelo Terramérica o biólogo José Sarukhán, coordenador da governamental Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade (Conabio). “A biodiversidade não tem um valor econômico”, acrescentou.

As primeiras UMAs foram criadas em 1997 pelo Ministério de Meio Ambiente, Recursos Naturais e Pesca como parte do Programa de Conservação da Vida Silvestre e Diversificação Produtiva no Setor Rural 1997-2000. Até 15 de julho, o Ministério (Semarnat), tinha 9.824 unidades inscritas, ocupando pouco mais de 34 milhões de hectares, que representam 17% do território mexicano, tendo gerado US$ 393 milhões para seus proprietários. Competem por financiamento e apoio técnico com as 174 áreas protegidas federais, que totalizam pouco mais de 25 milhões de hectares.

As formas de propriedade das UMAs são variadas, de individuais a comunitárias, e em exidos, que foram concedidos a um núcleo populacional como parte da divisão agrária. Os terrenos comunitários pertencem a uma comunidade, e não estão divididos nem têm títulos de propriedade. As UMAs “são uma boa ferramenta para proteger a biodiversidade e gerar benefícios, mas falta apoio, como mais dinheiro e assessoria técnica”, disse ao Terramérica o fundador e encarregado do manejo de bacias da não governamental Coletividade Rozanatura, Olmo Torres.

As atividades frequentes são a caça esportiva – de exemplares criados e de espécies que não estejam sob ameaça –, fornecimento de insumos para a indústria e o artesanato, ecoturismo, pesquisa e educação ambiental. Não há normas para incentivar ou desestimular sua implantação em certas áreas, e são muito mais abundantes nos Estados de Coahuila, Sonora, Nuevo León, Tamaulipas e Tabasco. No Estado do México, onde fica o município de Amecameca (lugar onde os papeis apontam, em língua indígena náhuatl) há, pelo menos, seis unidades.

Em Temaxcal, o visitante desfruta de atrativos como o riacho Tomacoco, que flui do alto do vulcão e significa “distribuidor do sustento da vida” (em náhuatl), e de um exemplar de cipreste de Montezuma conhecido como “el candelabro”, pela forma de seus galhos, que tem 200 anos de idade e 40 metros de altura. Além disso, por aqui vaga o Coatepoxtle, um espírito guardião da floresta, segundo uma lenda local.

Para obter a qualificação de UMA, os proprietários do terreno devem apresentar os papeis que comprovem seus direitos, o plano de manejo da fauna e da flora nativas, e de contingência para lidar com espécies exóticas. A Semarnat concede autorizações depois de analisar a informação e inspecionar os locais. Como Temaxcal, as UMAs podem ser autênticos laboratórios ecológicos. Aqui, duas células solares fornecem energia e está planejada a coleta de água da chuva para uso doméstico.

O México figura entre as 15 nações de maior diversidade biológica do mundo. “Porém, é preciso repensar e reestruturar as categorias existentes”, sugeriu Olmo, biólogo da estatal Universidade Nacional Autônoma do México. No transcurso deste ano, a Semarnat modificará o mecanismo, que passará a chamar-se Terra Integrada ao Manejo da Vida Silvestre Confinada e vai catalogar de forma mais específica suas modalidades e fins produtivos.

* O autor é correspondente da IPS.


Envolverde


< voltar