Desafios que enfrentamos rumo à sustentabilidade

Data: 19/07/2010

Desafios que enfrentamos rumo à sustentabilidade


Vilmar Berna é escritor e jornalista, editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente. Mais informações: www.escritorvilmarberna.com.br

Ainda me perguntam sobre o Jornal do Meio Ambiente, que fundei em 1996 e, uma década depois, em 2006, em sua 113ª edição, mudou para Revista do Meio Ambiente, e começamos tudo de novo, e já ultrapassou a 31ª edição. A ‘casca’ que o abrigou o Jornal naqueles dez anos, tornou-se pequena para os novos desafios diante do interesse crescente da sociedade nas questões ligadas ao meio ambiente e a importância estratégica da democratização da informação ambiental para formar cidadania ambiental e produzir as mudanças necessárias em direção a um novo modelo.

O primeiro desafio foi criar uma organização jurídica que se responsabilizasse pela nova revista, e a solução foi a transformação do antigo IBVA – Instituto Brasileiro de Voluntários Ambientais na nova REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental, uma Organização da sociedade Civil – OSC, sem fins lucrativos, que nasceu com a missão de democratizar a informação ambiental. Para isso, além de editar veículos de comunicação especializados em meio ambiente, distribuídos gratuitamente, tem procurado associar-se a outras redes, pessoas e organizações imbuídas do mesmo ideal pela democratização da informação socioambiental no Brasil. Os fundadores da REBIA acreditam que devem ser a mudança que querem ver no mundo e que o mundo melhor, mais fraterno, justo e ecológico que desejamos, é possível, mas deve começar em cada um de nós. Também acredita que só haverá mudança entre um estilo de vida poluidor e injusto e outro sustentável e solidário se a sociedade tiver acesso a informações ambientais de qualidade e independentes que a tornem capaz de fazer escolhas melhores. Além disso, também é necessário existir mecanismos de alerta da cidadania para evitar que, por um lado, o meio ambiente continue sendo degradado e, por outro, as ações e projetos que resultem na recuperação e na proteção ambiental e na melhor distribuição de riquezas tenham o merecido destaque por que reforça na sociedade o sentimento de que ainda há tempo para agirmos e mudarmos. Por isso, a REBIA procura fazer a sua parte, na medida de suas forças e capacidades, de forma voluntária e sem fins lucrativos, oferecendo gratuitamente à sociedade informação ambiental independente e sistemas também independentes de monitoramento e alerta ambiental, buscando atuar como uma espécie de observatório da cidadania ambiental, mantendo os olhos abertos para denunciar as agressões ambientais e também para dar o devido destaque e merecimento a projetos e ações que estão ajudando na recuperação e na proteção do meio ambiente, incluído aí o ser humano.

O segundo desafio foi encontrar um novo formato editorial e gráfico para a nova Revista do Meio Ambiente. Tentamos diversas possibilidades até nos fixarmos em duas versões, uma virtual - que tem sido baixada mensalmente pela média de 5.000 leitores direto do Portal do Meio Ambiente - e uma versão impressa, com 25.000 exemplares em média, circulação nacional e distribuição gratuita e dirigida ao público formador e multiplicador de opinião interessado em meio ambiente. O formato escolhido foi o de 19,5 cm de largura por x 25,50 cm de altura, papel off-set, grampeada, colorida. Escrita em linguagem acessível, a Revista é feita a partir das notícias mais lidas no Portal do Meio Ambiente, que dispõe de um contador que registra as notícias mais acessadas. Assim, quem faz a Revista do Meio Ambiente é o próprio leitor, que aponta entre as mais de 300 notícias que publicamos mensalmente no Portal aquelas que mais interessaram. Assim, a Revista do meio Ambiente é também uma forma de análise da conjuntura ambiental brasileira indicando o que de mais interessante aconteceu no mês. Atualmente, a Revista está em sua 31ª edição e cumpre o papel de substituir o Jornal do Meio Ambiente, que deixou de circular após 113 edições e mais de 2 milhões de exemplares distribuídos nos seus 10 anos de existência.

O terceiro desafio foi ampliar o antigo site do Jornal do Meio Ambiente para transformá-lo no Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br ). Hoje, o portal supera 150.000 acessos ao mês, e este número é auditado de maneira independente através do Google Analytics. São quase dois milhões de visitas ao ano! Um número digno de comemoração por tratar-se de um tema especializado e que demonstra a importância da REBIA para a formação de uma nova consciência ambiental em nosso país.

O quarto desafio foi criar canais de comunicação livres e permanentes de mão dupla para a troca de informações e debates socioambientais entre os leitores o que foi feito através da criação de seis novos fóruns livres e permanentes de debates ambientais. Surgiu assim a REBIA NACIONAL, destinada aos debates dos temas ambientais nacionais e planetários, e cinco REBIAS regionais (REBIA SUL, REBIA SUDESTE, REBIA CENTRO-OESTE, REBIA NORDESTE e REBIA NORTE) que juntas já reúnem, hoje, cerca de 3.000 membros ativos, que são por sua vez multiplicadores de opinião para demais grupos, redes, veículos.

O quinto desafio foi a criação e manutenção da Agência REBIA de Notícias Ambientais para o envio diário de dez novas notícias ambientais através do boletim digital NOTÍCIAS DO MEIO AMBIENTE hoje com mais de 215.000 leitores cadastrados e que recebem diariamente notícias atualizadas em meio ambiente.

A importância da democratização da informação socioambiental

As escolhas da sociedade tenderão a ser tanto melhores quanto melhores forem as informações ambientais que conseguirem chegar ao povo. Se estas informações forem insuficientes, falsas, tendenciosas ou dominadas pelas forças que desejam manter os atuais rumos insustentáveis de consumismo e poluição, isso certamente influenciará em nossas decisões. Por isso é tão importante, na verdade fundamental e estratégico para a sustentabilidade, refletirmos sobre a comunicação e a publicidade que são apenas ferramentas, que tanto podem estar a serviço de um modelo consumista e desperdiçador ou a serviço da sustentabilidade, dependendo dos valores que motivam nossas escolhas.

Um dos motivos que impede a democratização da informação socioambiental comprometida com valores sustentáveis é a falta de financiamento para esta informação. Portanto, assegurar tais recursos não se trata de uma reivindicação meramente comercial, mas de uma estratégia em opor-se à informação baseada no consumismo e no desperdício como valores em nossa sociedade. A ausência de políticas públicas e conseqüentemente verbas públicas para campanhas de propaganda e marketing ambientais, que ofereçam um contraponto à propaganda e ao marketing comprometidos com o consumismo crescente e ilimitado, reforça na sociedade brasileira a permanência por escolhas tradicionais, insustentáveis, consumistas, desperdiçadoras. Hoje, quem financia a publicidade é a lógica do mercado que está comprometida com lucros, também crescentes e, de preferência, ilimitados. Para vender mais usam das ferramentas da propaganda e do marketing para criar necessidades e desejos onde as pessoas nem sabiam que tinham, transformar em mercadorias sentimentos e o psicológico das pessoas (por exemplo, o medo da violência em venda de armas e sistemas de segurança). Um mesmo consumidor é estimulado a trocar um produto bom, que ainda funciona bem, por outro quase igual, mas com um pequeno diferencial para o querer se livrar daquele que ainda funciona para comprar um novo. Isso quando o mercado não providencia para que um produto que poderia durar muito mais já saia da fábrica programado para durar menos, assim o consumidor terá de comprar de novo e descartar o usado que ainda poderia servir.

A mesma ferramenta da propaganda e marketing que tem sido usada a serviço da destruição e do mau uso dos recursos do Planeta, pode – e deve – ser usada para sensibilizar as pessoas para a necessidade de mudar seus hábitos de consumo, levar as pessoas a refletirem e fazerem escolhas melhores no próprio ato de consumir, recusando produtos poluidores, de obsolescência planejada, desperdiçadores de recursos naturais, não recicláveis, emissões de carbono, por outros, mais sustentáveis e também solidários no sentido de promover a inclusão social.

O Brasil compreende isso e incluiu na lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que criou a Política Nacional de Educação Ambiental, o art. 5º, inciso II, que garante a democratização das informações ambientais como um dos objetivos fundamentais da educação ambiental. Durante a Eco 92, o Governo Brasileiro assinou também na Agenda 21 o compromisso de (artigo 40.18) "sempre que exista impedimento econômico ou de outro tipo que dificultem a oferta de informação e o acesso a ela, deve-se considerar a criação de esquemas inovadores para subsidiar o acesso a essa informação ou para eliminar os impedimentos não econômicos." Assinou, mas não cumpre, ainda. Para tirar estes compromissos e direitos do papel os governantes precisam perceber a mobilização da sociedade em torno da causa, já que são tantas as prioridades e o cobertor do orçamento geralmente é curto. Atualmente, apenas a chamada Grande Mídia, não especializada em meio ambiente, recebe o aporte das verbas públicas através da publicidade de empresas do Governo Federal. Um pequeno percentual disso poderia estar financiado as mídias ambientais, como sugerido em moção aprovada por pelos mais de 2.000 representantes da sociedade civil durante a II Conferência Nacional de Meio Ambiente.

A pesquisa “O que o brasileiro pensa do meio ambiente”, do ISER/MMA, tem constatado que a conscientização do brasileiro em relação ao meio ambiente aumentou 30% nos últimos 15 anos e cresceu o número de brasileiros que não consideram exagerada a preocupação com o meio ambiente (42% em 97; 46% em 2001 e 49% em 2006). Por outro lado, outra pesquisa, também do ISER/MMA, realizada com 1.141 dos 1.337 delegados participantes da “II Conferência Nacional de Meio Ambiente”, em fev 2005, constatou que a falta de informação sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental está incluída por estes multiplicadores de opinião entre os três principais problemas ambientais brasileiros.


Portal do Meio Ambiente


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