A natureza como legado no Ano Internacional da Biodiversidade

Data: 29/04/2010

A natureza como legado no Ano Internacional da Biodiversidade


Enquanto o setor econômico entra em 2010 cheio de expectativas de crescimento, nós ambientalistas, iniciamos 2010, ano eleito pelas Nações Unidas como Ano Internacional da Biodiversidade, com uma frustração. O tão esperado acordo mundial com metas de redução dos gases do efeito estufa que seria definido durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15), em dezembro na Dinamarca, não aconteceu.
Com isso ficam as perguntas. O que ainda precisa acontecer para que os líderes mundiais percebam a gravidade do assunto? Para que compreendam que não adianta desenvolvimento econômico se não nos dedicarmos à conservação da natureza?

É urgente tomarmos consciência de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à conservação da natureza. O mundo está no limite. Os efeitos das mudanças climáticas são sentidos em todos os continentes. A definição de metas de redução das emissões dos gases do efeito estufa deveria ser prioridade. Em vez de adiá-las, os líderes mundiais deveriam arregaçar as mangas em busca de alternativas para reduzir as emissões e também direcionar investimentos e pesquisas para nos prepararmos para os efeitos do aquecimento global.

Trabalho com conservação da natureza há 20 anos e ainda tento entender a reação das pessoas quando falamos em proteger o meio ambiente. A impressão é que, ao defender que não se destrua a biodiversidade, estamos tirando algo de alguém. O mais estranho é que nossa sociedade não se sente privada quando a natureza é suprimida para dar lugar a um empreendimento de finalidade particular.


Por isso, parabéns às Nações Unidas e à Convenção da Diversidade Biológica por eleger 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Ter um ano dedicado ao tema é o ideal para ampliar o entendimento da sociedade sobre como a biodiversidade presente na natureza interfere diretamente nas coisas simples do cotidiano das pessoas e de como sua carência, acelerada pelas mudanças climáticas que provocamos, pode ampliar a fome, pobreza, falta de segurança e conflitos.


Trabalhemos para que isto aconteça, a exemplo do que fizemos em 2001, quando comemoramos o Ano Internacional do Voluntariado. Foi um ano decisivo, que estimulou e despertou a sociedade em benefício do voluntariado no Brasil, onde esta prática ainda era incipiente. Menos de uma década depois, temos no Brasil um movimento organizado e crescente, com um grande impacto positivo no capital social do país.


Vamos mostrar que somos de fato uma espécie inteligente e desenvolvida, agindo de forma diferente das várias civilizações que se extinguiram no passado devido à destruição da natureza da qual dependiam.


Vamos nos mobilizar pela conservação da natureza e, ao mesmo tempo, estar atentos para não cairmos em ações vazias, que não gerem resultados concretos. As alterações climáticas que temos presenciado trouxeram o assunto meio ambiente à tona, sobretudo num ano que também é de renovação eleitoral. Sabemos que na disputa por votos, vale qualquer promessa.

Precisamos eleger governantes e decisores ousados que adotem metas efetivas de redução de emissões de gases de efeito estufa e dos impactos ao meio ambiente.


A natureza conservada é um dos principais bens que podemos deixar aos nossos filhos. É um dos maiores legados às futuras gerações. É preciso acreditar, com vigor, que essa é uma das causas mais relevantes para o mundo. Nós, da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, damos a nossa contribuição tanto por meio de ações próprias, como a conservação de áreas naturais e disseminação de conhecimento, quanto por meio do financiamento de projetos de terceiros. Além disso, atuamos politicamente, influenciando governos, empresários e sociedade sobre a urgência e a importância que a causa exige.


O Brasil possui uma das maiores diversidade biológica do planeta, contando com pelo menos 20% do número total de espécies existentes no mundo. Não podemos desperdiçar esse patrimônio. Pelo contrário, temos que usá-lo ao favor de nosso futuro.


(*) Malu Nunes é engenheira florestal, mestre em Conservação da Natureza

Plurale


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