TERRAMÉRICA - O grande olho do sul em busca de vida extraterrestre
Santiago, 3 de maio (Terramérica).- A instalação na região de Antofagasta do maior telescópio do mundo pode converter o Chile segundo acadêmicos em líder na pesquisa astronômica e permitir o avanço de outras disciplinas científicas. O Monte Armazones, de 3.060 metros de altura em pleno deserto de Atacama, foi escolhido pelo Observatório Europeu Austral (ESO) para instalar sua mais recente joia destinada a encontrar, graças à sua capacidade de detectar atmosferas, planetas fora do Sistema Solar que abriguem vida.
Trata-se do Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT), que será ótico infravermelho, terá um espelho primário de 42 metros de diâmetro e custo de US$ 1,5 bilhão. Até o final desta década, o Chile concentrará um grande número de instrumentos de observação e se transformará em um grande centro astronômico mundial, previu ao Terramérica o diretor do Departamento de Astronomia da Faculdade de Ciências Físicas e Matemáticas da Universidade do Chile, Mario Hamuy. Seus trabalhos, e de outros astrônomos chilenos e estrangeiros no campo das estrelas supernovas, ajudaram na descoberta da expansão acelerada do universo.
A responsável por esse fenômeno é a chamada energia escura, que constitui 70% do conteúdo do universo. O E-ELT poderia ter um papel crucial em determinar a origem desta misteriosa matéria, disse o cientista chileno. Em um comunicado divulgado no dia 26 de abril, porta-vozes do ESO disseram que vários fatores jogaram a favor da proposta chilena, que deixou pelo caminho a da ilha espanhola de La Palma. Principalmente a qualidade astronômica de seu céu, com mais de 320 noites claras por ano e ausência de poluição luminosa.
Também foram considerados custos de construção e operação, e as sinergias com as demais instalações do ESO no norte chileno, os observatórios Paranal e La Silla, e o projeto Alma (Grande Conjunto Milimétrico/Submilimétrico de Atacama), que a entidade criada por 14 países europeus terminará de construir em 2012, junto com outras instituições. Além do Monte Armazones, a 1.200 quilômetros de Santiago, o governo chileno ofereceu outros três lugares para receber o maior olho do mundo no céu, que entrará em operação em 2018.
No país também existem os observatórios Cerro Tololo, operado por um consórcio de universidades privadas norte-americanas, e Las Campanas, da também privada Carnegie Institution for Science, com sede em Washington. A comunidade astronômica nacional se desenvolveu muito bem nos últimos 15 anos, especialmente porque temos acesso a 10% do tempo de observação de todos os telescópios estrangeiros instalados no país, explicou ao Terramérica o presidente da Sociedade Chilena de Astronomia, Leopoldo Infante.
O Chile, com 17 milhões de habitantes, passou, nas últimas décadas, de 20 para uma centena hoje, que publicam suas pesquisas nos mais prestigiados meios de comunicação científicos do mundo. O Estado tem a oportunidade de transformar o país em líder na pesquisa astronômica com um modesto investimento, destacou Hamuy. Para isso deveria focar recursos para o projeto e construção de instrumentos de observação próprios, sugeriu.
Falta entrarmos na fase da transferência tecnológica, para a qual precisamos de incentivos estatais, concordou Infante, também diretor do Centro de Astroengenharia da Universidade Católica, que participou da descoberta da galáxia mais afastada da Terra. O governo parece ter captado a mensagem: a presidente da governamental Comissão Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, María Elena Boisier, assegurou que está sendo implantado um plano de fundos para o desenvolvimento de instrumentos e áreas como a engenharia e as tecnologias da informação que estão associadas ao E-ELT.
Para o presidente da Academia Chilena de Ciências, Juan Asenjo, os êxitos no campo astronômico deveriam extrapolar para outras disciplinas científicas, como geofísica, física experimental e geologia. A sociedade chilena, os políticos e empresários não têm ideia de que no Chile se faz ciência de primeiro nível mundial, e não existe o conceito de que os desenvolvimentos científicos levam a uma melhor qualidade de vida, acrescentou Asenjo, ganhador em 2004 do Prêmio Nacional de Ciências Aplicadas e Tecnológicas. Esta percepção, a seu ver, impede a destinação de maiores recursos a essa área.
Asenjo falou ao Terramérica sobre o trabalho dos especialistas em sismologia chilenos, que na década de 90 previram a ocorrência de um devastador terremoto nas regiões centro e sul do país, tal como ocorreu em 27 de fevereiro deste ano. Esses trabalhos nunca tiveram a difusão nem o impacto que mereciam apesar das graves consequências desses fenômenos. O presidente chileno, Sebastián Piñera, prometeu elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento do atual 0,7% do produto interno bruto para 1,2% até o final de seu mandato, em 2014.
* A autora é correspondente da IPS.
Crédito da imagem: Gentileza do Observatório Europeu Austral
Legenda: Maquete projetada em computação mostra como será o telescópio E-ELT.
LINKS
Radiotelescópio promete revelar origem do universo
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=399
Estrelas, sonhos e dúvidas, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=87470
Um globo para sondar a Internet, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=95089
Países em desenvolvimento premiam físico colombiano, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=38560
ESO, em espanhol, em espanhol e inglês
http://www.eso.cl
Departamento de Astronomia da Universidade do Chile, em espanhol
http://www.das.uchile.cl
Sociedade Chilena de Astronomia, em espanhol
http://www.sochias.cl
Academia Chilena de Ciências, em espanhol
http://www.academia-ciencias.cl
Conicyt, em espanhol
http://www.conicyt.cl
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)
< voltar