Via oral e coinfecção são as novas formas de transmissão da Doença de Chagas

Data: 13/05/2010

Via oral e coinfecção são as novas formas de transmissão da Doença de Chagas


Cem anos após a descoberta da doença de Chagas, muita coisa mudou no Brasil com relação a transmissão do parasita Trypanosoma cruzi pelo inseto conhecido popularmente como barbeiro, porém pouco se avançou na descoberta de medicamentos efetivos para a cura da doença. A transmissão que, antigamente se dava pelo contato direto com as fezes do inseto ou por transfusão de sangue, hoje se dá mais por via oral, pelo consumo de alimentos naturais contaminados, como o açaí ou caldo de cana. Foi isto que o médico e pesquisador do Grupo de Estudos em Doença de Chagas (GEDoCh) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Eros Antonio de Almeida, disse para o público presente à palestra “100 anos da doença de Chagas, o que mudou?” realizada nesta quarta-feira (12) no anfiteatro do Departamento de Clínica Médica da FCM.

De acordo com Eros, até algumas décadas atrás, a transmissão vetorial – direta – e transfusional – via sangue – era responsável por 100 mil casos novos de doença de Chagas por ano. Hoje, após anos de controle da doença e vigilância epidemiológica dos bancos de sangue, esse número não passa de mil casos ao ano. “A via oral, que é mais conhecida hoje na mídia, passou a ser a principal forma de contágio e ela se dá mais na região norte do país, pois eles consomem mais produtos naturais, como o açaí. O ideal é pasteurizar o alimento, pois o Trypanosoma cruzi é sensível ao calor” esclareceu Eros.

O Grupo de Estudos em doença de Chagas trabalha há 35 anos no desenvolvimento de pesquisas clínicas e atenção assistencial aos pacientes de doença de Chagas de Campinas e região. Uma das linhas de pesquisa em andamento é o da coinfecção entre doença de Chagas e aids. Dados levantados pelo GEDoCH identificaram 262 casos publicados na literatura, mas pela estimativa do grupo deve haver aproximadamente 10 mil chagásicos portadores do vírus HIV no Brasil. “Muitos casos são subdiagnosticados, pois o paciente com doença de Chagas adquire o vírus da aids depois. O contrário, até agora, nós ainda não identificamos. Essa pesquisa é única no mundo”, disse Eros, que é presidente da Rede Brasileira de Estudos e Pesquisa na Co-infecção Tripanossoma cruzi hiv e já divulgou as informações em Congressos na Europa e na América Latina.

Por se tratar de uma doença evolutiva no qual muitos pacientes se encontram no quadro indeterminado da doença, a grande expectativa é a descoberta de um medicamento que acabe com a parasita. Entretanto, em 100 anos, apenas um medicamento é receitado pelos médicos para os doentes na fase aguda da doença, inclusive em casos de coinfecção pelo hiv. “Na fase aguda da doença, 50% dos pacientes têm chance de reduzir a ação do parasita. Quanto mais próximo da infecção o paciente tomar o medicamento, mais chances de cura ele tem. Em outros casos, transplante de coração e cirurgia do aparelho digestivo podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, disse.

Sobre a doença de Chagas
A Doença de Chagas foi identificada em 1909 pelo médico sanitarista brasileiro Carlos Chagas. A enfermidade é causada pelo Trypanosoma cruzi, que é transmitido com maior frequência ao homem pelas fezes do inseto conhecido popularmente como barbeiro. O nome do protozoário é uma homenagem de Carlos Chagas ao também sanitarista e epidemiologista Oswaldo Cruz. A transmissão se dá quando a pessoa coça o local da picada e as fezes eliminadas pelo inseto, contendo o parasito, entram em contato com a pele lesada ou com a mucosa.

A transmissão também pode ocorrer por intermédio da transfusão de sangue contaminado ou durante a gravidez, de mãe para filho. Recentemente, foi identificada no Brasil a transmissão oral da doença, por meio da ingestão de caldo de cana e suco de açaí. Os sintomas mais comuns apresentados pelos chagásicos são febre, inflamação e dor nos gânglios, inchaço nos olhos e aumento do baço, fígado e coração. Na fase crônica, a enfermidade pode levar à morte. O diagnóstico pode ser feito a partir de um simples exame de sangue.O tratamento da Doença de Chagas é medicamentoso e deve ser prescrito e acompanhado pelo médico. Na etapa aguda, os remédios costumam proporcionar resultados relativamente satisfatórios contra o parasito, mas causam importantes efeitos colaterais ao doente. Na fase crônica, eles não são eficazes. A terapia, nesse caso, fica voltada ao controle dos sintomas, na tentativa de evitar complicações ao paciente. Como ainda não existe cura para o mal, as medidas preventivas ainda são a melhor alternativa para combater a doença.

Em 2006, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a receber a Certificação Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas pelo Triatoma infestans, conferida pela Organização Pan-Americana da Saúde. A certificação representa somente a interrupção momentânea da transmissão da doença especificamente pelo barbeiro, mas não a sua erradicação. O barbeiro costuma viver em ambientes silvestres ou nas frestas das paredes sem revestimento, principalmente de casas simples. Como se alimentam de sangue, alojam-se com frequência em locais onde possam obter alimento com facilidade. Os barbeiros são insetos largamente difundidos nas Américas, sendo encontrados desde o sul dos Estados Unidos até o sul da Argentina. No Brasil, habitam em maior número as regiões rurais do Norte e Nordeste.

GEDOCH – Grupo de Estudos em Doença de Chagas
Fones: 19-3521-7491, 3521-7880




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