Desinfecção da água

Data: 29/07/2010

Desinfecção da água



Uma técnica simples e caseira, porém, pode ser a resposta para desinfectar água



Um milhão e seiscentas mil pessoas morre anualmente no mundo por falta de acesso à água potável e saneamento. É quase um Sergipe inteiro. Segundo um relatório apresentado recentemente pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, a maioria das mortes afeta crianças com menos de 5 anos e o Brasil não se encontra alheio a essa realidade.

Uma técnica simples e caseira, porém, pode ser a resposta para desinfectar água: trata-se de colocar o produto em garrafas PET em contato com o sol.

Ainda pouco usual, o efeito obtido iguala-se à conhecida técnica de ferver a água por uns minutos antes de consumi-la. Entretanto, ao utilizar o sol, dispensa-se, naturalmente, o gasto com gás, recursos naturais e dinheiro.

"Nessa técnica simples não usamos engenharia. É uma forma de resolver problemas sociais com ideologia", diz o professor Paulo Mário Machado Araújo, coordenador do Núcleo de Engenharia Mecânica da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

Como o sol atua? "É um efeito sinergético: o sol opera com radiação ultravioleta mais o efeito térmico". Recomenda-se que as garrafas sejam transparentes e colocadas no chão ou no telhado.

O estudo realizado nos povoados de Robalo, Mosqueiro e Areia Branca, em Aracaju, e nos municípios de Brejo Grande, Pacatuba e Pirambu demonstrou que bastam quatro horas entre 9h e 15h no período de sol forte para liquidar os microorganismos causadores de doenças.

"Mas quanto mais tempo, melhor", reconhece o pesquisador, "ainda mais se o céu estiver com nuvens". O tempo de exposição ao sol pode variar de acordo com a região do país. Pesquisas indicaram que, em alguns locais, necessita-se expor a água por um período de seis horas.

O procedimento, que em inglês denomina-se Sodis, é recomendado pela ONU às populações que não têm assistência de água, como as que se utilizam de fontes naturais, cisternas, poços ou cuja água é de origem duvidosa. A técnica foi desenvolvida na Suíça e disseminou-se principalmente pelos países em desenvolvimento.

Há de se lembrar que o produto distribuído pelas companhias de água tem tratamento específico. O mais comum é o químico, quando se utiliza cloro, por exemplo. Nesse caso, não necessita desinfectá-lo. A única atenção deve residir sobre os recipientes de armazenamento. Até os filtros devem ser limpos de tempos em tempos.

Doenças e água

Diarréia e cólera constituem as doenças mais relacionadas à contaminação da água. Porém, há um número muito maior de enfermidades ocasionadas pela ingestão ou contato com a água imprópria, como hepatite, giardíase, amebíase, leptospirose, esquistossomose ou barriga d´água, verminoses, micoses e outras.

Em Aracaju, a comunidade do povoado Areia Branca possui dois problemas que na verdade transformam-se em apenas um, mas grande. Ela se abastece via poço e suas casas possuem fossa séptica. Como os poços são rasos, com uma profundidade entre 8 e 12m, a contaminação parece inevitável.

"Além disso, não se respeita a distância de 40m entre a fossa e o poço, pois o povoado tem crescido vertiginosamente e as moradias a cada dia ficam mais próximas umas das outras", conta o médico Rubens Araújo, que atua há cinco anos no local atendendo 5.500 pacientes.

Com o trabalho empreendido pela prefeitura, a população viu-se no dever de cuidar da qualidade de sua água. O método mais utilizado trata-se da cloração por meio do hipoclorito, cuja distribuição fica a cargo da unidade de saúde local.

"Divulgamos o método de desinfecção solar, que é barato, mas em relação a cloração é menos utilizado, talvez por ser mais conhecido", opina o médico.

A água no mundo

Menos de 3% da água da Terra é doce. Desta, mais de dois terços encontram-se inacessíveis para consumo do homem. O Brasil possui cerca de 12% da água doce do mundo, porém pouco mais da metade (54%) desse total localiza-se na Amazônia e na bacia do rio Tocantins, locais onde a população é muito pequena.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a escassez de água já afeta 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo.

Rev Meio FIltrante


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