Sustentabilidade no campo

Data: 24/06/2010

Sustentabilidade no campo


Patrícia Ogando/ Jornalismo ECA-USP

Um crescimento claro da demanda por alimentos, concomitante ao aumento da população, à expansão do biocombustível e às modificações do clima global. Essas perspectivas apontam, segundo especialistas em economia agrária, para a necessidade pungente de ocorrer uma mudança no sistema agrícola brasileiro. De acordo com relatório de projeções agrícolas da OCDE-FAO (2010/19), o Brasil é o país que apresenta o crescimento mais acelerado de sua produção, com um aumento projetado de 40% em 2019. Este aumento também é superior a 20% em outros países como China, Índia, Rússia e Ucrânia. Mas o relatório afirma que será necessário aumentar a produção agrícola e a produtividade de maneira que os países possam competir em equivalência, assegurando que os alimentos saiam das áreas com excedentes, para áreas com deficiência.

Segundo o professor do Depto. de Economia da FEA-USP, Guilherme Leite da Silva Dias, “existe uma mudança nas linhas de comércio mundial”. Hoje, são os países emergentes, como o Brasil, os que mais crescem e comerciam. Dados da OCDE mostram que será nesses países onde a oferta e a também a demanda de alimentos mais crescerão até o ano de 2017. A estimativa é para um aumento de cerca de 40% em relação à 2003/7 para produtos como carne bovina, sementes oleaginosas, entre outros, refletindo numa maior pressão sobre o setor agrícola.

Guilherme afirma que para traçar diretrizes eficientes de como o Brasil deverá se posicionar nessa nova realidade, será preciso levar em consideração alguns aspectos determinantes para a economia em geral e particularmente a agrária. Como a crise do setor energético e as mudanças climáticas.

Nas últimas décadas, cresceu a busca por alternativas energéticas como, por exemplo, a biomassa. Desde a década de 1950, a participação dos biocombustíveis na matriz energética mundial vem aumentando e esse novo personagem compete diretamente com os alimentos por espaço no campo. O biocombustível é apontado como um dos agentes para o encarecimento dos gêneros alimentícios. As mudanças no clima, que já são sensíveis, também afetam o agronegócio. Uma pesquisa feita pela EMBRAPA no Município de Sete Lagoas, Minas Gerais, mostra que atualmente o período de estiagem é de seis meses, com a maior escassez hídrica chegando a menos 45 milímetros. Essa pesquisa aponta que em 2100 o período chegará a sete meses, alcançando 75 mm negativos.

Diante desse quadro, o professor indica uma alternativa para o agronegócio brasileiro sustentar o crescimento dos próximos anos. O sistema de pastagem sustentável aliado à rotação de lavoura. Diferente da pastagem plantada tradicional, nesse modelo, é feita a correção do solo, além de haver adubação de manutenção e rotação de lavoura em plantio direto. Tal sistema requer um maior investimento inicial, mão-de-obra especializada e monitoramento intenso. Mas o ciclo é menor, de 5 a 8 anos, contra 10 a 20 anos no método tradicional e o rendimento é muito maior. Algumas fazendas já incorporaram esse sistema. E sua expansão pode ser interessante não apenas do ponto de vista socioeconômico, como também do ponto de vista ambiental. Segundo o professor, o sistema poderia reverter, ainda que parcialmente, o arco sul de devastação da Amazônia na medida em que possibilita integrar o gado bovino, principal agente da devastação, segundo o IBGE.




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