Diretor Metropolitano concede entrevista à rádio CBN sobre plantas aquáticas na Guarapiranga

Data: 13/07/2010

Diretor Metropolitano concede entrevista à rádio CBN sobre plantas aquáticas na Guarapiranga


Confira ENTREVISTA:

Âncora - E a gente muda de assunto e volta a falar sobre a represa de Guarapiranga.Ainda ontem ouvimos aqui uma bióloga que nos contou sobre essa invasão da represa de Guarapiranga pelas algas. Não se tem nem idéia da quantidade de algas que tem e o tamanho dessa mancha verde, que parece mais um gramado. E agora estamos na outra ponta da linha com o outro lado dessa história, que é a Sabesp. Estamos em contato com o diretor Metropolitano da Sabesp, o Paulo Massato. Olá, Paulo,bom dia.

Paulo Massato - Bom dia, Fabíola.

Âncora - Bom, como é que a Sabesp está lidando com essa situação das algas na represa de Guarapiranga? Isso ameaça a saúde da população, que bebe a água que vem da represa?

Paulo Massato - De forma nenhuma, Fabíola. Essas plantas aquáticas são plantas que o pessoal muitas vezes usa até em aquários residenciais. Tem uma denominação científica genérica de macrófitas.São as alfaces-d'água, os jacintos-d'água. São plantas que a população conhece e utiliza como ornamento em residências.Essas plantas não fazem mal nenhum á qualidade da água da represa.Muito pelo contrário. Contribuem para a remoção de eventuais nutrientes que estão na represa. O que ela atrapalha um pouco a Sabesp é que ela vai até o ponto de captação da nossa água, onde nós tiramos a água para abastecer 3 milhões de pessoas, próxima da barragem. Nesse momento nos temos de fazer uma remoção mecânica dessas plantas. Essas plantas sempre estiveram na represa. Não surgiram espontaneamente, nao foi um processo repentino que levou as plantas aquáticas a aparecerem.

Âncora - Mas elas se intensificaram muito no final de 2009.Pelo menos o que a bióloga falou é que tem aumentado demais

Paulo Massato - Então, Fabíola, antes das chuvas - nós estamos até acompanhando o monitoramento através de satélite, das fotografias, é possível até visualizar a concentração dessas plantas -, elas estavam restritas às àreas de várzea, de inundação. elas estavam paradas lá. Nós tivemos chuvas intensas em dezembro e em janeiro. Depois de décadas, a represa ficou cheia, plena. O nível das águas subiu muito, algo em torno de 2 metros. Quando a água se elevou, ela retirou as plantas que estavam nessa área e as conduziu para um ponto central. Então nós temos um espelho d'água, toda a área da represa de Guarapiranga, em torno de 30 quilômetros quadrados, que está ocupando algo em torno de 25% do espelho total.

Âncora - 25% da água ali estão cobertos por algas?

Paulo Massato - Estão cobertos por plantas. Algas é diferente.As algas são microscópicas. Elas não ficam na superfície. Muitas vezes elas ficam a 15 centimetros abaixo da superfície. São de pequenas dimensões e somente uma rede muito fina é que é possível reter essas algas. Essas plantas são maiores, chamadas macrófitas. É bem diferente.

Âncora - E essas plantas serão removidas pela Sabesp?
Paulo Massato - Essas plantas precisam ser removidas. É um processo complicado, oneroso. Nós, sabemos, ainda não detemos o conhecimento - até porque não é uma função específica da Sabesp fazer a gestão da remoção dessas plantas.Só para você ter uma noção, nos Estados Unidos a proliferação dessas plantas macrófitas é relativamente comum, principalmente na costa leste, porque sao lagos que tem muita matéria orgânica. E que é responsável pela remoção lá é o Exército americano. Porque é uma atribuição difusa.

Nos estados Unidos e na Europa, eles usam também herbicidas para o controle dessas plantas, para minimizar a proliferação dessas plantas, que crescem a uma taxa de 3% ao mês. Infelizmente, no Brasil, nós não temos esses herbicidas. As mesmas empresas que produzem os herbicidas nos Estados Unidos e na Europa operam no Brasil. Mas há uma dificuldade para ter a aprovação no Ibama. Não é específico da Guarapiranga. Temos outras represas que têm esse problema de proliferação de plantas no Brasil. E estamos buscando essa tecnologia.

Âncora - Mas, Paulo, você disse que o processo é caro, complicado e difícil de ser feito. Quer dizer, então a Sabesp não está nesse momento planejando fazer isso...

Paulo Massato - Não, nos estamos junto com a Prefeitura de São Paulo, na subprefeitura do Valdir Ferreira, em conjunto com os clubes de esportes náuticos, com o Deparamento de Águas e Energia Elétrica, que está fornecendo os equipamentos para a remoção. Esse trabalho conjunto, nós recebemos uma determinação da Secretaria de Saneamento e Energia do governo do Estado de São Paulo para continuar esse trabalho.

Âncora - Esse trabalho de remoção?...

Paulo Massato - De remoção. As duas coisas. Nós estamos contratando a Universidade de Botucatu, que possui já uma competência, uma experiência muito grande nessa área, são anos de estudos que eles estão desenvolvendo. Estamos procurando desenvolver conhecimento, massa crítica de conhecimento para fazer a gestão desse corpo d'água da Guarapiranga. E estamos atuando com a Prefeitura de São Paulo, com o Daee, com a Emae para fazer a remoção mecânica dessas plantas.Agora, o volume é muito grande. Vamos imaginar: 7 quilometros quadrados dessas plantas, de área coberta são quase 700 campos de futebol.

Âncora - O coordenador náutico do Iate Clube de Santo Amaro mandou recado para a gente dizendo que já procurou a Sabesp e a resposta de vocês era de que nada poderia ser feito, até porque essas algas e essas plantas não prejudicam a qualidade da água. Então, isso mudou. A Sabesp agora resolveu que vai limpar tudo. Quer dize, não vai mais ameaçar...

Paulo Massato - Nós estamos com essa orientação de governo, da Secretaria de Saneamento...

Âncora - Vocês estão desde quando com essa orientação?

Paulo Massato - É uma orientação de uns 10 dias. Ele tem toda a razão. Não prejudica a qualidade de nossa água. A população pode ficar tranquila.Mas a secretária Dilma Pena nos orientou para que trabalhássemos para a remoção mecânica dessas plantas.

Âncora - Paulo, você disse que não prejudica a água. Mas a Sabesp tem muito mais trabalho em limpar a água quando ela vem com tudo isso, não é?

Paulo Massato - Não, porque ela é retida no espelho d'água mesmo. Não entra na nossa estaçao de tratamentod de água. Fica sempre na represa.No ponto de captação, onde nós retiramos a água, ali tem uma barreira de retenção, que faz com que as plnatas fiquem na represa.Não temos custo adicional para o tratamento dessa água.

Âncora - E isso, essa limpeza, deve começar em quanto tempo?

Paulo Massato - No próximo dia 15, teremos mais uma reunião para definir o cronograma de remoção. Temos reunião agendada com o DAEE, com a Emae, com representante da Subprefeitura e da Sabesp para acertar a remoção dessas plantas. E estamos contando também com a participação de representantes desses clubes náuticos.

Âncora - Agora, Paulo, a gente também sabe... Ontem, conversando com essa bióloga, que a gente se exime da culpa. Mas muito disso também acontece pela poluição. É esgoto que chega lá.Quer dizer, pessoas que descartam coisas na represa.E, alí, as moradias irregulares que têm por lá. E hoje também tem reportagem do O Estado de S. Paulo falando dos bairros de São Paulo que ainda despejam esgoto no Tietê. É um trabalho complicado da Sabesp em relação a isso? Qual é a culpa da Sabesp em relação a isso, na sua avaliação?

Paulo Massato - A represa de Guarapiranga é utilizada hoje para abastecimento público. E todos os especialistas internacionais, inclusive do Banco Mundial, são unânimes em afirmar que é o caso mais drástico de manancial com esse nível de ocupação urbana. Essa ocupação vem desde a década de 70, 80. Aumentou muito no final da década de 80, início de 90, com maus empresários, entre aspas, que fizeram loteamentos ilegais na região, enganando a nossa população, que comprou esses lotes, que são ilegais. Em loteamentos irregulares, a Sabesp não pode entrar porque ela estaria induzindo à ocupação irregular. Então, até 1998, houve decreto governamental que regularizou algumas dessas áreas para que a Sabesp pudesse implantar a rede de água e a rede de esgoto.

Então, estamos trabalhando nessa regularização já há um bom tempo.O grande programa que está ocorrendo agora, é um programa do governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo, para a regularização de áreas invadidas. É um investimento de algo em torno de R$ 1,2 bilhão pra fazer a reurbanização dessas áreas, implantar infra-estrutura de água, esgoto, drenagem e coleta de lixo, e retirar esse esgoto para tratamento na Estação de Tratamento de Barueri. Nós já estamos removendo um percentual bastante elevado, com a construção do emissário ao longo do rio Pinheiros,que tira todo o esgoto da margem direita do Guarapiranga e da margem esquerda.

Os municipios de Itapecerica da Serra e Embu Guaçu, que estão nas nascentes da represa Guarapiranga, nós também concluímos uma obra no ano passado. Já estamos começando a remover o esgoto através do córrego Pirajuçara e levando para tratamento em Barueri.Então, nós estamos trabalhando fortemente, Sabesp e Prefeitura de São Paulo, para retirar essa poluição.

Mas a poluição difusa, que é essa do lixo, da ocupação urbana, do desgaste dos pneus nas ruas, papel de bala que é jogado, todo esse resíduo vai parar na represa. E aí, nós - é um programa de longo prazo, claro - teremos de trabalhar coma carga difusa, em conjunto com a sociedade. Porque sem a participação da sociedade é impossível a Sabesp fazer essa gestão. Então, o foco do governo do Estado, da Sabesp e da Prefeitura de São Paulo é muito grande em cima do manancial da Guarapiranga.

Recursos de monta estão sendo aplicados na Guarapiranga, financiados pelo Banco Interamericano, pelo Banco Mundial e até mesmo pela Caixa Econômica Federal


FONTE:AGENCIA SABESP


< voltar