Sustentabilidade urgente

Data: 14/06/2010

Sustentabilidade urgente



Por Marcela Valente*




É preciso um plano estratégico com nova visão para interromper a dramática perda de biodiversidade, “que é muito alta em nossa região”, afirma nesta entrevista exclusiva a diretora regional do Pnuma para a América Latina e o Caribe.

Buenos Aires, 14 de junho (Terramérica).- Apesar das crises financeira, climática, energética e alimentar imponham novos desafios, a bióloga colombiana Margarita Astrálaga acredita que pode ser a oportunidade para a América Latina “avançar para um desenvolvimento mais igual e sustentável”.

Astrálaga é, desde abril, a nova diretora regional para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Especialista em gestão ambiental e desenvolvimento regional, trabalhou para o governo da Colômbia e depois passou para o Programa de Oceanos e Zonas Costeiras do Pnuma, em Nairóbi.

Também colaborou com a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites), com a Convenção de Ramsar sobre os Mangues de Importância Internacional e foi diretora do Centro de Cooperação do Mediterrâneo da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Com estes antecedentes, a sociedade civil recebeu com expectativa sua nomeação. De seu novo escritório na capital do Panamá, Astrálaga respondeu às perguntas do Terramérica.

Terramérica: Quais as áreas prioritárias de ação do Pnuma regional para os próximos anos?

Margarita Astrálaga: Concentrar esforços em mudança climática, desastres e conflitos, gestão de ecossistemas, governabilidade ambiental, substâncias perigosas e eficiência de recursos. O Pnuma fortaleceu sua presença na região com a Iniciativa para a Regeneração de Ecossistemas no Haiti, a implementação do projeto “Unidos na Ação”, no Uruguai, e um novo escritório no Brasil para desenvolver uma agenda de cooperação.

Terramérica: Quais as dificuldades da América Latina em matéria de desenvolvimento sustentável?

MA: A iniquidade é uma. A região tem a maior brecha entre ricos e pobres. Também as barreiras comerciais dos países industrializados, a transferência de tecnologias inadequadas e as estruturas institucionais débeis que limitam a aplicação de políticas de desenvolvimento sustentável. As atividades produtivas que primam em nossa região são intensivas em recursos naturais e se veem afetadas pela degradação dos ecossistemas. O desenvolvimento depende da satisfação de necessidades baseadas em ecossistemas. Por isso, cremos que a sustentabilidade é primordial para o desenvolvimento da América Latina.

Terramérica: O que o Pnuma pretende fazer neste Ano Internacional da Diversidade Biológica?

MA: Esta é a região com maior diversidade biológica do planeta e tem vários países megadiversos. Possui quase metade das florestas tropicais do planeta, 33% dos mamíferos, 35% de espécies de répteis, 41% de aves e 50% de anfíbios. Temos níveis de endemismo muito altos. Por exemplo, 50% da vida vegetal do Caribe é única. O Pnuma vai impulsionar seu programa de trabalho, facilitar o diálogo regional e as ações de cooperação Sul-Sul. Estamos realizando uma série de paineis sobre ferramentas para a conservação, informes nacionais de biodiversidade e relação entre ecoturismo e comunidades indígenas. Além disso, participamos da iniciativa regional “Biodiversidade e Ecossistemas”, que prepara um informe dirigido a tomadores de decisão para fornecer-lhes dados confiáveis e argumentos contundentes sobre a urgência de investir na conservação da biodiversidade e no seu manejo sustentável. Esta iniciativa está alinhada com os objetivos do estudo global liderado pelo Pnuma, “A Economia dos Ecossistemas e a Biodiversidade”, que busca chamar a atenção para as vantagens econômicas e sociais da diversidade biológica em escala global.

Terramérica: Qual sua expectativa para a 10ª Conferência das Partes do Convênio Sobre Diversidade Biológica (COP-10), que acontecerá de 18 a 29 de outubro na cidade japonesa de Nagoya?

MA: Os governos estarão ali negociando um novo plano estratégico para as próximas décadas sobre diversidade biológica, acesso a recursos genéticos e participação justa e equitativa em seus benefícios, por isso é indispensável haver uma ativa participação de toda a região. Está claro que é necessária uma nova visão para interromper a dramática perda de biodiversidade, que é muito alta em nossa região. Para isso, é fundamental reconhecer os vínculos entre meios de subsistência e diversidade biológica e ver o importante papel desta última para enfrentar outros desafios da sustentabilidade, como mudança climática, escassez de água e demanda por produtos agrícolas.

Terramérica: Acredita que o Pnuma regional deve ter maior orçamento e influência global devido aos grandes recursos naturais da região?

MA: O Pnuma é uma agência mundial com um único programa de trabalho executado em nível global, regional e nacional. O plano estabelece o fortalecimento dos escritórios regionais, e houve grande avanço nisto. É certo que ainda resta um longo caminho para atingir plenamente esse objetivo. Sobre financiamento, é verdade que os fundos de nosso escritório são muito limitados com relação aos desafios e às necessidades da região, mas isto passa também pelo nível global, por isso é importante a comunidade internacional assegurar os recursos suficientes para as atividades encomendadas ao Pnuma.

Terramérica: Alguns afirmam que o Pnuma regional está muito voltado para México e América Central e não tanto para a América do Sul...

MA: O Pnuma trabalha em todos os países da região. Todos se beneficiam de uma ou outra forma dos programas. É certo que, dependendo dos temas, trabalha-se mais com uns do que com outros. Mas isto está diretamente relacionado com os recursos financeiros e humanos disponíveis, as prioridades e os desafios dos países, seu tamanho, tipo de ecossistema, situação geográfica, vulnerabilidade ou biodiversidade.

Terramérica: O México será sede, em novembro, da 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP-16). A América Latina terá, por isso, uma participação mais relevante na agenda sobre mudança climática?

MA: Para a região, a questão da mudança climática tem grande importância, em particular por nossa vulnerabilidade aos impactos que já afetam milhões de pessoas. O governo do México convidou a região a ter um papel primordial na cúpula e os ministros do Meio Ambiente concordaram que a COP-16 é uma grande oportunidade. Estamos certos de que esse será o caso.

* A autora é correspondente da IPS.

Crédito da imagem: Cortesia do Pnuma

Legenda: Margarita Astrálaga, diretora regional do Pnuma para a América Latina e o Caribe.

LINKS

"A prosperidade futura está nas tecnologias verdes", em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=89930

A hora da biodiversidade, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=94773

Clima contra o relógio, em espanhol
http://www.ipsnoticias.net/_focus/cclimatico/index.asp


Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.



(Envolverde/Terramérica)




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