Portas abertas para a energia limpa

Data: 15/07/2010

Portas abertas para a energia limpa




Por Danilo Valladares, da IPS




A alta dependência da importação de petróleo, a falta de eletricidade em áreas rurais e a busca por um desenvolvimento sustentável levam a América Central a privilegiar as energias renováveis. Porém, não faltam críticas aos grandes projetos. Honduras prevê colocar em funcionamento este ano uma das maiores centrais de energia eólica da América Latina, com geração de cem megawatts. A unidade vai operar no município de Santa Ana, a 24 quilômetros da capital do país, e seu investimento é de US$ 250 milhões, segundo sua proprietária, a empresa Energia Eólica Honduras, subsidiária da Mesoamerica Energy, formada por 15 grupos empresariais da região.

Este país também investirá US$ 2,1 bilhões em 52 projetos hidrelétricos com capacidade de geração de menos de cinco megawatts cada um entre 2010 e 2016, anunciou no mês passado a Associação Hondurenha de Pequenos Produtores de Energia Renovável. “Os fundamentos para isso são três aspectos: segurança energética, ao evitar a dependência dos preços internacionais do petróleo; melhoria do acesso a energia em zonas rurais e o desenvolvimento sustentável”, disse à IPS Elsia Paz, presidente dessa entidade.

Segundo Elsia, é importante a promoção desta energia para conseguir uma diversificação balanceada da matriz energética, já que 70% da geração está baseada no uso de hidrocarbonos, “um recurso que não é natural, é importado e causa fuga de divisas”, afirmou. Honduras é o exemplo da alta dependência do petróleo na América Central para gerar eletricidade.

Na década de 80, perto de 75% da eletricidade na região eram gerados com fontes renováveis, principalmente a hidrelétrica. Essa porcentagem caiu para 50% hoje em dia, segundo a não governamental Fundação Rede de Energia (BUN-CA), com sede na Costa Rica. O restante corresponde ao uso de hidrocarbonos. O Ministério de Energia e Minas da Nicarágua anunciou, em maio, que a totalidade da energia a ser gerada em 2016 virá de fontes renováveis mediante a execução do Programa Nacional de Eletrificação Sustentável e Energias Renováveis.

Tal como ocorre em Honduras, 70% da energia elétrica na Nicarágua é gerada com derivados de petróleo e 30% com recursos renováveis, segundo dados oficiais. Por isso, está sendo construído o projeto hidrelétrico Tumarín, o maior do território, na Região Autônoma do Atlântico Sul da Nicarágua. Por trás do complexo, que produzirá 220 megawatts, está o consórcio brasileiro Queiroz Galvão-Eletrobrás.

Tumarín sofreu a rejeição de comunidades vizinhas que argumentaram não terem sido ouvidas sobre o projeto e que este teria consequências negativas sobre toda a bacia do Rio Grande de Matagalpa. A obra, que exige investimento superior a US$ 600 milhões, passará a ser administrada pelo Estado nicaraguense em 30 anos. Já o parque eólico Amayo I e II, de capitais norte-americanos, guatemaltecos e nicaraguenses, é o maior em operação até agora na América Central. Localizado às margens do Lago da Nicarágua, ao sul do departamento de Rivas, gera 63 megawatts.

Luis Molina, da unidade de Controle Ambiental do Ministério de Energia e Minas nicaraguense, informou à IPS que procuram implementar projetos de energia renovável para reduzir os gases-estufa, causadores do aquecimento global, e a fuga de divisas com a compra de hidrocarbonos. O funcionário explicou que em nível macro o objetivo principal é conseguir que toda a energia gerada seja renovável, enquanto em um nível micro que seja ampliada a cobertura de eletricidade em área rural.

Cerca de 10 milhões de pessoas, de uma população total de 40 milhões, carecem do serviço de energia elétrica na América Central, que, além de Guatemala, Honduras e Nicarágua, é integrada por Belize, Costa Rica. El Salvador e Panamá. Em El Salvador, que já produz biocombustíveis e energias solar e geotérmica, a Agência Japonesa de Cooperação Internacional financiará com US$ 1,5 milhão a elaboração de um plano-mestre de desenvolvimento de energias renováveis a começar no final do ano. Cerca de 60% do potencial da região é hidráulico.

Dos 22 mil megawatts deste tipo de energia possíveis de serem explorados, o istmo centro-americano usa apenas 17%, segundo o Conselho de Eletrificação para a América Central. A Costa Rica é a maior geradora de energia limpa na região, com 80% proveniente de hidrelétricas, segundo o estatal Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE). Sua presidente, Laura Chinchilla, revelou que deseja converter a Costa Rica no primeiro país do mundo a se abastecer 100% com energia renovável.

Entretanto, nem tudo é fácil. Otto Ruiz Balcárcel, coordenador de Energia Renovável do Ministério de Energia e Minas da Guatemala, disse à IPS que há muita desinformação sobre a energia renovável, o que limita os investimentos. “Há povoados que pensam que a água fica contaminada nas turbinas das hidrelétricas e os investidores não conseguem explicar como funciona”, disse. Mesmo assim, a Guatemala caminha para impulsionar a energia limpa com a abertura de mais hidrelétricas, principalmente, acrescentou.

Na outra ponta, Oscar Conce, ativista do grupo ambientalista Madreselva de Guatemala, disse à IPS que projetos de energia renovável como hidrelétricas alteram os ecossistemas onde habitam as comunidades rurais, que não são levadas em conta quando as obras são realizadas. “São negócios transnacionais ou nacionais que usam a água em beneficio próprio e que as comunidades apenas a veem passar”, ressaltou. IPS/Envolverde



(IPS/Envolverde)


< voltar