Por um marco global sustentável
Será possível construir uma política global conforme os preceitos da sustentabilidade? Essa foi uma das questões que concluiu o debate Agenda Ambiental e Trabalho Decente: o Caminho para a Convergência, realizado no primeiro dia da Conferência Internacional 2010 do Instituto Ethos, moderado por Caio Magri. O assessor de políticas públicas do Ethos afirmou que a instituição aceita esse desafio, que deve ter a participação de todos os segmentos governo, iniciativa privada e sociedade.
O sociólogo Magri, também secretário-executivo do Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção, reafirmou, com base nas declarações dos participantes do encontro realizado na quarta-feira (12), a necessidade de se provocar uma agenda política para que órgãos multilaterais se comprometam a refletir sobre o assunto. Para ele, isso seria uma terceira via, porém distinta das estabelecidas pelo Fórum Social Mundial e pelo Fórum Econômico Mundial. Seria uma provocação à agenda política internacional, com novos marcos regulatórios.
A proposta surgiu devido às colocações no mesmo sentido do diretor executivo do Blue Green Alliance (BGA), David Foster; do presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Única), Marcos Sawaya Jank; e do coordenador dos Programas de Trabalho Decente e de Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho no Brasil (OIT), Paulo Sérgio Muçouçah.
A organização de Foster une oito sindicatos e duas ONGs ambientalistas com o objetivo de expandir a quantidade e a qualidade dos empregos verdes nos Estados Unidos. Ele defende uma mudança no sistema econômico mundial. É preciso ter um sistema mais justo. O sistema global de comércio não é sustentável, afirma. Para ele, que foi diretor do Sindicato dos Siderúrgicos nos EUA, é necessário implantar outro sistema regulatório para economia do século 21, a exemplo como foi estabelecido com o New Deal, na crise do período da Depressão de 1929. Dessa forma, a economia do século 21 seria mais verde e mais justa que a do século 20, acredita.
O representante da Única concorda com a aplicação dos princípios do tripple bottom line (que considera os aspectos social, ambiental e econômico). E cita como exemplo um jogo. Só funciona se tiver um juiz e regras. Se não, vale a lei do mais forte. Ressalta que, no caso da cana, a indústria está conseguindo praticar os três pilares básicos da sustentabilidade. O impacto ambiental está sendo diminuído com o corte mecanizado, sem queima, tendo como resultado mais produtividade e melhora das condições de vida dos trabalhadores. E confessou: as mudanças aconteceram porque toda a cadeia foi forçada a isso. Queimamos 500 anos, começamos a não queimar há 10 anos. Na hora que se puxa, as coisas acontecem, constatou.
E mais: Jank disse concordar com o zoneamento da cana proposto pelo governo, com permissão para o plantio de cana em apenas 8% do território. Ele contabiliza que, no passado, obtinha-se três mil litros de álcool por hectare. Hoje, o rendimento é 8 mil litros na mesma área e há tecnologia disponível para se chegar a 14 mil litros. Em São Paulo, 55% da lavoura já está mecanizada, ou seja, a cana não é queimada, evitando o lançamento de grande quantidade. Jank lembra que há três anos não se colocava fogo em apenas 30% da produção. Ele adianta que a meta é que, até 2014, 95% da produção de cana seja colhida pelas máquinas.
Já Paulo Muçouçah acha necessário alterar os padrões de consumo, com uma grande disparidade social, o que gera conflitos enormes. A China mal consegue que sua população coma, alfineta. E cita ainda o caso do aumento da população de carros. Vai ter que haver alguma regulamentação nacional ou internacional . Ele acredita que somente uma mudança de valores pode modificar a situação, pois o planeta não suporta mais o crescimento econômico a qualquer preço. A publicidade precisa imprimir essa nova consciência. Ele ainda combate a produção de produtos de pouca durabilidade, de obsolescência programada. Tudo isso precisa ter uma regulação planetária.
PLURALE
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