Indústria brasileira desperta para a química verde

Data: 21/06/2010

Indústria brasileira desperta para a química verde


O estádio Soccer City, sede dos principais jogos da Copa do Mundo na África do Sul, apresenta em sua fachada mais de 30 mil painéis de cimento com fibra de vidro coloridos com pigmentos inorgânicos.

Trata-se de um produto que utiliza como matéria-prima a sucata de ferro proveniente da indústria automobilística, fabricado pela Lanxess, empresa de produtos químicos e plásticos com várias unidades no Brasil.

Curiosidade apenas? Não, se for considerado que faz parte de uma estratégia - a busca de substâncias que evitam a formação de resíduos tóxicos, não causam danos ao meio ambiente, têm como matéria-prima fontes renováveis, são mais seguros e contêm ingredientes inócuos.

"A indústria química fez muitos erros no passado e pagou caro por eles", constata o professor Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Grandes empresas como Lanxess, Rhodia e Braskem, apenas para citar algumas, hoje desenvolvem produtos que seguem essa estratégia.

Outras menores começam a despertar para essa nova tendência sustentável, batizada de química verde pelo seu criador, o americano Paul Anastas, nomeado pelo presidente Barack Obama chefe de pesquisa da Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA).

A Rhodia, por exemplo, desenvolve uma linha de solventes derivada de glicerina. Seu objetivo: substituir os glicóis éteres e seus acetatos de fonte petroquímica por outros à base de uma matéria-prima fácil de obter e inofensiva para a saúde e o meio ambiente.

O primeiro, já no mercado, é o Augeo, para o segmento de tintas e vernizes.

A Braskem aguarda o lançamento do seu polietileno produzido por desidratação do etanol da cana-de-açúcar.

Com essa matéria-prima, a empresa calcula reduzir em mais de 90% as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, em comparação à nafta do petróleo.

Saúde e meio ambiente

O plástico é a "vedete" da empresa, mas, segundo seu diretor de sustentabilidade Jorge Sotto, faz parte de uma estratégia mais ampla que envolve a melhoria dos processos produtivos e o desenvolvimento de produtos mais seguros.

Ele explica que a química verde parte do princípio de que processos químicos prejudiciais ao ambiente podem sempre ser substituídos por processos alternativos, não ou menos poluentes.

"O foco da química verde até a próxima década ainda será o investimento na segurança e na saúde ocupacional, com enfoque ambiental", constata Marcelo Kos Silveira Campos, diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

"Mas já existem iniciativas concretas no sentido de desenvolver matérias-primas de base renovável, seleção de catalisadores (acelerador de reações) e uso de solventes, que não resultem em dejetos tóxicos e de difícil tratamento."

Segurança e informação

A Abiquim propõe desenvolver um programa voluntário da indústria com informações sobre a segurança de manipulação e toxidade das substâncias, seguindo o modelo do regulamento europeu.

"São informações fundamentais para a cadeia de clientes que utilizam essas substâncias", explica Silveira Campos.

Na semana que vem, Arab Hoballah, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) participará do 13º Congresso de Atuação Responsável, em São Paulo, para trazer para a indústria brasileira o programa de gestão internacional e sustentável de substâncias químicas da ONU.


Brasil Econômico


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