Novo padrão climático transtorna agricultura

Data: 15/07/2010

Novo padrão climático transtorna agricultura


A mudança climática causará distorções na agricultura no Meio-Oeste dos Estados Unidos. A maior quantidade de dióxido de carbono favorecerá o crescimento dos cultivos, mas as tempestades mais fortes, secas e inundações causarão a perda das colheitas. Em geral, há sinais de que os cultivos serão afetados e que as ervas daninhas e os insetos estenderão seu raio de ação. O clima nos estados do Meio-Oeste (que inclui parte do centro e nordeste do país) já ficou mais úmido e quente, disse Gene Takle, cientista atmosférico da Universidade do Estado de Iowa.

Isso poderia causar uma extensão da temporada de cultivos e uma economia em ar-condicionado para os produtores, mas não garantirá, necessariamente, mais colheitas. O modelo de Gene prevê que as precipitações no Meio-Oeste aumentarão 21% até 2040, enquanto o caudal dos riachos crescerá 50%. Suas conclusões são semelhantes às do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) e do norte-americano Programa de Pesquisas sobre Mudança Climática.

“A mudança climática está acontecendo a um ritmo muito mais acelerado do que jamais esperamos há 30 anos”, disse Richard Leopold, diretor do Departamento de Recursos Naturais de Iowa. As grandes inundações de 2008, que destruíram grande parte de Cedar Rapids, a segunda maior cidade deste Estado do centro do país, intensificaram o debate. Um painel estadual fez uma série de recomendações no final daquele ano. “Se decidirmos, como Estado, reduzir significativamente as emissões de gases-estufa rapidamente, de fato poderemos fazê-lo”, afirmou o senador Rob Hogg, do governante Partido Democrata e originário de Cedar Rapids. “Há muitas coisas que podemos fazer sem custo, e outras que podem ser feitas a um custo muito baixo”, acrescentou.

Um dos estudos de Gene usou a experiência de Iowa para mostrar a pressão que já existe sobre os Estados do Meio-Oeste, principais exportadores de alimentos. Por exemplo, as precipitações aumentaram gradualmente em Iowa durante o último século, mas podem variar drasticamente de ano para ano. As primaveras agora são mais úmidas e os outonos mais secos. Isso pode dificultar a cultivo de milho. Os registros mostram aumento da umidade absoluta, o que eleva os riscos de doenças e fungos daninhos nas plantações.

As tempestades de verão poderiam ficar mais intensas. O Meio-Oeste dos Estados Unidos luta para evitar grandes inundações esse ano. Novos modelos preveem chuvas mais intensas e problemas associados. Além disso, invernos mais amenos podem trazer mais probabilidades de chuva do que de neve. Isso aumentaria ainda mais a umidade da terra. Os registros analisados por Gene mostram que, em média, haverá cinco dias a mais sem geadas por ano em Iowa do que havia em 1950. Isso não significa que os produtores terão mais tempo para cultivar, já que também haverá mudanças nos padrões das precipitações.

Em geral, o Iowa tem agora invernos menos severos, mas também poucos dias de verão extremamente quentes. Espera-se que todo o Meio-Oeste se torne mais quente em meados deste século, mas não tanto como em outras partes do país. O IPCC citou pesquisas sugerindo que o aumento do dióxido de carbono (CO²) fará com que as plantações cresçam mais rápido, mas acrescentou que no longo prazo estas dependerão de outros fatores. “Os resultados de um grande número de experimentos planejados para examinar os efeitos das concentrações elevadas de CO² nos cultivos, geralmente confirmam a alta confiança em um efeito benéfico de fertilização, até certo nível”, diz o informe do painel.

O Programa de Pesquisas sobre Mudança Climática fez uma previsão semelhante em um informe de setembro de 2009. “Muitos cultivos mostram respostas positivas ao dióxido de carbono elevado e com baixo aquecimento, mas os níveis mais altos de aquecimento afetam o crescimento e as plantações”, destaca o relatório. Essa organização também informou outros problemas potenciais, como o transtorno na pecuária. Um tema fundamental é a severidade das chuvas esporádicas.

“Eventos extremos como fortes aguaceiros ou secas provavelmente reduzirão os cultivos porque o excesso e o déficit de água têm impactos negativos nas plantações”, acrescentou a organização. Outra ameaça provém das pragas, tanto plantas como insetos, que se propagarão para áreas onde atualmente os cultivos não são tratados com pesticidas. “Doenças e insetos são favorecidos pelo aquecimento, bem como as ervas daninhas, que também se beneficiam com as maiores concentrações de dióxido de carbono”, diz o informe.

Esse fenômeno já é constatado em alguns campos. Os produtores de áreas mais quentes devem aplicar mais pesticidas do que seus colegas do norte. Por exemplo, os agricultores de milho doce no Estado da Flórida aplicam pesticidas entre 15 e 32 vezes ao ano, enquanto apenas no Estado de Nova York empregam cinco vezes, ou menos. Os cientistas também alertam que “o crescente calor, as enfermidades e os extremos climáticos provavelmente reduzirão a produtividade na pecuária. A qualidade da forragem nas pastagens geralmente diminui quando crescem as concentrações de dióxido de carbono”, explicaram. IPS/Envolverde

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(IPS/Envolverde)


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