Publicação traz o panorama da ação social das empresas

Data: 26/04/2010

Publicação traz o panorama da ação social das empresas


“Tem que tomar muito cuidado na análise dessas avaliações para não virar instrumento punitivo, que gera resistência. Ao invés disso, precisa ser considerado um instrumento de gestão”, afirma Anna Peliano, socióloga, especialista em políticas públicas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Durante o 6º Congresso Gife sobre Investimento Social Privado, que aconteceu entre os dias 7 e 9/04, foi lançado o estudo Cultivando os Frutos Sociais: A Importância da Avaliação nas Ações das Empresas, no Rio de Janeiro.

Desde o final da década de 1990, o Ipea acompanha o cenário social com uma série de estudos e pesquisas relacionadas à participação do setor privado em atividades voltadas para as comunidades mais pobres. Em 2002, foi divulgada a primeira Pesquisa Ação Social das Empresas (Pase), que teve como objetivo o de investigar o envolvimento voluntário das empresas na área social, as características de suas intervenções e a magnitude deste atendimento. Nesse estudo apontou que 59% dos estabelecimentos empresariais consultados do País desenvolvem atividades sociais em benefício das comunidades de baixa renda, alocando recursos na ordem de R$ 7,8 bilhões. Entre 2004 e 2006, voltou-se a campo para atualização de dados que demonstrou que houve um aumento de 10 pontos no percentual de empresas que atuam nesse setor: de 59% para 69%. Nesse crescimento, observou-se uma queda no volume de recursos investidos para R$ 5,5 bilhões, devido a um recuo exclusiva na região Sudeste.

A publicação pretende responder as seguintes questões: As empresas no Brasil avaliam suas ações sociais? Se sim, que empresas avaliam estas ações? Por que motivos? Que ações são avaliadas? Como são avaliadas? Que uso as empresas fazem dos resultados? O que se pode aprender com essas experiências?

Ao longo das 90 páginas, o estudo pretende esclarecer os questionamentos acima. Seguindo o conceito de que avaliação é “um processo de aquisição sistemático de informações que permitem qualificar, com base na aplicação de critérios as atividades previstas e atingiu os objetivos específicos esperados”. Observou-se que 16% do universo das empresas que atuam no social (95 mil estabelecimentos) declararam possuir algum tipo de avaliação documentada das ações sociais realizadas.

A pesquisadora esclarece que a maioria das empresas consultadas é majoritariamente formada por microempresas, com menos de 10 empregados, e 68% das 800 mil empresas são do comércio, com empregados que fazem pequenas doações acham que não valem a pena avaliá-las. “Partimos do pressuposto que nem sempre a avaliação é externa e estruturada. Muitas vezes a percepção de que se sabe o que está acontecendo na ponta, com prestação de contas e documentação. Isso pode ser entendido como avaliação. Por que tão poucas empresas atuam? Isso custa caro e leva tempo. Muitas vezes a motivação que leva as empresas atuarem é a política de boa vizinhança, para se relacionar bem com a comunidade em seu em torno”, pontua.

O estudo também constatou que o interesse pelas avaliações muda segundo a região geográfica, o setor de atividade e o porte das empresas. Com dados extraídos do Pase, notou-se que o Sudeste foi a região que proporcionalmente mais avaliou suas ações: um quarto das empresas ali sediadas declarou possuir avaliação documentada da ação social desenvolvida para a comunidade. A região que menos se destacou nesse quesito foi a Centro-Oeste, com 5%. “Acredito que no Sudeste tem uma tradição maior nesse setor e pode-se atribuir a maior divulgação”, avalia a pesquisadora.

Anna explicou que era de se esperar as grandes empresas teriam uma participação maior na avaliação. “Uma questão que podemos atribuir e que também é uma hipótese é que as grandes empresas já sabem mais o que é uma avaliação documentada e foram precisas na informação, enquanto pequenas acham que, não deixam de ser certo ponto, saber o que está acontecendo na ponta e ter prestação de contas. Quando fomos para campo, optamos fazer estudos de caso em algumas delas, em São Paulo, em Brasília, no Rio de Janeiro. Resolvemos fazer estudos de caso em 18 grandes empresas públicas e privadas, reconhecidas e com uma avaliação divulgada”.

Iluminar dentro da empresa

A socióloga revelou que essas empresas avaliam para fazer parcerias, buscar apoios, replicar experiências e até legitimar sua atuação. “Elas têm percepção da sua importância para buscar financiamento, apoios e parcerias. Essas informações sobre andamentos das ações, seus resultados, seus impactos podem servir para reformulação”, afirma.

A grande novidade dessa pesquisa, segundo a pesquisadora, é o uso dessa avaliação. Essas organizações podem ajustar procedimentos, promover correção de rotas, usar nas decisões, na definição de novos programas, na prestação de contas dos resultados, e até inserir no plano de comunicação da empresa. Outro ponto importante foi a dificuldade para construir essa avaliação. “Há uma dificuldade para construir os objetivos dessa avaliação e sobre o que vamos buscar responder. Uma avaliação precisa envolver as diversas partes interessadas, não é uma decisão apenas do gestor. Ela tem que ouvir os executores, os beneficiários, entender a relação desse estudo e como eles vão participar dessa avaliação. Muitas vezes um gestor quer saber uma informação que não exatamente interessa quem está na ponta. Por isso, é recomendável desenvolver um modelo simples, oportuno e de custos viáveis”, conclui.

Anna observou que há uma resistência para avaliação das ações. “Costumava-se dizer que a avaliação é um luxo ou um risco. Um luxo porque gasta dinheiro, toma tempo, um fator escasso nesses grupos de gestores. E nem sempre são bem utilizados. Um risco, porque quando saem os problemas há o risco de corte de recurso da iniciativa e da equipe de gestores”, reforça.

(Setor 3)




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