Incidência das florestas tropicais na paz e no desenvolvimento
As florestas das regiões tropicais têm um papel cada vez maior no mundo, não apenas por fornecer recursos renováveis, como também por oferecer a oportunidade de colaboração entre países, acima das fronteiras políticas. Esta é uma das premissas sobre as quais foi realizada a conferência internacional sobre conservação da biodiversidade nas florestas tropicais transfronteiriças, que reuniu na semana passada, em Quito, cem delegados de 30 países e de meia dezena de organismos.
A confluência das características ecológicas e econômicas das florestas tropicais proporcionam oportunidades de ganhar-ganhar, disse à IPS o paquistanês Saleem H. Ali, professor de Planejamento Ambiental da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos. Devemos desterrar a ideia de que se trata de um jogo de resultado zero, devido ao valor de uso da terra, onde se um ganha outro tem de perder, afirmou. O que estamos aprendendo é que inclusive partes em conflito em áreas fronteiriças podem encontrar mecanismos de cooperação, acrescentou.
Esta cooperação com frequência é iniciada pelas populações locais, que exercem pressão sobre seus governos para que encontrem mecanismos de colaboração na proteção da biodiversidade, e apóiem o uso racional dos recursos madeireiros e, em geral, dos bens e serviços ambientais destas florestas. Por bens e serviços ambientais entende-se as funções das florestas como captadoras de umidade e carbono, agente de melhoria do clima e custódia da biodiversidade, isto é, os parentes silvestres da comida que os seres humanos consomem.
O biólogo Roberto Ulloa, disse à IPS que a visão da América Latina e do Caribe na conservação da biodiversidade é o resultado de uma evolução no pensamento científico assumido há vários anos. Primeiro foi o enfoque sobre as áreas protegidas, depois vimos que o problema estava um pouco mais além e começamos a apontar zonas de amortização, mais tarde nos demos conta de que se devia pensar em paisagens maiores e complexas e falamos de corredores biológicos, disse Roberto, coordenador de Políticas Ambientais da Conservação Internacional no Equador, uma das organizações não governamentais que organizaram o evento.
Atualmente, falamos da conservação da biodiversidade em florestas transfronteiriças porque as espécies, de flora ou fauna, não reconhecem fronteiras, assim como as ações que atentam contra elas, como a exploração ilegal de madeira ou o tráfico de animais completou. O objetivo desta conferência foi analisar o estado atual da biodiversidade nas áreas de conservação transfronteiriças tropicais (ACTT) e os caminhos futuros possíveis para sua conservação, manejo e financiamento, informou à IPS, por sua vez, o brasileiro Eduardo Mansur, diretor de Reflorestamento e Ordenamento Florestal da Organização Internacional da Madeira Tropical (ITTO).
A conferência, na qual foram apresentados casos de ACTT na Ásia, África e América Latina, com sucessos e fracassos, as dificuldades encontradas e as lições aprendidas, permitiu que os atores interessados estudassem as repercussões e os impactos sociais, econômicos e políticos dos projetos, acrescentou Eduardo. O próprio diretor mundial da ITTO, o camaronês Emmanuel Ze Meka, explicou à IPS que, além da análise, a conferência buscou determinar as melhores estratégias para o manejo eficaz das áreas transfronteiriças na conservação de sua biodiversidade, mitigação da mudança climática e aprimoramento dos meios de sustento locais, bem como uma melhor observância das leis e da governabilidade do setor florestal.
Vários dos expositores dos casos enfatizaram a necessidade de contar, além da vontade política das autoridades nacionais, regionais e locais, com o compromisso das populações que vivem nestas áreas protegidas. Os projetos de conservação devem emergir das necessidades reais para combater os problemas de magnitude binacional e não das oportunidades de financiamento, já que no caso do segundo, os projetos morrem quando o dinheiro acaba, citou, como exemplo, a bióloga Blady Bohórquez, do Ministério do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial da Colômbia.
De fato, devem ser identificadas alternativas produtivas não degradantes que tornem factível economicamente o uso dos recursos renováveis pelas populações nativas destas áreas, destacou Ángel Onofa, do Ministério do Meio Ambiente do Equador, ao apresentar o caso da conservação da biodiversidade no plano trinacional que une as áreas protegidas de Güepí, no Peru, La Paya, na Colômbia, e Cuyabeno, no Equador. Para Eduardo, também é importante identificar oportunidades para aumentar o financiamento disponível para projetos de ACTT em conexão com os fundos dirigidos ao processo da mudança climática, à observância das leis florestais, dos acordos e convênios internacionais e de outras iniciativas.
A conferência, que incluiu discussões em grupos de trabalho, elaborou recomendações para melhorar a reformulação, administração e financiamento de projetos e programas de ACTT, aumentando sua visibilidade, com vistas à X Conferência das Partes do Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, que acontecerá em outubro na cidade japonesa de Nagoya. Por isso, o desejo é aumentar o perfil das ACTT, destacando os principais problemas e desafios junto com a revisão profunda prevista para o programa de trabalho da própria Convenção da Biodiversidade sobre áreas protegidas. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
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