Uma campanha de ciência e inovação para fazer a Europa melhor em 2030

Data: 06/05/2010

Uma campanha de ciência e inovação para fazer a Europa melhor em 2030


Marcos Moura, Editor do Nós da Comunicação


É possível criarmos um ambiente em que 14 grandes especialistas exponham a sua opinião, o público escolha a que considera a melhor delas e os políticos demonstrem interesse em debatê-la? Sim, é possível. E os espanhóis mostraram como.

Está em curso a votação para a escolha de ‘qual desafio você gostaria que fosse realidade em 2030?’, principal campanha do projeto ‘Agenda Cidadã de Ciência e Inovação’, uma ideia da agência de comunicação Sinergia Value, que tornou-se viável graças ao apoio do Ministério da Ciência e Inovação da Espanha (MICINN) e da Fundação Espanhola para Ciência e Tecnologia (FECYT).

O pontapé inicial para o projeto, que visa uma Europa melhor daqui a 20 anos, foi dado com a escolha de 14 profissionais renomados, de campos variados como Economia, Medicina, Física, Química, Neurociência, Arquitetura e Gastronomia. Isso mesmo Gastronomia, com a participação do estrelado chef espanhol Ferran Adrià.

Os desafios impostos pelos especialistas estão disponíveis em pequenos vídeos no site da campanha. O internauta pode votar naquele que mais o agrada. O escolhido será encaminhado ao Parlamento Europeu, onde será discutido pelos deputados.

Ainda faltam 22 dias para o fim da votação e cerca de 14 mil internautas já deram sua opinião. O desafio que vai se destacando na campanha até o momento foi proposto pela economista espanhola Paulina Beato, 79 anos. Ela espera um melhor armazenamento de formas renováveis de energia, como a solar e a eólica (vento). “As energias renováveis não são contínuas, mas usamos continuamente energia. Só diminuiremos o uso de gases causadores do efeito estufa, quando pudermos armazenar de forma eficiente as energias renováveis”, explica em seu vídeo.

A maioria das propostas concentra-se em questões ligadas à saúde, ao meio ambiente, à educação e ao urbanismo. Ferran Adrià, por exemplo, acha um absurdo que não exista a disciplina ‘Alimentação Saudável’ nas escolas. “Nos alimentamos três vezes ao dia. São 40% do nosso tempo livre e é inacreditável que isso não seja ensinado nas escolas”, defende o catalão.



Confira abaixo as 14 sugestões para melhorar a Europa de 2030:

Paulina Beato, 79 anos, espanhola, mestre em Competição e Regulação de Mercado, presidenta do Comitê de Auditoria da Repsol-YPF. Foi economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Defende o armazenamento eficiente de formas renováveis de energia, sobretudo solar e eólica (vento). “As energias renováveis não são contínuas, mas usamos continuamente energia. Só diminuiremos o uso de gases causadores do efeito estufa, quando pudermos armazenar de forma eficiente as energias renováveis”. 2.739 votos


Margarita Salas Falgueras, 72, espanhola, pós-doutora em Bioquímica e pesquisadora de Genética Molecular. É precursora da Biotecnologia. Defende o uso da medicina personalizada, a partir do perfil genético de cada paciente. “O mais importante é definir o perfil genético de cada paciente e confrontá-lo com as bases genéticas das doenças. Isso é medicina personalizada”. 2.509 votos


Rafael Matesanz, 61, médico espanhol, doutor em Nefrologia. Defende maior número de transplantes com órgãos artificiais. "O ideal quando uma doença ou um trauma destrói um rim, fígado, coração é trocá-lo por outro. E isso poderia ser mais fácil se fossem produzidos em laboratório, de forma sintética ou a partir de uma célula-mãe. Essa é uma das principais curas que a medicina procura e acredito que estamos perto dela". 2.127 votos


Eleanor Maguire, 40, neurocientista inglesa. Defende um melhor entendimento do cérebro e assim a melhora da vida de todas as pessoas. “O grande desafio é transportar a experiência da neurociência para outros campos, como o urbanismo, a educação e o transporte. A vida das pessoas seria muito mais eficaz se elas se locomovessem e se comunicassem melhor”. 1.108 votos


Jane Goodall, 76, inglesa, doutora em Etologia, disciplina que estuda o comportamento animal. Defende um sistema agrícola menos agressivo ao meio ambiente, sem o uso de pesticidas e fertilizantes. “O grande desafio é fazer agricultura sem envenenar o meio ambiente e os alimentos que consumimos”. 914 votos


Javier Tejada, 62, doutor em Ciências Físicas. Defende o uso de robôs para auxiliar nossa vida. "Os robôs podem nos ajudar no trabalho. Podem nos ajudar a ouvir o que não ouvimos, a ver o que não vemos, a viver melhor, inclusive conquistando o espaço". 828 votos


Sir Norman Foster, 75, arquiteto inglês. Defende a construção de cidades mais seguras, limpas, cômodas e acessíveis. “Cada vez mais pessoas vivem em cidades inabitáveis. Precisamos criar cidades sustentáveis e atraentes. As que já existem, também terão de mudar, terão de se transformar”. 711 votos


Frank Biancheri, 49, cientista político francês. Criou há 22 anos o programa Erasmus, que permite todos os anos a milhões de estudantes realizarem parte de sua graduação em outros países da União Europeia. Também idealizou o Newropeans, o primeiro partido europeu. Defende que a tecnologia seja utilizada para vencer as barreiras linguísticas no continente. “Umberto Eco disse que o único idioma possível na Europa é a tradução. Precisamos usar a tecnologia para que cada europeu possa em um clique na internet ter um texto escrito e falado com 99% de precisão da língua de origem”. 673 votos


Juan Ignacio Cirac, 45, físico espanhol, doutor em 'Ótica e informação quântica'. Defende a unificação das teorias da Física. "Durante o século passado foram descobertas duas teorias que revolucionaram nossa forma de pensar. A Teoria da Relatividade, de Einstein, que falava das coisas grandes, os planetas e as galáxias; e a Física Quântica, que nos mostra como se comporta o mundo microscópico. Creio que podemos ter uma teoria que englobe as duas, o que pode acelerar as descobertas". 616 votos


Adolf Goetzberger, 82, alemão, doutor em Física. Defende a redução do consumo de matérias-primas. “Estou convencido de que o crescimento econômico baseado em consumo contínuo de recursos naturais finitos, não pode ser sustentado pelo planeta. A Europa precisa de um plano para gerar uma sociedade menos materialista”. 558 votos


Ferran Adriá, 48, chef espanhol, três estrelas no Guia Michelin, por comandar o restaurante ‘El Bulli’, em Costa Brava (ESP). Defende que ‘Alimentação saudável’ vire uma disciplina escolar. “Nos alimentamos três vezes ao dia. São 40% do nosso tempo livre e é inacreditável que isso não seja ensinado nas escolas”. 378 votos


Mati Makkonen, 58, finlandês, engenheiro elétrico e mestre em Ciências. Maior responsável pelo SMS ter virado uma ferramenta útil na comunicação e nos negócios. Defende o uso dos avanços tecnológicos em prol da educação. “O desenvolvimento tecnológico é inevitável e abre possibilidades enormes. O perigo é não repartir esse benefício de maneira justa”. 375 votos


Karlheinz Brandenburg, 56, alemão, doutor em Engenharia Eletrônica. Inventou o sistema de códigos que possibilitou a criação do MP3. Defende que a tecnologia seja usada para ajudar a vida dos idosos. “Temos cada vez mais idosos no mundo e é fundamental usar tecnologias como a realidade aumentada para resolver problemas de audição e visão, fazendo com que tenham uma vida normal”. 344 votos


Anna Cabré i Pla, 67, geógrafa catalã, doutora em Demografia, é diretora do Centro de Estudos Demográficos da Universidade Autônoma de Barcelona desde 1984. Defende o redesenho do sistema público de proteção social. “Creio que é factível um sistema público de pensões, suficiente e sustentável, que não implique um aumento populacional”. 302 votos.


O número de votos é referente à manhã de terça-feira, 4 de maio de 2010.

Com informações do jornal espanhol ‘El Pais’.

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